O comitê central do Partido Comunista Brasileiro se reuniu, no último dia 15, para publicar uma nota oficial de apoio ao “partido irmão, o Partido Comunista da Venezuela (PCV)”, apresentado na lisonjeira publicação como “lutadores e lutadoras comprometidos/as com a classe operária e os setores populares venezuelanos, que vêm denunciando os compromissos do Governo com a agenda neoliberal”, caracterização, no entanto, que se choca com as posições pró-imperialistas adotadas pelo PCV em relação ao Essequibo. O próprio partido reconhece “a justeza da reivindicação histórica da Venezuela contra a desapropriação executada pelo Império Britânico no final do século XIX”, porém, evidencia sua submissão aos grandes monopólios ao declarar:
“Rejeitamos o caminho da escalada das tensões diplomáticas, políticas e militares assumidas pelos governos burgueses de ambas as nações e promovidas pelas companhias petrolíferas após a descoberta de grandes jazidas de petróleo e gás na zona em disputa, particularmente, pela ExxonMobil, cuja atuação direta no conflito coincide com a nomeação de seu Diretor Executivo, Rex Tillerson, como Secretário de Estado dos EUA em 2017. As transnacionais petrolíferas que se beneficiam das concessões outorgadas ilegalmente pelo Governo da Guiana cumprem um papel determinante nas ações direcionadas a radicalizar o conflito binacional em busca de uma decisão rápida que assegure seus interesses, enquanto abrem caminho à possibilidade de um choque entre povos vizinhos, com consequências imprevisíveis.”
Ora, a escalada das tensões se deve, objetivamente, à reivindicação venezuelana sobre o território roubado pelo imperialismo. Defender, como faz o PCV, uma “redução da escalada de tensões” implica, acima de tudo, no recuo do povo venezuelano e às suas corretas demandas. Seria manter uma estabilidade que, acima de tudo, interessa à ExxonMobil, reconhecida pelos “comunistas” como “beneficiada” pela situação atual.
Dado o fato impossível de ser contestado, mesmo pelo PCV, de que os monopólios petrolíferos se beneficiam com o petróleo venezuelano encontrado no Essequibo, uma organização marxista digna do nome apoiaria a inciativa de enfrentamento contra o imperialismo. No entanto, os “comunistas” convocam “o povo trabalhador da Venezuela e da Guiana a permanecer alerta e condenar energicamente, de cada lado da fronteira [grifo nosso], estas manobras que só favorecem o capital e as burguesias locais.”
A nota publicada pelo comitê central do PCB proclama que o “inimigo é o imperialismo, não os comunistas”, porém não passam de palavras vazias. O PCB as usa, no entanto, para colocar-se ao lado do imperialismo, em defesa de uma organização alinhada com os interesses do monopólio petrolífero norte-americano. Isto não é ter o imperialismo como inimigo, mas como mestre.
Um exemplo do quão desencontrada com a realidade é a política dos “comunistas”, na Argentina de 1982, governada por uma ditadura militar direitista, pró-imperialista e – esta sim – ferozmente anti-comunista, o governo do país sul-americano decidiu mobilizar tropas para fazer o mesmo que a Venezuela hoje: retomar o território roubado das Ilhas Malvinas, também pelo imperialismo britânico. Mesmo submetidos a uma das ditaduras mais sanguinárias do subcontinente, os comunistas argentinos apoiaram a iniciativa e trabalharam para as Malvinas voltarem a ser território argentino, como deveriam.
Naturalmente, um governo como o de Buenos Aires não podia lidar com o tipo de contradição aberta pelo conflito, porém tendo verdadeiramente a luta contra o imperialismo como prioritária, os comunistas e a esquerda argentina apoiou uma iniciativa da Ditadura Militar. Esta era, finalmente, a posição revolucionária a ser tomada. Fazer considerações mil por divergências com uma suposta “burguesia local”, como faz o PCV apoiado pelo PCB, mostra quão desconectados esses partidos estão da luta dos trabalhadores e do enfrentamento à ditadura global. Pior, transformaram-se em correias de transmissão do que dizem combater.