A prefeitura de São Paulo tem tudo para cair nas mãos da direita novamente, e sem muito esforço. Parte considerável do trabalho já foi feito pelo Partido dos Trabalhadores, com a chapa indigesta Guilherme Boulos e Marta Suplicy.
Não resta sombra de dúvidas que o PT possuía candidatos para a prefeitura da maior capital do país, e gente com larga história na formação do partido, e com participação no movimento operário. Esses seriam candidatos naturais no PT, mas não foi assim: sua militância e outras pessoas que pretendiam votar na legenda ficaram com a bucha Boulos/Marta.
Guilherme Boulos foi alçado a grande líder da esquerda em uma manobra da própria burguesia e sua imprensa. Até aí, nada de novo. O problema é o PT aceitar isso e encampar sua candidatura dentro de suas próprias fileiras. Como se Boulos não tivesse tido participação significativa no próprio golpe de Estado de 2016.
Àquela altura, Boulos organizava manifestações em São Paulo contra o “ajuste” de Dilma Rousseff, no mesmo tempo em que a direita tomava a avenida Paulista para pedir a derrubada da petista. A política correta era se colocar contra o golpe, coisa que Boulos nunca se dispôs a fazer. É o homem do “não vai ter Copa”, ingrediente fundamental para o golpe.
Já Marta sequer estava no PT. Inclusive já era uma política conhecidamente ligada aos interesses da direita “científica” de São Paulo, tendo se filiado ao Solidariedade e, depois, ao MDB, apoiando Bruno Covas, Márcio França e outros golpistas tradicionais.
Mas não foi só. Marta também foi abertamente favorável ao golpe de Estado de 2016, tendo votado favoravelmente ao impeachment de Dilma Rousseff naquela ocasião, quando era senadora.
Aliás, sobre o golpe, ela mesma diz que esse argumento “é uma tristeza”. “Eu acredito que a comprovação jurídica ficou absolutamente clara. Que foi feito de propósito e escondidos os gastos a mais do Congresso Nacional para poder usar um recurso que não teria condição econômica de usar. E isso está claríssimo. (…) A Dilma paralisou o Brasil”, disse, em 2016 ao El Pais.
Na medida em que é feito acordos políticos dessa natureza, com inimigos do partido, e ainda sem qualquer justificativa, o recado dado à base partidária é que eles, Boulos e Marta, são de confiança. Isso leva a uma total desmoralização da chapa e do próprio partido. Será difícil encontrar alguém disposto a panfletar em defesa dessa chapa sem que essa pessoa cobre algum valor.
Por outro lado, os opositores já preparam seus ataques contra a chapa. O caso Alckmin, inimigo da classe trabalhadora de São Paulo, foi um exemplo disso. Quando de seu anúncio como vice da chapa de Lula, os bolsonaristas fez questão de “denunciar” a chapa como sendo a chapa do “sistema”. Agora é prato cheio: um candidato que não tem nada a ver com PT, que já foi a favor do golpe, e uma vice, golpista de carteirinha, amada pela direita paulista.