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8 de janeiro

Vale a pena rasgar direitos da população para prender Bolsonaro?

Colunista do portal 247 comemora ação policial contra deputado Carlos Jordy e prevê que Bolsonaro é o próximo. Será mesmo uma vitória da esquerda?

Bastou o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ) ser alvo de mandado de busca e apreensão executado pela Polícia Federal, no âmbito da 24ª fase da Operação Lesa Pátria, para que diversos setores de esquerda realimentassem a sanha repressiva que tem embasado sua política e comemorassem uma suposta vitória na luta contra o bolsonarismo.

É o caso do colunista Aquiles Lins, do Brasil 247, que escreveu o artigo intitulado Batida da PF contra Carlos Jordy pelo 8/1 é sinal de que a hora de Bolsonaro está chegando, publicado nesta quinta-feira (18). 

O colunista nutre a ideia segundo a qual a investigação dos envolvidos no ato de 8 de janeiro de 2023, mirando um deputado bolsonarista, estaria “saindo do ‘baixo clero’, ou seja, os bolsonaristas que executaram a quebradeira, e subindo para o andar de cima, onde estão os que articularam a organização, o financiamento, a logística e a promoção dos atos terroristas”. 

Um otimismo ilusório, sem fundamento na realidade, é o que estimula as previsões de Lins. Em nenhum momento, o colunista se pergunta por que foi o “baixo clero”, e não o “alto clero” do bolsonarismo os únicos investigados e punidos até agora. O ato de 8 de janeiro completou recentemente um ano, e nenhuma figura política relevante e verdadeiramente poderosa foi alvo das instituições responsáveis por investigar o caso. Não passa pela cabeça do articulista que a oposição que frações fundamentais da burguesia desenvolvem contra Bolsonaro não significa de maneira nenhuma a intenção de destruir ou eliminar o bolsonarismo, mas sim de manter a extrema direita contida, restrita a determinados limites.

A “caçada” judicial ao bolsonarismo, até o momento, não atingiu senão pessoas simples que apenas foram influenciadas pelo bolsonarismo ― funcionários da Sabesp, donas de casa, vendedores ambulantes, entregadores de aplicativos, entre outros. É assim que se derrota o bolsonarismo? Quando temos uma investigação judicial que não persegue o núcleo duro do bolsonarismo, mas, antes, as suas franjas, os seus elementos mais secundários, devemos então concluir que essa investigação está de fato, combatendo, derrotando o bolsonarismo? Ou teremos, ao contrário, que concluir que se trata de uma farsa, de um circo, de uma investigação cujos objetivos não consistem no combate ao bolsonarismo, mas em alguma outra coisa?

Mas para além das ilusões do articulista, a questão fundamental a ser debatida é o apoio que boa parte da esquerda, a exemplo de Lins, oferece à ação do Poder Judiciário. As ações policiais e o processo judicial conduzido por Alexandre Moraes, do STF, contam com o mais irrestrito apoio de Lins, e nem uma única palavra de questionamento é mencionada. Isso significa que Lins e essa esquerda concordam e prestam apoio a uma das maiores arbitrariedade judiciais dos tempos recentes no país. Os processos judiciais contra os participantes do 8 de janeiro foram levados adiante rasgando, como uma folha de papel higiênico, as mais elementares regras do devido processo legal em geral e do processo penal em particular: denúncia genérica da realização do crime, com ausência de individualização da conduta criminosa; a afirmação do cometimento de “crimes de multidão”, isto é, aquele que se configura pela simples participação em manifestação tida como criminosa; ausência de provas; ataques ao direito à ampla defesa e ao contraditório, e assim por diante. O Poder Judiciário, sob a batuta do Supremo Tribunal Federal (STF), joga na lata do lixo os direitos democráticos do povo, criando uma completa aberração jurídica e uma verdadeira farsa política. 

Para Aquiles Lins, se se trata de prender Bolsonaro, tudo isso está mais do que justificado. Bolsonaro “têm razões de sobra para não conseguir dormir esta noite”, conjectura Lins. “Bolsonaro é o mentor do 8 de Janeiro e este episódio deplorável da nossa democracia não será devidamente superado sem que ele seja responsabilizado”, conclui. As arbitrariedades sistemáticas em que se resumem os processos judiciais do 8 de janeiro são mais do que bem-vindas, se conduzirem à prisão de Bolsonaro. 

Aquiles Lins manifesta aqui o pensamento que se apoderou da maioria das organizações e personalidades da esquerda. Uma esquerda que abandonou totalmente a defesa dos direitos democráticos, isto é, uma esquerda que abraçou, ao fim, o programa repressivo da direita. Para prender Bolsonaro, às favas com os direitos democráticos! Não é preciso ter muita perspicácia para saber os resultados de tal política.

Em primeiro lugar, está comprovada a ineficácia dessa estratégia. O caso norte-americano, com Trump, o demonstra. Trump é alvo de uma dezena de processos nos EUA, e qual é o resultado disso? Simplesmente, ele é o líder absoluto das intenções de voto e o grande favorito, com larga margem, nas próximas eleições presidenciais. No Brasil, o andamento da situação não é muito diferente. Bolsonaro já foi declarado inelegível pelos tribunais, mas sua popularidade não deu mostras de queda. A perseguição judicial a Bolsonaro, como mostra o caso Trump, resultará no efeito contrário ao pretendido pela esquerda. 

Lins, ademais, considera que, prendendo Bolsonaro, o bolsonarismo estaria praticamente derrotado. Trata-se de uma visão infantil, que desconsidera os fundamentos sociais da ascensão da extrema direita no Brasil. Não é à toa que ele pede a prisão de Bolsonaro, mas não fala nada sobre os generais bolsonaristas. O bolsonarismo é hoje um movimento político constituído, que se apoia, em grande medida, no aparato de repressão do Estado, isto é, na polícia, nas Forças Armadas, no Poder Judiciário. Lins, ao fim e ao cabo, quer que as instituições dominadas pelo bolsonarismo combatam Bolsonaro e o próprio bolsonarismo. Mais do que infantilidade, estamos diante de uma posição temerária e suicida.  

Em segundo lugar, a consolidação de um estado de total arbítrio, em que os resquícios de direitos e liberdades democráticos sejam totalmente eliminados, terá a esquerda, o movimento operário e popular e suas organizações como os principais prejudicados. A cada vez que os direitos democráticos são pisoteados, mais o aparato repressivo do Estado burguês alarga sua margem de ação e se fortalece. E quem são as principais vítimas desse aparato? 

O colunista do Brasil 247 se joga nos braços da direita tradicional, a mesma força política que liderou o golpe de Estado de 2016. É essa direita a fonte dessa política. O resultado não será nada bom para a esquerda de conjunto. Se hoje fingem que caçam Bolsonaro, amanhã caçarão de verdade a classe operária, as massas e suas organizações. A esquerda, nesse sentido, prepara a corda que a enforcará no futuro próximo. 

 

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