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Coluna

Grafeno empurra os limites da computação…

... e o Brasil, segundo país com maior reserva de grafite do mundo, ainda engatinha em relação aos semicondutores

O jornal chinês Global Times tem uma característica interessante. Além de noticiar a posição chinesa em relação a uma série de acontecimentos internacionais – principal motivo pelo qual frequentemente o acesso -, o porta-voz do governo da China exalta conquistas nacionais diversas, de culturais a científicas. Raramente dou atenção a esse tipo de matéria, não por desinteresse, mas por falta de tempo e por não partilhar do sentimento de orgulho nacional que talvez motive os redatores e leitores do GT. A última semana, porém, foi uma exceção à regra.

Uma reportagem apresentava um avanço tecnológico significativo numa área que tenho grande interesse. Pesquisadores chineses e norte-americanos haviam conseguido estabilizar um novo tipo de semicondutor baseado em grafeno. Ao que tudo indica, o material é dez vezes mais performático que o silício, usado na vasta maioria dos chips modernos já há algumas décadas. O avanço tecnológico deve dar uma sobrevida à Lei de Moore, em referência à tese do fundador da Intel, Gordon Moore, que nos anos 1970 postulou que a cada 18 meses a densidade de transistores nos microprocessadores dobraria. Conforme atingimos os limites do silício, a jornada da computação deve continuar no grafeno, ao menos enquanto não se viabiliza um computador quântico (se é que são viáveis de fato).

É difícil saber quando veremos circuitos integrados e processadores feitos de grafeno disponíveis ao consumidor final. Imagino que os primeiros produtos desenvolvidos com a nova tecnologia sirvam a aplicações militares e governamentais e devemos estar a alguns anos de um processador Intel i9 (se ainda existirem com esse nome) de grafeno. Ainda assim, uma performance dez vezes maior não é algo pequeno e, portanto, uma corrida por aplicações para a descoberta já deve ter sido iniciada antes mesmo da divulgação dos resultados científicos.

Pensar sobre o tema fez-me pensar: “Qual será o país com as maiores reservas de grafite, necessário para a produção do grafeno, do mundo?”. Tinha a impressão de que era o Brasil e minha intuição errou por pouco. Era a Turquia, com o Brasil num próximo segundo lugar. Na realidade, a maior parte dos países detentores de grandes reservas conhecidas de grafite eram países de capitalismo atrasado. Mais uma dessas ironias da economia mundial, a exemplo do lítio.

Aqueles que acompanham esta coluna devem saber de nossa preocupação com a indústria nacional de semicondutores. Entristece-me pensar que com todo o potencial (podado após grande desenvolvimento nos anos 1980) que temos, com os profissionais que formamos, talvez participemos dessa nova etapa tecnológica como meros exportadores de minério bruto. Como em muitas outras áreas, nossas amplas riquezas naturais estão a serviço não do povo brasileiro, mas de grandes monopólios imperialistas.

Se a tecnologia vingar, uma corrida pelo grafite é inevitável. Será que mais uma vez perderemos nossa soberania para a sanha imperialista pelo controle dos mercados? Nossa luta no Partido da Causa Operária me dá esperança de que esses recursos naturais serão colocados a serviço do povo brasileiro e de outros povos oprimidos. Por outro lado, não há como ignorar a gritante desindustrialização que o país atravessa desde que foi invadido pelo neoliberalismo. Hoje, ainda temos os ambientalistas, que certamente farão oposição a uma expansão das atividades mineradoras no país – especialmente se estiverem a serviço da indústria nacional.

Fui longe nessa reflexão. Apesar de dividido, diante do cenário político atual, creio que haja uma nova oportunidade para a indústria brasileira de computação. Há uma oportunidade para todos os países atrasados diante da debilidade do imperialismo. O Vale do Silício fez da Califórnia o que é hoje. Será que veremos um “Vale do Grafite” por aqui? A burguesia nacional não tem nenhum interesse nisso, dado que jamais veríamos uma descoberta científica brasileira em destaque na Folha de S. Paulo ou no Estado, como estava esse artigo na manchete do jornal chinês. A revolução tecnológica no Brasil depende de uma revolução social, como a que houve na China em 1949.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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