Na esteira da polêmica gerada pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao atribuir, no dia 14 de janeiro, as mortes no Rio de Janeiro, em decorrência das chuvas, ao “racismo ambiental e climático”, a Folha de S. Paulo publicou uma coluna, assinada por Reinaldo José Lopes, defendendo a posição. Na última sexta-feira (20), o texto intitulado Racismo ambiental aumenta risco de tragédia para os não brancos retoma a afirmação da ministra numa polêmica para defendê-la:
“Estou acompanhando os efeitos da chuva de ontem nos municípios do Rio e o estado de alerta com as iminentes tragédias, fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático.”
Ou seja, a causa das tragédias, em parte, seria o tal “racismo ambiental e climático”. Em sua vã tentativa de explicar a tese descabida, o colunista afirma: “Trata-se, portanto, de um fator que agrava o problema, que aumenta vulnerabilidades, e não uma relação simples de causa e efeito.” Vejamos, por que em épocas de chuva essas enchentes se repetem todos os anos? Seria por causa da falta de obras de infraestrutura nas cidades, ou por causa do racismo?
Segundo o escudeiro da Folha, o racismo agravaria o problema das enchentes, quer fazendo delas mais destrutivas, abrangentes ou que seja, aparentemente. Pensemos um pouco, em regiões de maioria pobre branca, ou com uma proporção maior de pessoas brancas na mesma camada social, existem mais obras de infraestrutura? Não, este não é o caso. As casas pobres, nos bairros pobres, alagam da mesma maneira, caem da mesma maneira. E as pessoas pobres, negras, indígenas ou brancas, morrem da mesma maneira com as chuvas.
“Ora, mas a população pobre é majoritariamente negra!” Dirão alguns, e como disse a própria ministra: “69% dos moradores de favelas no Rio se declaram pretos ou pardos”. Sim, um conhecimento flagrante a qualquer frequentador da Cidade Maravilhosa. Em que isto implica para a compreensão, solução ou tratamento dos afetados pelas enchentes? Nada. O problema permanece: a falta de infraestrutura nas áreas pobres. Os negros ricos permanecem afetados tão pouco como os brancos ricos, e a cor dos pobres permanece não despertando compaixão de São Pedro, em lugar algum. Ou seja, a questão é puramente econômica, portanto, no máximo, poder-se-ia poderia falar em um “racismo social”.
“Falar em racismo ambiental reflete simplesmente o fato de que, […] alguns são menos iguais que os outros.” Diz o defensor de Anielle, e ainda: “os processos que levaram a família de cada um a ir parar em seus respectivos lugares foram mediados pelo racismo, inclusive o preconceito social e do mercado de trabalho.” E ainda assim, apesar de explicar a cor de alguns corpos, “racismo ambiental” ainda não explica por que elas ocorreram, ou por que as pessoas que morreram, morreram. O conceito serve apenas para desviar a questão: o problema, então, não é falta de infraestrutura, mas o “racismo”, a consciência individual de cidadãos individuais. O que resta a fazer? Quem sabe “rever seus privilégios”, diria a resposta identitária. E em nada isto serviria para evitar futuras mortes.
O problema de ordem social fica oculto pelas teorias identitárias. Não mais morreriam os pobres, mas apenas os negros, e o conflito então não é da população pobre, proletária, contra os governos, as instituições que a mantém nessas condições, mas contra os brancos; ou dos brancos contra suas consciências. Algo sem o menor sentido, um desvio de foco para substituir a luta de classes pela farsa identitária.
À medida que a ministra foge com palavrório acadêmico daquilo que é necessário para a população negra, o povo pobre, negro em maioria, continua morrendo por motivos os mais variados e evitáveis. A miséria permanece disseminada, assim como doenças para as quais já existe cura. Infraestrutura? Investimento? Não, para a ministra, devemos falar sobre o “racismo”. Aproveitando-se desta farsa, mantém-se no cargo, o qual até o momento não exerceu para nenhum feito significativo.
Polícia, presídios, fome, doença, tais palavras não aparecem no vocabulário, apenas o “racismo”: racismo policial, racismo carcerário, racismo judicial, racismo econômico, etc. O problema seria não de instituições, de alocação de recursos, democratização da sociedade ou qualquer outro ponto. O problema é de consciências.
O encerramento do artigo é digno de todo o seu conteúdo. Falando sobre a contestação ao termo “racismo ambiental”, coloca o assecla de Anielle Franco:
“Contestar um ramo do conhecimento sem considerar suas implicações me parece açodado e perigoso. O preço de seguir esse caminho foi pago com o sangue de centenas de milhares de brasileiros nos anos da pandemia.”
Um termo tão anticientífico defendido por aquele que defende o princípio da anticiência. Chegamos, como sempre no identitarismo, à defesa da censura, justificada torpemente por motivos falsos. Tal qual a enchente, o problema da pandemia diz respeito à luta de classes. A vacina compulsória antes de estar pronta, a culpa jogada nos trabalhadores que precisavam sair para trabalhar e se sustentar, e não na burguesia parasita, que os manteve nessas condições, enquanto atrasou o desenvolvimento das vacinas e não deu prova alguma de testá-las o tanto que seria necessário, lucrando astronomicamente com a doença. Uma farsa completa.




