Em alusão ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e celebrada desde 27 de janeiro de 2005, a Folha de S.Paulo publicou, nesta sexta-feira (26), um texto escrito por Rony Vainzof e Andrea Vainer, dirigentes da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
O artigo, intitulado O perigo do antissemitismo: o ‘jamais novamente’ é agora, alerta para um eventual “novo holocausto”:
“Todo o processo que desencadeou o Holocausto e o horror dos campos de concentração são lembranças imprescindíveis para que algo do gênero jamais ocorra novamente.”
Do ponto de vista de que o Holocausto foi um crime contra a humanidade praticado por um país imperialista, não restam dúvidas de que novos “holocaustos” são possíveis. Desde a Primeira Guerra Mundial, deflagrada em 1914, até os dias de hoje, o ser humano tem testemunhado o período mais sangrento de sua história, de tal forma que o holocausto judeu foi apenas um capítulo de uma longa história de monstruosidades.
O que dizer, por exemplo, das bombas atômicas de Hiroxima e Nagasaqui, que mataram 70 mil pessoas em um único dia? Que dizer da mais recente Guerra do Iraque, iniciada em 2003, e que matou mais de um milhão de pessoas, além de destruir por completo a infraestrutura do país? Que dizer das ditaduras monstruosas que ocorreram na América do Sul, como a ditadura argentina, que deixou mais de 30 mil desaparecidos (oficialmente)? E, por fim, como não citar a catástrofe palestina, que resultou na expulsão de milhões de pessoas de suas terras e na perda incalculável de vidas humanas?
Enquanto houver o imperialismo, haverá guerras extremamente violentas, haverá perseguições, haverá ditaduras e haverá massacres. Nenhum apelo moral irá frear as tropas super equipadas, com orçamentos bilionários, dos exércitos imperialistas. Nem tampouco irá frear a caça incessante dos monopólios para aumentar os seus lucros.
Acontece que os dirigentes da Conib não se preocupam com “novos holocaustos” no sentido em que colocamos. Sua preocupação não é com a humanidade, nem com os crimes do imperialismo. A única preocupação que a Conib apresenta é, especificamente, com um “novo holocausto” no sentido de uma onda de perseguições a judeus:
“Menos de 80 anos depois do maior crime contra a humanidade da história, somos testemunhas da temível escalada de discurso e atos de ódio contra judeus, no Brasil e no mundo. É o antissemitismo, em todas as suas formas.”
A suposta preocupação não tem fundamento algum na realidade. Mas também não é à toa. A Conib se diz preocupada com o “holocausto” apenas porque quer acusar de “antissemita” todos aqueles que criticam o Estado de “Israel”. Assim, dizer que “Israel” está promovendo um genocídio na Palestina seria, portanto, “antissemita”, pois seria uma “crítica aos judeus”. E, como tal, poderia levar a um holocausto!
É óbvio aonde a Conib quer chegar. Não se trata de fazer um balanço sério do que foi o holocausto judeu, mas de utilizar o sofrimento alheio para justificar as ações criminosas em “Israel”. E não apenas justificar, mas também intimidar, reprimir e censurar aqueles que se levantam contra “Israel”. Prova disso é que a mesma Conib já pediu a prisão do jornalista Breno Altman, filiado ao Partido dos Trabalhadores, por denunciar os crimes de “Israel” contra os palestinos, e já pediu a cassação do registro do Partido da Causa Operária (PCO) pelo mesmo motivo.
Ao tentar explicar os indícios de que haveria um “novo holocausto” por vir, a Conib se entrega. Seus dirigentes são incapazes, por exemplo, de citar um país em que os judeus estejam sendo mortos como moscas – enquanto isso, mais de 33 mil palestinos foram mortos por “Israel”. Seus dirigentes são incapazes de citar uma única sinagoga que tenha sido destruída nos últimos meses, enquanto mais de mil mesquitas foram destruídas pelas forças de ocupação de “Israel”. A Conib não cita um único campo de concentração de judeus, enquanto na Faixa de Gaza, considerada o maior campo de concentração a céu aberto, 90% das pessoas estão passando fome.
Na falta de argumentos reais, os dirigentes da Conib apresentam como um grande problema a existência de “Estrelas de David pintadas em edifícios, sugestões de boicote, ameaças e ataques a empresas e lojas judaicas e manifestações favoráveis à erradicação de Israel e de morte aos judeus“.
As sugestões de boicote nada têm a ver com holocausto. Os boicotes que estão sendo propostos têm como objetivo pressionar os apoiadores de “Israel” onde mais lhe doem: no bolso. É o que propôs, corretamente, José Genoíno, uma vez que o boicote poderia levar ao desabastecimento de “Israel” e, assim, aumentar a pressão contra o governo de extrema direita. É o que está sendo feito, de maneira heroica, pelo Iêmen. Ao criticar o boicote, a Conib se coloca ao lado dos empresários brasileiros que se manifestaram contra o apoio do governo brasileiro à investigação de “Israel” em Haia. Estão com as mãos sujas de sangue, são cúmplices do genocídio.
As tais manifestações favoráveis à erradicação de “Israel” e de morte aos judeus são, por outro lado, pura calúnia. Não houve, desde a Operação Dilúvio al-Aqsa, manifestações desse tipo. O que houve, na verdade, foi uma infinidade de declarações de autoridades israelenses defendendo “limpar” a Faixa de Gaza.
A Conib também esperneia contra “a negação das então reitoras de três das mais importantes universidades dos Estados Unidos em classificar pedidos de ‘genocídio de judeus’ como discurso de ódio, pois ‘dependeriam do contexto’“. Aqui, os dirigentes apenas comprovam tudo o que estamos dizendo. O que os sionistas querem é impor uma censura generalizada contra qualquer um que critique “Israel”. Ao contestar até a fala da reitora, de que seria necessário avaliar o “contexto”, a Conib deixa clara a sua hostilidade aos direitos democráticos. Para ela, todos são culpados de “antissemitismo” até que se prove o contrário.
A Conib também se mostra incomodada com “a acusação de dupla lealdade, segundo a qual cidadãos ou entidades judaicas de determinados países são mais leais a Israel do que ao seu país natal“. Ora, mas o que pode ser dito de organizações como a própria Conib, que se reúnem com a Polícia Federal (PF) para exigir a prisão de brasileiros por suas posições políticas? A quem mais, a não ser “Israel”, a Conib estaria favorecendo ao pedir a prisão de brasileiros que denunciam a entidade sionista?
O Holocausto nada tem a ver com a defesa de “Israel”. Trata-se, inclusive, de um insulto aos judeus que morreram nos campos de concentração e aos que participaram da resistência contra o nazismo. Nenhum dos fundadores de “Israel’ pegou em armas contra o nazismo – pelo contrário, alguns tentaram e alguns até conseguiram firmar acordos com a ditadura de Adolf Hitler.
Os sionistas, que nunca estiveram em um campo de concentração, usam a memória do Holocausto para promover um crime ainda mais monstruoso: o genocídio, ao longo de mais de 75 anos, do povo palestino.




