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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

Coluna

A guerra de Troia

"A tal da Guerra de Troia começou por causa de uma guria guapa chamada Helena"

A tal da Guerra de Troia começou por causa de uma guria guapa chamada Helena. Helena era prenda de um estancieiro de Uruguaiana, o coronel Nicolau, más conhecido como Menelau.

Viviam bem por aquelas bandas quando apareceu um correntino mui bem apessoado de nome Alexandre. A guria, vendo aquele moço louro, alto, logo se afeiçoou a ele e os dois se bandearam para o outro lado da fronteira.

Menelau tinha um hermano, velho chimango, caudilho dos mais cruel, de nome Agamenão. Ele, sabendo da tristeza do hermano, selou um haragano e partiu pelas estâncias dos pampas, arregimentando tropeiros para pelear com os castelhanos.

Numa dessas estâncias, teve uma querela com um tal de Ulisses, sujeito tramposo que se fez de vil para fugir do entrevero, pois vivia embretado. Mas foi… a troco de soldo.

E muitos estancieiros se fardaram, meteram cincha e arreio nas montarias e seguiram para Uruguaiana para formar expedição contra Los Libres.

O mais guasca entre eles era um paraguaio chamado Aquiles que certa vez pisou num caco de vidro e ganhou um talho no calcanhar. Vivia gangrenado.

Pero a campanha atrasou por causa do enterro da filha de Agamenão, que morreu de febre no dia de Santa Ifigênia.

Dizem que mil chalanas atravessaram o Uruguay para chegar a Los Libres. Foram querelar com o alcaide, ameaçando o gaudério com um manotaço. Mas o alcaide não era homem de querela e contou a eles que a menina Helena fora levada para uma grande estância, chamada Troia, em Santa Teresita, na riba do Paraná.

Os campeiros cercaram a estância, pero havia lá uma indiada mui bem armada que soube defender Troia da invasão. Ninguém saiu, ninguém entrou durante dez anos e, durante dez anos, os campeiros não arredaram pé até que devolvessem a prenda de Menelau.

O dono da estância era um tal de Príamo, um grego que se bandeou para a Argentina fugindo dos turcos.

Aquiles, que era guapo e segurava touro pela guampa teve entrevero com Agamenão por causa de uma guria chamada Breseida, e não quis mais pelear. Mas quando viu que Heitor, campeiro valente, judiava de Pátroclo, um piá de quem cuidava, resolveu fazer vingança contra o castelhano.

Aquiles deu-lhe um talagaço na pança e o tal de Heitor caiu morto que nem bezerro em dia de churrasco. Pero a raiva de Aquiles era tanta, que amarrou o morto no estribo do cavalo e passeou com ele pela cancha. Depois, com dó do pai do defunto, entregou o corpo ao estancieiro para que se fizessem os funerais.

Mas o entrevero não se resolvia e o mate já estava acabando. Então, os campeiros resolveram ler a sorte com uma cigana, que les disse para procurar um tal de Filoteto, tropeiro bom, de procedência, que não gastava bala à-toa. E mandaram Ulisses, matreiro, hasta lá para buscá-lo.

Acontece que Filoteto se desentendera com Ulisses no passado por causa de uma china e não quis atendê-lo. Pero, cedeu quando Ulisses matreiro le disse que a china na verdade era homem e se chamava Tirésias.

A guerra só se resolveu porque o matreiro Ulisses inventou de deixar um bagual selado, de procedência, de crina longa, na porteira de Troia, enquanto os campeiros fingiam que davam pernada dali.

A indiada vendo aquilo levou o cavalo para dentro da estância e entregaram para Príamo como troféu de guerra. Não sabiam que o matreiro Ulisses havia colocado uma espiga de milho sob a sela e, quando Príamo montou, o cavalo disparou e, num pinote, lançou o cavaleiro contra um mourão de cerca. Não deu tempo nem de chamar o padre para a extrema-unção. Durante o velório, a indiada borracha descuidou da porteira e os campeiros saíram da atalaia e atacaram. Foi uma charqueada. Não sobrou índio vivo. E aquele cavalo ficou conhecido como o cavalo de Troia.

O último que sobrou, um argentino chamado Eneias, tentou fugir pelo mato levando um garrote nas paletas, mas foi morto por um guará na beira do rio.

Terminada a peleia, Agamenão bandeou-se para o Uruguai com uma cigana chamada Cassandra que le previu um grande futuro. Menelau deu uma surra na esposa, mas, como tinha coração mole, perdoou-a e voltaram para o Rio Grande. Alexandre, que era maula, e não podia ver homem armado que já borrava as bombachas, tentou fugir no meio da briga, mas levou um balaço de Filoteto, que não errava tiro. Caiu morto no mato e virou comida de onça. Aquiles esteve perto de morrer por causa da gangrena no calcanhar, mas curou-se com uma pomada do Dr. Asclépio. Ulisses se perdeu nos pampas e, até hoje, não foi encontrado. Dizem que foi morto por um índio caolho chamado Polifemo que se livrou do corpo no Paraná, mas isso é lenda.

A gente dos pampas conheceu essa história por causa de um tocador de viola chamado Homero que vivia borracho nos bolichos da fronteira.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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