No texto Negacionismo e antissemitismo, publicada no jornal O Globo, a bióloga Natália Pasternak procura apresentar um velho truque da burguesia para caluniar os seus adversários. Defensora da existência do Estado de “Israel” – e, por consequência, da limpeza étnica da Palestina -, Pasternak procura apresentar os apoiadores da causa palestina como “negacionistas” – isto é, alguém que não mereceria crédito. ou até, quem sabe, mereceria ser punido penalmente.
Diz a bióloga:
“Negar o Holocausto é antissemitismo.”
Não, negar o holocausto não é, necessariamente, antissemitismo. Negar o holocausto é negar um fato histórico com farta documentação. Pode ser, no máximo, uma demonstração de ignorância, mas não é, necessariamente, uma demonstração de ódio aos judeus. Ainda que fosse, quais deveriam ser as consequências disso?
Ao dizer que algo é “antissemitismo”, Pasternak está, na verdade, acusando quem o pratica de um crime. Trata-se de um jogo retórico, de equiparar qualquer suposta hostilidade aos judeus com os crimes dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, afinal de contas, aquele que for considerado “antissemita” pode ser considerado por um juiz como um “racista” e, assim, ir parar na cadeia, sem direito a fiança. Em junho de 2022, um pastor foi condenado a 18 anos de cadeia por “antissemitismo”. O motivo? Fazer uma pregação em que acusou os judeus de “deitarem com as prostitutas”, de “fazerem alianças” e de “servirem ao mal”.
O “antissemitismo” de Pasternak é, portanto, uma senha para reprimir qualquer um que não defenda aquilo que é conveniente para Pasternak. Prova é que Pasternak não protesta quando o Estado de “Israel” mente ao afirmar que está combatendo “terroristas”, quando, na verdade, está exterminando a população civil de Gaza. Não protesta quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mente ao acusar os combatentes do Hamas de estuprar israelenses. Não protesta quando os sionistas falam que a Palestina é “uma terra sem povo para um povo sem terra”.
O segundo exemplo fornecido pela bióloga é ainda mais esclarecedor: “negar que o Hamas é um grupo terrorista que deseja eliminar Israel e o povo judeu do mapa, também [é antissemitismo]”. Seu pretenso lastro “científico”, aqui, cai totalmente por terra. Se Pasternak quer ver pessoas na cadeia porque contestam um fato histórico como o holocausto, qual seria então a sua justificativa para incriminar aqueles que “neguem que o Hamas é um grupo terrorista”?
O argumento desmascara por completo suas intenções. O que a bióloga sionista busca não é uma “ditadura da verdade”, mas sim uma ditadura da propaganda sionista e imperialista. Classificar o Hamas como um grupo “terrorista” não tem nada de científico, nem de histórico. Pelo contrário: é uma calúnia contra um grupo que está lutando por sua libertação. Um grupo, inclusive, que luta contra um Estado comprovadamente terrorista, que usa armas químicas contra civis, que bombardeia hospitais, que impõe cercos econômicos e que segrega a população no território que ocupa.
“Negacionismo” é, portanto, negar-se a repetir a ladainha da imprensa imperialista.
Se há algum “negacionismo” em toda essa discussão, é o de Pasternak. O Hamas nunca afirmou que seu objetivo era “eliminar o povo judeu do mapa”. Pelo contrário: durante as trocas de prisioneiros, ficou claro que o grupo islâmico dava um tratamento muito mais humano aos judeus que os israelenses davam aos palestinos. Mais a mais, o Hamas afirma de maneira cristalina, em sua declaração de princípios:
“O Hamas afirma que seu conflito é com o projeto sionista, não com os judeus por causa de sua religião. O Hamas não trava uma luta contra os judeus por serem judeus, mas luta contra os sionistas que ocupam a Palestina. No entanto, são os próprios sionistas que constantemente associam o judaísmo e os judeus ao seu próprio projeto colonial e à sua entidade ilegal.
O Hamas rejeita a perseguição de qualquer ser humano ou a violação de seus direitos com base em critérios nacionalistas, religiosos ou sectários. O Hamas considera que o problema judaico, o antissemitismo e a perseguição dos judeus são fenômenos fundamentalmente ligados à história europeia e não à história dos árabes e dos muçulmanos ou à sua herança. O movimento sionista, que conseguiu, com a ajuda das potências ocidentais, ocupar a Palestina, é a forma mais perigosa de ocupação por assentamento, que já desapareceu de grande parte do mundo e deve desaparecer da Palestina.”
Não são os apoiadores da causa palestina que negam um suposto antissemitismo do Hamas – grupo que é, inclusive, semita, como todo palestino. Pasternak que nega – isto é, esconde e, portanto, é cúmplice – o fato de que as autoridades israelenses querem “limpar” a Faixa de Gaza.



