Desde que “Israel” rompeu a trégua em 1º de dezembro de 2023, sua ofensiva genocida contra a Faixa de Gaza centrou-se nas regiões central e sul do enclave. Uma das principais cidades alvo do Estado sionista é a cidade de Khan Younis, alvo de incessantes bombardeios e incursões militares por parte das Forças de Defesa de “Israel”. A ofensiva sobre a cidade, além de resultar em novos assassinatos, força mais e mais palestinos a migrarem para o sul, em direção a Rafá, fronteira com o Egito, resultando em uma catástrofe humanitária.
É uma clara tentativa de expulsar os palestinos de suas terras. Apesar disto, o imperialismo tenta, a todo custo, justificar essa política genocida, a exemplo de recente matéria publicada no jornal The Financial Times, sob o título Relatório Militar: a batalha por Khan Younis, na qual tenta justificar o assassinato sistemático de civis palestinos.
Contudo, é impossível esconder a realidade do genocídio. Afinal, os palestinos da cidade de Khan Younis (assim como os demais) não são estranhos ao fascismo de “Israel” e dos judeus sionistas, sendo notório o Massacre de Khan Younis, de 1956.
O massacre aconteceu em 3 de novembro daquele ano, e foi perpetrado pelas Forças de Defesa de “Israel” (FDI) tanto na cidade de Khan Younis, quanto no campo de refugiados de Khan Younis, este situado a oeste da cidade, na costa do Mediterrâneo, sendo parte da Província de mesmo nome, fazendo ainda fronteira com o Egito.
A saber, o campo surgiu em 1948, durante a Nakba, quando os palestinos estavam sendo sistematicamente expulsos de suas terras pelos sionistas. Já naquele ano, o campo contou com cerca de 35 mil refugiados, o que dava a dimensão da limpeza étnica que os judeus haviam realizado para fundar “Israel”. Em 2017, segundo censo realizado pelo Escritório Central Palestino de Estatísticas, estima-se que havia 41.128 refugiados, mostrando que o sionismo nunca abandonara seu objetivo de expulsar os palestinos de suas terras.
Pois bem, como afirmado acima, soldados das FDI perpetraram o massacre no dia 3/11/1956. A conjuntura política era a Crise de Suez, também conhecida como Segunda Guerra Árabe-Israelense ou Guerra do Sinai. Foi uma guerra em que “Israel”, junto do imperialismo britânico e francês, travou contra o Egito, com o objetivo de derrubar o líder nacionalista Gamal Abdel Nasser e obter o controle sobre o Canal de Suez, uma das principais rotas marítimas do mundo, fundamental para a estabilidade da economia imperialista. A guerra teve início em 29 de outubro de 1956, com “Israel” invadindo o Egito a fim de reabrir o Estreito de Tiran e o Golfo de Aqba. Ao fim, com o forte aparato militar do Estado Sionista, e com o apoio dos ingleses e dos franceses, o Egito foi parcialmente derrotado, com “Israel” ocupando a Península do Sinai. A derrota foi parcial, pois manteve o controle sobre o Suez. Contudo, foi um controle relativo, pois resultou da intervenção dos Estado Unidos, que impediu o imperialismo francês e britânico de assumir a posição vantajosa sobre essa importante rota comercial.
Foi justamente durante a operação das FDI para reabrir o Estreito de Tirar que o Massacre de Khan Younis foi perpetrado. Assim relata o historiador judeu israelense Benny Morris, que informa o assassinato de 200 palestinos nas cidades de Khan Younis e Rafá:
“Ao todo, as tropas israelenses mataram cerca de quinhentos civis palestinos durante e após a conquista da Faixa. Cerca de duzentos deles foram mortos durante os massacres em Khan Yunis (em 3 de novembro) e em Rafa (em 12 de novembro) (Benny Morris, Righteous Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict, Random House 2011 p. 295).”
Noam Chomsky também falou sobre o massacre, chegando, inclusive, a citar um número maior de palestinos assassinados. O linguista e comentarista político judeu norte-americano, citando o jornalista norte-americano Donald Neff, informa que 275 civis foram assassinados pelas tropas sionistas, quando invadiram suas casas sob o pretexto de buscar por guerrilheiros palestinos (Noam Chomsky, The Fateful Triangle (1983), Pluto Press, 1999, p. 102).
Da mesma forma como age a Polícia Militar brasileira após as chacinas que perpetra contra os trabalhadores das periferias, dando justificativas falsas e cínicas de que os assassinatos foram resultados de trocas de tiros com pessoas que também estavam armadas, a justificativa oficial do Estado israelense e das FDI para o massacre foi que eles se depararam com combatentes palestinos e uma batalha foi desencadeada.
Contudo, a realidade mostra-se sendo outra. Segundo os moradores do campo de refugiados, a maioria dos assassinatos ocorreu após a ação das FDI para retomar o controle sobre a região, a fim de concretizar seu objetivo tático de reabrir o Estreito de Tirar e o Golfo de Aqba. Nesse sentido, vale informar que em março de 1957, as tropas israelenses foram forçadas a se retirar de Gaza e de Sinai, em razão da pressão da comunidade internacional. Com isto, foi descoberta uma cova coletiva com corpo de 40 palestinos, nas redondezas de Khan Younis, corpos estes com marcas de tiros por trás da cabeça, sinalizando execução (Palumbo, Michael (1990). Imperial Israel. Bloomsbury Publishing. p. 32).
Para além de tais evidências materiais para o massacre, há também outros testemunhos. Segundo Abdel Aziz al-Rantisi, líder palestino e co-fundador do Hamas, que tinha apenas oito anos quando ocorreu o massacre, 525 palestinos, incluso seu tio, foram assassinados pelas FDI “a sangue-frio” (Jean-Pierre Filiu, Gaza: A History, Oxford University Press, 2014 pp.95-100).
Até mesmo um soldado sionista teve de revelar a crueldade com a qual as tropas das FDI realizaram o massacre de Khan Younis. A revelação se deu no ano de 1982, após ele ter se tornado jornalista:
“Em alguns becos encontramos corpos espalhados no chão, cobertos de sangue, com as cabeças quebradas. Ninguém se encarregou de movê-los. Foi terrível. Parei em uma esquina e vomitei. Eu não conseguia me acostumar com a visão de um matadouro humano” (Sacco, Joe (12 October 2010). Footnotes in Gaza. Metropolitan Books. p. 118. ISBN 978-0-8050-9277-6).