As discussões sobre o cessar-fogo na Faixa de Gaza avançam. No domingo (28), se encontraram em Paris representantes dos EUA, do Egito, do Catar e de “Israel” para discutir os acordos. A diferença é que, dessa vez, o próprio chefe da CIA, William Burns, esteve presente na reunião. Ao longo dos últimos quase quatro meses de confronto, a participação de Burns foi decisiva para a mudança da qualidade no conflito. No caso de “Israel”, esteve presente o chefe da Mossad. O Catar participou por ser o tradicional mediador do Hamas com o imperialismo, e o Egito por ter uma fronteira direta com Gaza.
Restam duas questões, o cessar-fogo irá acontecer? Será mais uma vitória do Hamas?
O primeiro acordo de trégua aconteceu no final de novembro de 2023. Naquele momento, o Hamas trocou cerca de 100 prisioneiros que havia feito no dia 7 de outubro por 300 palestinos que estavam presos nas masmorras israelenses. Além disso, houve uma trégua de sete dias que deu um pouco de paz à Faixa de Gaza, que estava há um mês e meio sob intensos bombardeios todos os dias. O mais importante é que foi uma vitória política gigantesca para o Hamas. Tão grande que o Estado de “Israel” se viu obrigado a reiniciar a guerra e, até agora, não aceitou nenhum novo acordo de trégua.
O imperialismo, por sua vez, pressiona “Israel”, pois, em fevereiro, a campanha eleitoral de Biden já acontece a todo vapor. O presidente dos EUA é constantemente interrompido em seus comícios por manifestações em defesa da Palestina. Para ele, é quase impossível fazer sua campanha eleitoral. É fato que se o governo Biden sustentar o genocídio por mais meses, ele será derrotado por Donald Trump na eleição. Suas chances já são muito difíceis se a guerra parar imediatamente. O que sustenta a guerra é que a crise em “Israel” também é gigantesca, não há uma solução boa para o cessar-fogo.
Nessa conjuntura, o chefe da CIA interviu para tentar costurar o acordo. Para “Israel”, o grande problema político é que um cessar-fogo permanente é equivalente a sua derrota militar na guerra. Seu objetivo era destruir o Hamas, porém, depois da invasão, a organização apenas se fortaleceu e “Israel” se enfraqueceu. O segundo objetivo da invasão de Gaza foi uma derrota total, nenhum único prisioneiro foi resgatado, pior do que isso, os bombardeios mataram diversos prisioneiros. A verdade é que a derrota de “Israel” é iminente e, por isso, o governo Netaniahu hesita em terminar a guerra. A catástrofe militar se transformará em catástrofe política.
11 mil palestinos no cárcere sionista
Para o Hamas, um ponto crucial são os prisioneiros. Antes de outubro de 2023, o Estado de “Israel” possuia cerca de cinco mil prisioneiros palestinos, o número atual é de cerca de 11 mil. O objetivo do Hamas ao fazer prisioneiros era, desde o princípio, libertar todos os palestinos. Tanto o Hamas, quanto a Jiade Islâmica se pronunciaram sobre os possíveis acordos de paz atuais. A sua posição é irredutível no que diz respeito à libertação de todos os prisioneiros de ambos os lados. Agora, se adiciona uma nova exigência: que a trégua seja de, ao menos, 45 dias. Anteriormente, o Estado de “Israel” ofereceu uma trégua de apenas duas semanas.
O representante do Hamas, Ali Baraca, se pronunciou sobre o possível acordo: “o plano proposto consiste em três etapas para prisioneiros; a primeira etapa é de 45 dias para civis, a segunda etapa para pessoal militar sem especificar um prazo, e a terceira etapa é para a troca de corpos entre os dois lados, também sem especificar um prazo. Além de nossa demanda por garantias, temos demandas para reconstrução, retirada do setor e fornecimento de moradias urgentes para os cidadãos”. Aqui, fica claro que a principal vantagem do Hamas são os prisioneiros militares.
Outro dirigente do Hamas, Mohamed Nazzal, afirmou: “nós informamos aos mediadores que um cessar-fogo permanente é nosso objetivo, mas podemos fazê-lo na segunda ou terceira etapas de um acordo. Sem uma retirada israelense da Faixa de Gaza, não podemos aceitar esta nova proposta. Estamos buscando liberar todos os prisioneiros de ambos os lados, mas, é claro, isso requer negociação para chegar a esse ponto. Um cessar-fogo permanente é útil para ambos os lados; caso contrário, a guerra entre nós e as tropas israelenses continuará. Estamos prontos para alcançar isso em etapas“.
O posicionamento do Hamas é obviamente de um setor que está vencendo a guerra. Está impondo uma trégua longa que terá um grande impacto político prejudicial ao Estado de “Israel”. Com um mês e meio sem confrontos militares, a crise no governo Netaniahu tende a se manifestar de forma fulminante. A extrema direita raivosa não quer aceitar isso de forma alguma, podendo tornar-se a principal fonte de crise no governo. Ao mesmo tempo, a pressão desse setor impõe que a guerra continue, o que também faz a crise se manifestar com a derrota militar, a escalada internacional da guerra e a pressão internacional.
A posição do governo israelense é, portanto, terrível. Uma posição de quem está derrotado. Só há escolhas ruins e o Hamas, sabendo disso, pressiona por uma trégua em seus termos. Manter a guerra é quase impossível, pois os EUA não conseguem sustentar o genocídio permanente. Sair da guerra é o atestado de derrota. Se as derrotas para o Hesbolá em 2000 e 2006 foram o Vietnã de “Israel”, a derrota atual em Gaza tende a se tornar o Afeganistão do sionismo. Mas, ao contrário dos EUA, o mais importante país imperialista do mundo, “Israel” é muito mais frágil, pode até mesmo ser destruído.
O fato da guerra atual se tornar uma questão existencial para o próprio Estado de “Israel” dificulta as decisões dos sionistas. O que se sabe é que, nos termos atuais, a trégua seria uma enorme vitória do Hamas. O líder do birô político do partido, Ismail Hanié, viajará ao Cairo para discutir a trégua. É possível que tudo seja deliberado em um futuro muito próximo. Mas, tamanho é o sucesso da Operação Dilúvio de al-Aqsa que “Israel” já está derrotado independente de qualquer acordo de trégua.





