No dia 7 de outubro de 2023, o Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, iniciou uma das operações militares e políticas de maior sucesso da história moderna: o Dilúvio de al-Aqsa. De princípio, ela aparentava apenas como um ataque por terra saindo da Faixa de Gaza ao território no entorno com o objetivo de impor derrotas em bases militares e também capturar israelenses para usá-los de moeda de troca para os cinco mil prisioneiros palestinos. No entanto, muito rapidamente ela se tornou muito mais que isso. O Dilúvio de al-Aqsa, ao pôr em xeque o centro da dominação imperialista no Oriente Médio, o Estado sionista, atingiu toda a região como um furacão.
Nesse sentido, desde o começo, a operação já foi um sucesso. No próprio dia 7 de outubro, o jornal israelense Haaretz divulgou um artigo afirmando que a derrota israelense já havia acontecido e já era uma catástrofe. Pouco depois, o mesmo jornal afirmou que “Israel” possuia quatro opções para atuar como resposta ao ataque, todas elas terríveis. Elas seriam o acordo com o Hamas, ou seja, declarara a derrota de imediato; a invasão da Faixa de Gaza, algo que seria de difícil vitória e ficou comprovado pouco tempo depois; as outras duas eram manter um cerco genocida ou um bombardeio genocida. “Israel” escolheu ambas as últimas opções.
A primeira derrota aconteceu no dia 7 de outubro. Neste dia, o Hamas provou a fraqueza militar israelense, provou que seu exército pintado de todo-poderoso pela poderosa propaganda israelense, a Hasbará, não passava de uma farsa. Mas poucos dias depois, a segunda derrota de “Israel” chegaria, a própria falência da Hasbará. Esse aparato gigantesco de propaganda que custou bilhões de dólares e décadas para ser organizado se deparou com a falência da opinião pública sobre “Israel”. Afinal, o genocídio que os israelenses estavam fazendo em Gaza começou a ser divulgado nas redes sociais aos montes, ao mesmo tempo em que surgiu um movimento mundial da classe operária em prol da Palestina. No Oriente Médio, na Europa, nos EUA, na América Latina e na África, o povo se levantou contra o genocídio. “Israel”, que se mostrava como a vítima do terrorismo, foi vista por todos, à luz do dia, como sendo o nazismo do século XXI.
A terceira derrota chegou no norte, no dia 8 de outubro. O Hesbolá iniciou sua guerra de baixa intensidade em apoio a Gaza. O resultado foi a demonstração de que “Israel” é incapaz de vencer o Hesbolá. Este, por sua vez, fez com que 250 mil israelenses fugissem do norte do país. O sionismo, que havia ocupado o sul do Líbano por 22 anos, 1978-2000, recebeu o troco. O Hesbolá impôs a sua força para além da fronteira, para muitos analistas, a organização tem até mesmo a capacidade de invadir e tomar o norte de “Israel” caso a situação política exija. E isso poria em risco também a ocupação militar das Colinas de Golã, um território da Síria ocupado em 1967.
Após inundar o sionismo, o dilúvio chega nos EUA
O que poucos previram era o tamanho da internacionalização do conflito lançado pelo Hamas em outubro. O golpe contra “Israel” foi imediato, mas o golpe contra os EUA não tardaria a chegar. No dia 17 de outubro, a resistência iraquiana, as Forças de Mobilização Popular, passaram a atacar as bases norte-americanas. Até a terça-feira (6/2), o número de ataque alcançou a impressionante marca de 169. E não só no Iraque, mas também na Síria e posteriormente até mesmo dentro de “Israel”. O que começou com a ação dos grupos armados veio a se tornar a própria ação do governo iraquiano.
Se de princípio o governo com sua política moderada condenou os ataques realizados pelas FMP, bastou Bagdá ser bombardeada pelos EUA novamente que o jogo virou. O imperialismo havia invadido o Iraque em 2003 e destruído completamente o país. 20 anos depois, nem mesmo um governo nacionalista moderado aceitaria essa política. O governo iraquiano mandou as tropas norte-americanas se retirarem mais uma vez, e foi ignorado. Então começou uma guerra econômica com os EUA: colocou-se na ordem do dia o abandono do dólar em diversos bancos. Com o bombardeio do dia 3 de fevereiro, o governo se aproximou ainda mais da posição das FMP. No Iraque, se os EUA não agem, são bombardeados. Se agem, se tornam ainda mais inimigos do governo. Não há saída.
Mas talvez a maior derrota de todas tenha acontecido no Iêmen. O país mais pobre do Oriente Médio tomou a atenção do mundo inteiro. O Ansar Alá, também chamados de Hutis, havia acabado de ser vitorioso em uma guerra de libertação nacional que durou oito anos. O acordo de paz estava sendo discutido em setembro de 2023, no mês seguinte, estourou a crise. O Iêmen, de princípio, tentou atacar “Israel” assim como os iraquianos, mas a distância não permitiu. Foi em novembro que suas ações mudaram a correlação de forças, quando começaram a atacar navios israelenses no Mar Vermelho.
O que o Iêmen fez foi mostrar ao mundo inteiro que o imperialismo não consegue nem impor sua vontade contra um dos países mais pobres do mundo caso ele de fato seja independente. Os EUA tentaram reagir, bombardearam o país em conjunto com a Inglaterra. A situação só piorou, o que era um pequeno bloqueio contra “Israel”, tornou-se um bloqueio muito maior devido aos confrontos militares. O que aconteceu com o Ansar Alá? Tornou-se mais popular do que nunca. Os comandantes rebeldes apoiados pela Arábia Saudita agora desertam para se unir ao Ansar Alá e apoiar a Palestina.
“Israel” na beira do abismo
O Estado de “Israel” já vinha sofrendo com uma crise política gigantesca há meses, a operação Dilúvio de al-Aqsa, ao que tudo indica, foi o prego no caixão desse regime político. O Hamas impôs a vitória militar na Faixa de Gaza. A derrota dos israelenses se tornou uma derrota política. O país, que já estava divido entre um setor mais “democrático” e a extrema direita, agora, está na beira de uma guerra civil. Essa extrema direita, a mais radical do mundo, é tão forte que não permite nem que o imperialismo defina os rumos políticos do país, principalmente um cessar-fogo duradouro e a libertação dos reféns.
A crise do imperialismo e do sionismo é tão grande que o seu desenlace é impossível de prever. Mas um resultado é provável: quanto mais tempo o Estado de “Israel” manter o genocídio na Faixa de Gaza, pior será a crise.
A verdade é que não há saída, a força que o imperialismo teve para criar e sustentar o Estado de “Israel” em 1948 já não existe mais. “Israel” caminha para sua extinção. Uma organização será a principal responsável pela libertação da Palestina, o Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas.