Passado um ano do início do atual governo Lula, também faz um ano do enorme alarde feito em torno da situação na qual vivem os índios Ianomâmis em Roraima. Diante da política do governo Bolsonaro, que contou até com o estímulo às invasões de terras indígenas, a situação foi associada em 2023 ao então ex-presidente. Na ocasião, ainda foi eleito pela imprensa burguesa um vilão local: o garimpeiro. De lá para cá, muita perseguição a garimpeiros e uma pequena redução nas mortes por “doenças tratáveis”, o que não mudou de fato o quadro desesperador vivido por essa população.
A contabilidade das mortes consideradas evitáveis entre os Ianomâmis foi de 343 em 2022. Em janeiro de 2023, primeiro mês de governo Lula, foram anunciadas medidas para assistir essa população, porém o grande foco ficou no combate aos garimpeiros. Foram apresentados como se fossem representantes diretos dos capitalistas, em contraste com o “bom selvagem”, que viveria uma vida maravilhosa em harmonia com a natureza até sua chegada. Grande parte da esquerda caiu nesse enredo, que foi repetido pela imprensa burguesa.
Eis que os dados de 2023 aparecem atestando o fracasso das ações levadas adiante pelo governo federal. De 343 “mortes evitáveis” em 2022 para 308 em 2023. Uma redução, porém pequena demais para apontar alguma mudança no cenário. Novamente aparecem as fotos dos Ianomâmis que parecem estar em algum campo de concentração nazista. Crianças com peso de bebês, pessoas de todas as idades com quadros severos de desnutrição. Realmente uma crise humanitária, uma situação inaceitável. Porém, que não será solucionada com repressão aos trabalhadores do garimpo ilegal ou com medidas paliativas de assistência social.
Após a expulsão de milhares de garimpeiros, outros tantos apareceram. Muitos provavelmente reapareceram. Afinal, trata-se de uma atividade econômica que dá retorno em um dos estados mais pobres do Brasil, em uma região semiabandonada. A enorme reserva Ianomâmi guarda riquezas minerais no seu solo que poderiam sustentar uma atividade econômica considerável. Os garimpeiros deveriam ter acesso a condições mais dignas de trabalho e os Ianomâmis, por sua vez, também deveriam ter o direito de atuar em atividades de valor econômico real, o que contribuiria de verdade para a sobrevivência desse povo.
Por trás da romantização da situação do índio brasileiro, persiste o abandono desses brasileiros à miséria. Não é por acaso que a imprensa só dá destaque para tribos muito isoladas como os Ianomâmis na Amazônia ou para os índios universitários que recitam a política identitária. O cenário real da maioria não é nem romântico e nem de preocupação com as palavras. A maioria dos índios anseia por condições de se sustentarem por si próprios. No campo, precisam de terras, equipamentos modernos como tratores, insumos para aumentar sua produção agrícola. Para sua saúde, devem ter acesso a hospitais, postos de saúde, farmácias populares. O governo brasileiro não pode se contentar em ampliar o aparato repressivo contra a população pobre nem se restringir a dialogar com as “lideranças” indígenas eleitas pelo imperialismo.