No dia 29 de janeiro, o portal Common Dreams publicou um artigo de título Sob Joe Biden, Casa Branca diz ‘não queremos uma guerra expandida’. Analistas dizem ‘tarde demais’. Assinado por Jake Johnson, o texto demonstra que os Estados Unidos se envolveram em vários esforços de guerra desde outubro de 2023, quando a resistência palestina deflagrou a Operação Dilúvio de al-Aqsa, contrastando com o que dizem os membros do governo de Joe Biden, que “continuam insistindo que os EUA não estão em guerra no Oriente Médio e não buscam um conflito militar mais amplo na região“.
Segundo Johnson, “a desconexão entre a intenção declarada da Casa Branca de evitar uma conflagração mais ampla no Oriente Médio e suas ações escalatórias tornou-se cada vez mais evidente nas últimas semanas, com potencialmente consequências graves para a região“.
O artigo cita também Phyllis Bennis, diretora do Projeto Novo Internacionalismo no Instituto de Estudos de Política, que afirmou que “eles não ‘têm que fazer’ o que estão fazendo […] O que eles ‘têm que fazer’ – se houver alguma realidade na afirmação de que não desejam expandir a guerra na região ou correr o risco de uma guerra com o Irã – é exatamente o oposto do que estão fazendo agora“.
Essa é a mesma opinião de Thanassis Cambanis, diretor do Centro de Pesquisa e Política Internacional da The Century Foundation, para quem, a menos que os Estados Unidos “desescalassem imediatamente” em toda a região e pressionassem “Israel” a interromper sua guerra na Faixa de Gaza, o presidente Joe Biden “teria encerrado uma guerra no Afeganistão apenas para iniciar uma ainda maior que se estende do Irã ao Canal de Suez“.
“É tarde demais para 26.000 Gazenses mortos”, acrescentou. “É tarde demais para evitar um dano colossal à reputação da América. Mas os EUA podem recobrar o bom senso, encerrar a guerra em Gaza e descer das escaladas sem sentido em todo o Oriente Médio”.
A reportagem do Common Dreams mostra dois aspectos muito importantes da política norte-americana. Por um lado, que o governo está tão desorientado que não sabe o que está fazendo. Sua política é tortuosa e recheada de gafes e resultados verdadeiramente desastrosos. O segundo aspecto é que a política de guerra tem sido vista cada vez de maneira mais negativa pelo conjunto da população. O investimento na indústria armamentista, ao mesmo tempo que não está sendo eficiente – os Estados Unidos não vencem uma guerra há anos -, também é responsável pela crise social no país.
É essa crise do governo Biden que conduz, inevitavelmente, a um fenômeno cada vez mais forte na política norte-americana: o crescimento eleitoral de Donald Trump. A popularidade do ex-presidente é tamanha que a revista The Economist publicou um artigo recente em que afirma que o mundo estaria “se preparando” para um retorno do republicano.
“Essa perspectiva direcionou grande parte das conversas durante o Fórum Econômico Mundial deste ano”, afirma a revista, que é uma das maiores porta-vozes dos grandes capitalistas, apoiadores do governo Biden. “Um legislador americano envolvido em diplomacia nos bastidores para acalmar aliados expressou preocupação de que os governos estrangeiros ‘estejam alarmados pelo que veem nas redes sociais sobre a democracia americana'”.
A histeria da Economist com o retorno de Trump nada tem a ver com o fato de ele ser de extrema direita. Cada vez mais, o imperialismo tem deixado claro qual o seu problema com o republicano: ele representa, em certo sentido, um rompimento com a política que o imperialismo vem levando até então. E o seu crescimento eleitoral, mesmo diante de dezenas de processos e uma incessante campanha na imprensa contra o ex-presidente, é a demonstração de que o descontentamento social é muito profundo.



