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HISTÓRIA DA PALESTINA

Fundo Nacional Judaico: legalizando a limpeza étnica

“Israel”, através do Fundo Nacional Judaico, utilizou-se do pretexto de que tornou habitável uma terra ‘árida’ e antes inabitável para consolidar o roubo das terras palestinas

Quando se conta a história do genocídio que “Israel” vem perpetrando contra os palestinos há mais de sete décadas, fala-se muito da Nakba em si, isto é, o processo de expulsão forçada de 800 mil palestinos de suas terras durante os anos de 1947 e 1948, processo este que resultou na destruição de inúmeras propriedades e, igualmente, em assassinatos.

E, de fato, houve (e continua havendo), um número de massacres e destruição de propriedade que é difícil de estimar (senão impossível). Contudo, frequentemente passam despercebidos os métodos utilizados por “Israel” para consolidar seu domínio territorial sobre a Palestina, apagar quaisquer traços da sociedade que antes existia lá e, com isto, impossibilitar o retorno dos seus habitantes originais, os palestinos.

Um dos métodos era disfarçar o roubo das terras através da formalização da compra delas. E uma das principais entidades sionistas responsáveis por fazer isto era o Fundo Nacional Judaico (FNJ). E não se tratava de uma simples aquisição de terras. Ao adquiri-las, o FNJ fazia de tudo para apagar os vestígios da prévia sociedade palestina, o que era feito de várias formas, dentre as quais, renomear as aldeias, cidades e seus locais históricos e, em muitos casos, até mesmo realizar a destruição de tais locais, construindo sobre eles novos assentamentos. Nesse sentido, a exposição do historiador judeu israelense Ilan Pappe, em sua obra A Limpeza Étnica da Palestina (pág. 225):

“Como proprietário de terras em geral, juntamente com outras agências que possuem terras estatais em Israel, como a Autoridade de Terras de Israel, o exército e o governo, o Fundo Nacional Judaico também esteve envolvido na criação de novos assentamentos judaicos nas terras das aldeias palestinas destruídas. Aqui, o desapossamento foi acompanhado pela renomeação dos lugares que foram apreendidos, destruídos e agora recriados”.

Tendo em vista que o objetivo dos sionistas era erigir um Estado supremacista judeu sobre a Palestina, ao erradicar a história do povo palestino, que era um povo em sua maioria muçulmano, tinham que substituí-la por uma história fictícia que justificasse sua empreitada colonial, uma história que fizesse parecer que os judeus sempre estiveram na Palestina, e que os árabes eram meramente invasores. Assim, o Fundo Nacional Judeu contou com a ajuda de arqueólogos e especialistas bíblicos, com a finalidade de criar uma história hebraica para a Palestina. Vejamos o que diz Pappe (ob. cit. pág. 226):

“Como proprietário de terras em geral, juntamente com outras agências que possuem terras estatais em Israel, como a Autoridade de Terras de Israel, o exército e o governo, o Fundo Nacional Judaico também esteve envolvido na criação de novos assentamentos judaicos nas terras das aldeias palestinas destruídas. Aqui, o desapossamento foi acompanhado pela renomeação dos lugares que foram apreendidos, destruídos e agora recriados”.

Tais especialistas faziam parte de um Comitê de Nomeação, que, como o próprio nome indica, era voltado especialmente para dar nomes hebraicos às terras palestinas. Esse comitê já existia desde a década de 1920, e atuava fazendo exatamente a mesma função. Contudo, como ainda não existia um Estado de “Israel”, ele se encarregava de dar nomes hebraicos e uma história própria às terras palestinas que eram compradas pelos judeus que migraram da Europa. Vale lembrar que essa imigração fora financiada, desde cedo, pela grande burguesia européia, especialmente banqueiros, conforme já exposto em matéria publicada por este Diário.

Já o Fundo Nacional Judaico, por sua vez, foi criado no ano de 1901, pelo Quinto Congresso Mundial Sionista, sediado na cidade de Basel, na Suíça. A ideia de um fundo destinado a financiar a compra de terras na Palestina, para a colonização sionista, foi aventada pela primeira vez em 1897, durante o Primeiro Congresso Sionista. Demonstrando novamente que o sionismo e o assentamentos que promoveu na Palestina nunca foi um movimento popular, o FNJ foi inicialmente presidido, durante seus primeiros anos, pelo burguês sionista Johann Kremenezky, que também foi secretário e conselheiro de Theodor Herzl, fundador do sionismo.

Foi no ano de 1949, após “Israel” ter se tornado formalmente um Estado perante a comunidade internacional (isto é, sua existência ter sido validada pelo imperialismo), que Davi Ben Gurion fez do Comitê de Nomeação uma subdivisão do Fundo Nacional Judaico.

