O site independente de notícias The Grayzone é especializado em jornalismo investigativo e tem incomodado muito a burguesia imperialista por abordar temas que os monopólios da comunicação procuram manter escondidos do público. Recentemente, o site se destacou por reunir informações que contradizem o discurso oficial sobre o que vem acontecendo na Ucrânia e na Palestina, por exemplo. No último domingo, o jornal imperialista Washington Post publicou um artigo recheado de calúnias facilmente verificáveis, visando a desacreditar as denúncias repercutidas no Grayzone.
O artigo é intitulado “Growing Oct. 7 ‘truther’ groups say Hamas massacre was a false flag” (que pode ser traduzido como “Crescente número de grupos ‘desconfiados’ do 7 de Outubro dizem que o massacre do Hamas foi encenado”). Assinado por Elizabeth Dwoskin, o artigo aponta para um movimento ligado ao negacionismo do holocausto, porém não apresenta uma lista desses grupos e, no lugar disto, traz uma coleção de comentários em redes sociais como 4chan e Reddit. Dwoskin cita ainda o uso da rede TikTok e grupos no Telegram.
A principal fonte de informações trazidas no artigo é o Instituto de Pesquisas sobre Contágio em Rede (Network Contagion Research Institute), que informava no seu site oficial suas afiliações com a Open Society Foundations de George Soros, a Fundação Charles Koch e a Liga Anti-Difamação. Inclusive o fundador do instituto veio dessa Liga Anti-Difamação, grupo sionista pró-censura, que tem como lema oficial “por um fim à difamação do povo judeu e garantir justiça e tratamento justo para todos”. Na prática, a denúncia dos crimes de “Israel” está obviamente no topo da lista dessas “difamações” contra o “povo judeu”.
Dwoskin destaca os sites Eletronic Intifada e The Grayzone como locais na internet onde fatos são exagerados ou distorcidos. De maneira caluniosa, o artigo cita as denúncias feitas pelos próprios israelenses sobre os civis mortos em 7 de Outubro. Se avolumaram as denúncias e evidências de que muitos civis foram atingidos pelos próprios militares israelenses. O artigo afirma que o Grayzone “sugeriu” que “a maior parte” das mortes de israelenses foram causadas por “fogo amigo” e não pelo Hamas, algo que não consta nas matérias publicadas no site. Acusa ainda o site de distorcer o testemunho de um piloto de helicóptero israelense que relatou a dificuldade de distinguir entre civis e militantes do Hamas no 7 de Outubro.
Ao lado das denúncias publicadas pelo Grayzone estão as famílias de alguns dos mortos por “fogo amigo” em 7 de Outubro. Elas exigem que o governo vá a fundo nas investigações, o que, ao contrário do que o artigo do Washington Post diz, parecem não estar acontecendo de fato. O que tem ocorrido mesmo é que Benjamin Netanyahu só indica nas suas declarações que “Israel” pretende seguir em estado de guerra por muitos meses ainda. A versão estatal sobre o que ocorreu de fato em 7 de Outubro é fundamental para a propaganda de justificação das atrocidades contra a população palestina.
Em seguida, Dwoskin coloca os dois importantes portais de denúncias dos crimes imperialistas como aliados dos “negacionistas do holocausto”. O artigo procura igualar os “negacionistas do 7 de Outubro” a grupos de extrema-direita que seriam “negacionistas do holocausto”. No meio dessa manobra grotesca, descreve com emoção a reação de um casal israelense ao abordar uma mulher em Londres que rasgava cartazes com fotos de reféns tomados pelo Hamas. O casal teria ficado “perturbado” com o ocorrido e ao ver que episódios similares estavam ocorrendo em várias cidades.
Na ocasião, cerca de duas semanas após a incursão do Hamas a partir da Faixa de Gaza, o número de civis palestinos assassinados por “Israel” já era da ordem de milhares. Hoje, já estão nas dezenas de milhares. O ato de arrancar os cartazes dos reféns israelenses tem sido uma forma de protesto recorrente em universidades nos Estados Unidos, num gesto de repulsa ao cinismo da propaganda sionista. Para os sionistas, um punhado de reféns judeus vale muito mais do que milhares de palestinos mortos por bombas, soterrados nas próprias casas ou perecendo por fome e doenças devido ao criminoso bloqueio imposto pela ocupação israelense.
Ainda no começo do mês, o editor-chefe do Grayzone, Max Blumenthal, acompanhado em transmissão ao vivo pelo jornalista Aaron Maté, confrontaram outra acusação contra o site levada adiante por Dwoskin. O site foi contatado por Dwoskin, via e-mail, sobre uma matéria na qual ela estaria trabalhando com o tema “esforços para minimizar ou distorcer informações sobre os ataques do Hamas em Israel”. Os jornalistas trouxeram a tona sua simpatia ao sionismo e sua menção aos palestinos durante a Nakba como “beduínos do deserto desprovidos de um senso de identidade nacional como a concebemos hoje”, em texto publicado no diário Columbia Spectator.
A chamada não foi citada no artigo de Dwoskin, nem o Grayzone foi devidamente questionado sobre as acusações de distorcer informações para que a jornalista tivesse como confrontar seus argumentos. A publicação do Washington Post se soma a uma campanha em nível mundial do imperialismo que visa silenciar as vozes dissonantes em torno do genocídio em curso contra o povo palestino. Essa campanha tem sido muito ativa nos Estados Unidos e na Europa, mas também no Brasil com os esforços em censurar o jornalista judeu Breno Altman e a imprensa do Partido da Causa Operária. E por isto deve ser combatida de forma incessante.
A resposta do Grayzone consta aqui na íntegra: https://thegrayzone.com/2024/01/24/washington-post-grayzone-holocaust-deniers-adl/.