No dia 12 de janeiro deste ano, uma sexta-feira, Manoel Francisco, de 75 anos, morreu após cair de uma escada rolante na Estação Central do Metrô do Recife. Na ocasião, ele tentou escalar a lateral da escada para tentar acessar o piso superior por conta de um congestionamento de pessoas que teria sido causado porque um carrinho de um vendedor ambulante ficou preso na estrutura.
Trata-se de um caso, sem dúvidas, trágico. Entretanto, a imprensa burguesa está utilizando a morte de Manoel como uma campanha para que o Estado reprima vendedores ambulantes no metrô. É o caso, por exemplo, do Diário de Pernambuco, um dos principais jornais do estado nordestino, que, no dia 20 de janeiro, publicou um artigo intitulado Mesmo proibido por lei federal, comércio ambulante “corre solto” em estações do Metrô do Recife e causa problemas.
No primeiro parágrafo, o jornal já coloca a culpa em cima do vendedor ambulante:
“O acidente que causou a morte de Manoel Francisco, de 75 anos, que caiu de uma escada rolante na Estação Central do Metrô do Recife, devido um tumulto causado após o carrinho de um vendedor ambulante ficar preso na estrutura, levantou mais uma vez a questão sobre o comércio nas estações e também dentro das composições ferroviárias.”
Então, o Diário de Pernambuco afirma que, “diante dessas circunstâncias, voltou a discussão sobre a proibição das vendas de produtos em plataformas e trens”. Quando o jornal burguês afirma que “voltou a discussão”, a verdade é que ele próprio está impulsionando o assunto para, com isso, fazer campanha em defesa da repressão aos ambulantes.
Tanto é assim que o resto do artigo consiste, basicamente, na citação da legislação que regulariza a atividade de vendas nas estações e trens do metrô pernambucano e na reprodução de relatos de supostos passageiros que supostamente teriam se colocado contra os ambulantes.
O texto é tão rasteiro que, ao final, o jornal afirma que “a reportagem do Diario tentou contato com ambulantes que estavam vendendo mercadorias na estação central do Recife, mas eles preferiram não se pronunciar”. Como se fosse uma tarefa hercúlea conseguir o depoimento de um vendedor ambulante sobre uma situação que diz respeito aos seus direitos.
Finalmente, trata-se de uma grande farsa que serve para atacar os direitos dos trabalhadores. Afinal, se quem tivesse causado o congestionamento na escada rolante fosse, por exemplo, um carrinho de limpeza de um gari do metrô, decerto que o Diário de Pernambuco não estaria discutindo a proibição da limpeza nas estações pernambucanas.