Segundo relata Ilan Pappe, um dos artifícios que o FNJ (e “Israel”) se utilizou para erradicar definitivamente os vilarejos palestinos que haviam sido tomados durante a Nakba (para acabar com a memória palestina) foi criar florestas sobre as terras roubadas, sob a justificativa cínica e falsa de que os sionistas tinham chegado a um território árido, desértico, onde a vida natural e social não havia conseguido florescer. Esta mesma justificativa ainda faz parte da mitologia sionista para justificar sua política ditatorial sobre a palestina. Nesse sentido, Ilan Pappe explica que quando “Israel” instituiu a política de criar “parques nacionais nos locais das aldeias palestinas erradicadas, a decisão sobre o que plantar estava totalmente nas mãos do Fundo Nacional Judaico (FNJ)”.

Em demonstração da natureza colonial de “Israel”, as árvores plantadas sobre as aldeias palestinas foram típicas da flora europeia, especialmente árvores ciprestes e pinheiros:

“Quase desde o início, a diretoria do Fundo Nacional Judaico optou principalmente por coníferas em vez da flora natural autóctone da Palestina. Em parte, isso foi uma tentativa de dar ao país uma aparência europeia, embora isso não conste em nenhum documento oficial como um objetivo.”

Na obra citada, é exposto ainda que a escolha específica dessa flora serviu para impulsionar a indústria madeireira israelense, tornando ainda mais flagrante a farsa sionista:

“Além disso, no entanto, a escolha de plantar pinheiros e ciprestes – e isso foi declarado abertamente – tinha como objetivo apoiar a aspirante indústria madeireira do país”. (Pappe, ob. cit. pág. 227)

Ainda hoje, ao acessar a página do Fundo Nacional Judaico, é mantida a farsa de que a entidade se dedica à “preservação do patrimônio histórico”, como não tivesse havido uma sociedade palestina anteriormente a 1949:

“Os sítios históricos são uma ligação poderosa com o passado de Israel e uma pedra de toque para o nosso futuro coletivo. O Fundo Nacional Judaico-EUA está empenhado em salvaguardar o passado de Israel, garantindo o seu presente e assegurando o seu futuro através do desenvolvimento e preservação contínuos de locais de património e marcos históricos em Israel.”

E o pretexto utilizado é não só a revitalização de uma terra árida e sem vida, onde nada prosperava antes, mas também a atual política ambientalista do imperialismo (ao menos uma manifestação dela):

“Simplificando, o nosso trabalho de plantação de árvores e desenvolvimento de espaços verdes fez de Israel uma potência ambiental. Agora, como inovadores no desenvolvimento ecológico e pioneiros na florestação e na prevenção de incêndios, continuamos a fortalecer os laços entre a terra e o povo de Israel”.

“O trabalho do Fundo Nacional Judaico-EUA com a água aumentou a economia hídrica de Israel em mais de 15% através do tratamento, reciclagem e recolha de águas residuais e de escoamento, perfuração responsável de aquíferos e reabilitação de rios. Os resultados são impressionantes, mas nosso trabalho ainda não acabou.”

Contudo, esta farsa é devidamente exposta por Pappe, como uma forma apagar os vestígios do povo palestinos e manter de pé a mitologia sionista, de que eles são os herdeiros históricos da região da Palestina:

“A verdadeira missão do Fundo Nacional Judaico (JNF), em outras palavras, tem sido ocultar esses remanescentes visíveis da Palestina não apenas por meio das árvores que plantou sobre eles, mas também pelas narrativas que criou para negar a existência deles.

[…]

Esta versão continua a propagar os mitos familiares da narrativa – a Palestina como uma terra ‘vazia’ e ‘árida’ antes da chegada do Sionismo – que o Sionismo utiliza para substituir toda a história que contradiz seu próprio passado judeu inventado.

[…]

Em outras palavras, o que os textos do Fundo Nacional Judaico representam como uma ‘preocupação ecológica’ é mais um esforço oficial israelense para negar a Nakba e ocultar a enormidade da tragédia palestina.” (Pappe, ob. cit. págs. 228-229).

Resumidamente, “Israel”, através do Fundo Nacional Judaico (e outras organizações), utilizou-se (e continua utilizando) do pretexto de que estava tornando habitável uma terra ‘árida’ e antes inabitável para consolidar o roubo das terras que foi feito com a expulsão da população palestina, durante os anos de 1947 e 1948.

E, com a formalização deste roubo, apagar a memória do povo palestino, literalmente erradicando tanto sua arquitetura quanto todo tipo de vestígio de que os palestinos um dia habitaram a região.

E isto é uma parte essencial para a realização da limpeza étnica da Palestina, além da expulsão física do povo e o roubo de suas terras:

O que é limpeza étnica

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