Nessa quarta-feira (24), houve um dia de greve geral na Argentina contra o pacote de medidas anunciado por Javier Milei no final do ano passado. Os protestos foram convocados pela CGT, principal central sindical do país (ligada ao peronismo), no dia 28 de dezembro.
Na ocasião, o presidente golpista, lacaio do imperialismo, havia acabado de enviar ao Congresso da Nação o “Projeto de Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos”, mais conhecido como “Lei Ônibus”, um projeto de lei fascista, conforme já noticiado por este Diário.
Segundo a entidade, o dia de paralisação foi convocado para barrar a aprovação da referida lei, e também para revogar o Decreto nº 70/2023 (Decreto de Necessidade e Urgência – DNU). Editado no dia 20 de dezembro, o decreto foi utilizado por Milei para colocar em vigor no país uma política de “choque econômico”, isto é, o neoliberalismo em toda sua extensão.
A concentração dos protestos foi marcada para meio-dia, na frente do Congresso Nacional, na Plaza del Congreso, com a coluna principal da manifestação marchando pela Avenida Plaza del Mayo e chegando pela Avenida 9 de Julio. O início do ato, por sua vez, foi marcado para as 14h30. O local foi em frente ao Congresso, pois é lá que estão sendo discutidas ambas as medidas normativas (DNU e Lei Ônibus) que representam duríssimo ataque contra o povo argentino.
O dia de paralisação, programado para durar até a meia-noite, ganhou a adesão dos principais partidos da esquerda não peronista argentina, isto é, aqueles que conformam a Frente de Izquierda y dos Trabajadores – Unidad, nomeada, o Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS), o Partido Obrero, a Izquierda Socialista, e o Movimiento Socialista de los Trabajadores.
Ademais destes partidos e centrais, aderiram aos protestos do dia 24, ao menos os seguintes sindicatos:
- a Confederação Argentina de Trabalhadores em Transportes (CATT) – que reúne os sindicatos do Sindicato Ferroviário, Sindicato dos Bondes Automotivos (UTA), Táxis, Caminhoneiros, Dragagens e Balizas, Estradas, pedágios e aeronáuticos;
- a Associação Sindical dos Metroviários e Pré-metrôs (AGTSyP);
- a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE);
- o SITraLab (Sindicato dos Trabalhadores de Laboratório);
- o SUOR (Sindicato Único dos Trabalhadores Rurais);
- o SOESGYPE (Sindicato dos Trabalhadores e Empregados dos Postos de Serviço, GNC, Estacionamento);
- o CISPREN (Círculo Sindical de Imprensa);
- o UPCN (Sindicato do Pessoal Civil da Nação);
- o SMATA (Sindicato dos Mecânicos e Transportes Automotivos Relacionados);
- o ATLyF (Federação Argentina dos Trabalhadores da Luz e da Energia), entre outros.
Sobre a adesão dos sindicatos, vale ressaltar que foi programada a paralisação de inúmeros serviços, tais como saúde, educação, bancos, transporte, indústrias, aeroportos – centenas de voos já foram, inclusive, cancelados – e mais. Contudo, segundo informações da imprensa argentina, a suspensão dos transportes é apenas a partir das 19 horas.
A respeito da manifestação em si, apesar da concentração ter sido marcada para o meio-dia, a imprensa burguesa argentina noticiou que manifestantes começaram a se concentrar em frente ao congresso já às 7 da manhã.
Com o passar das horas, mais e mais trabalhadores e populares foram chegando. De forma que, no decorrer do dia, a manifestação contou com milhares de manifestantes, tornando-se a maior das manifestações contra o governo até o momento:

Apesar disto, da ampla manifestação e da disposição do povo argentino de sair às ruas, a mobilização contra a ditadura de Javier Milei seguiu contida pela esquerda, pelas direções da classe trabalhadora. Isto ficou manifesto durante o dia de protestos, pois o aparato de repressão montou um cordão de isolamento impedindo que a avenida em frente ao Congresso da Nação fosse ocupada. Conforme fotos, a via permaneceu livre. Naturalmente, não houve ocupação do congresso:

Ademais, fotos do protesto mostram uma manifestação ordeira, contida por suas direções:

Sobre o aparato de repressão, vale ressaltar que, novamente, o governo ditatorial de Milei montou um forte esquema repressivo, tanto para conter o protesto, evitando ele de aumentar em tamanho e intensidade, quanto para reprimir os manifestantes, caso necessário. Nesse sentido, segundo informações do jornal argentino La Nación, o governo, “desde o início da manhã, caminhões hidrantes, veículos de assalto, vans com tropas e motocicletas estão prontos na área de chamada nas esquinas das avenidas Callao e Corrientes; Belgrano e Entre Rios; e Rivadavia e Ayacucho, entre outros lugares”.
O esquema repressivo no acesso à capital argentina, Buenos Aires, também seguiu o mesmo modus operandi das três manifestações anteriores (20, 21 e 27 de dezembro): a polícia realizou bloqueios nas rodovias, parando e revistando transportes coletivos e particulares que rumavam à cidade. Um ônibus foi apreendido.

Ainda sobre a ação do aparato repressivo, a Prefeitura Naval e a Polícia Federal reprimiram manifestantes no acesso sul da cidade, ao cortarem o acesso à ponte Pueyrredón.

Acima, foi dito que a manifestação seguiu contida pelas direções dos trabalhadores. Nesse sentido, vale citar declarações das principais organizações de esquerda, para demonstrar que ainda não estão à altura da tendência do povo argentino à luta contra a ditadura de Milei.
Pablo Moyano, cotitular da CGT, limitou-se suplicar aos deputados para que barrar o DNU e a Lei Ônibus:
“Um peronista não pode votar neste DNU e nesta lei abrangente que vai contra os trabalhadores, contra os aposentados, contra a soberania nacional […] Pedimos aos deputados que tenham dignidade e princípios e que não se ofendam se algo lhes for dito na mídia. Pedimos que não traiam os trabalhadores, a doutrina do peronismo, que é defender os trabalhadores, o que eles têm de menos. e aos aposentados.”
Nenhuma palavra sobre o golpe de Estado de Javier Milei. Em nenhum momento exortou os trabalhadores a derrubarem o governo golpista, colocado na presidência pelo imperialismo.
Romina Del Plá, deputada pelo Partido Obrero, por sua vez, ao se referir a decreto de “choque econômico”, disse que ele irá “agravar o domínio dos monopólios e dos setores mais poderosos da economia”. O que é verdade. Disse também, sobre a Lei Ônibus, que “querem modificar o código penal para prevenir e/ou punir com prisão efetiva aqueles de nós que mobilizamos e lutar contra esta ordem de coisas. Limitar o direito à greve e criminalizar aqueles que protestam é profundamente antidemocrático e inconstitucional”. Isto é igualmente verdade.
Contudo, não denuncia o golpe de Estado que está sendo perpetrado por Javier Milei, apenas diz que “esta greve geral deve tornar-se um grande plano de luta até que o plano da motosserra, o protocolo anti-piquetes, o DNU e a Lei Ônibus sejam derrotados”.
Assim, enquanto o povo argentino mostra forte tendência à mobilização, disposto a enfrentar o governo, indo aos milhares às ruas; sua mobilização continua contida pela esquerda, algo que fará a ditadura de Milei avançar, podendo tornar-se uma ditadura fascista, servindo de ponto para golpes de Estado em outros países na América Latina, e um maior domínio do imperialismo no continente.





