América Latina

O que está acontecendo na Guatemala?

Após instituições de Estado tentarem impedir sua posse, presidente guatemalteco Bernardo Arévalo toma posse e alinha seus gabinetes e sua política com o imperialismo

A recente posse do novo presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo de León, foi marcada por uma série de tensões, culminando em uma cerimônia que se estendeu até a madrugada desta segunda-feira (15). Após a vitória eleitoral em agosto, onde Arévalo, um sociólogo e ex-diplomata, conquistou 58% dos votos válidos, o novo presidente enfrentou meses de incerteza devido a uma alegada tentativa de golpe liderada pelo Ministério Público guatemalteco.

As acusações de irregularidades eleitorais e a tentativa de retirar a imunidade de Arévalo como presidente eleito desencadearam uma ofensiva judicial que recebeu condenação internacional, por organizações como a ONU, OEA, União Europeia e Estados Unidos. Sanções foram impostas a promotores, juízes e deputados acusados de corrupção e minar a democracia. O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, expressou apoio à posse do presidente eleito em uma declaração conjunta, juntamente com outros líderes de Estado que participaram da cerimônia de posse. Curiosamente, aqueles que mais se mostraram preocupados com o “golpe” contra Arévalo são os que mais se envolvem em golpes de Estado mundo afora.

A jornada para a posse não foi tranquila, com atrasos significativos devido a disputas políticas no Congresso guatemalteco. A tentativa de declarar os deputados do Movimento Semilla como “independentes” gerou tumulto, e apenas com a intervenção da Suprema Corte de Justiça da Guatemala foi garantido o prosseguimento da posse. Em meio a essa turbulência, Arévalo reafirmou seu compromisso com a “democracia” e anunciou planos de solicitar a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras nos próximos dias.

Na sequência de uma polêmica operação de busca e apreensão no Tribunal Supremo Eleitoral da Guatemala, realizada entre 29 e 30 de setembro de 2023, o Ministério Público (MP) do país apreendeu atas eleitorais referentes às eleições de junho. Esta ação foi duramente criticada por Bernardo Arévalo, presidente eleito, que alegou se tratar de um golpe em andamento para impedir sua posse em 14 de janeiro. Para Arévalo, o MP guatemalteco vem sistematicamente violando o sistema jurídico do país, e ele acusou as instituições de promoverem uma violência golpista contra a vontade popular.

Diante desses acontecimentos que se deram no ano passado em resposta a eleição de Arévalo, milhares sairam as ruas em apoio a Arévalo, denunciando um suposto “golpe contra a democracia” e exigindo respeito pelo sistema eleitoral. Manifestações foram registradas em diversos pontos do país, como em Ixcán, Quiché, onde os manifestantes planejavam permanecer na ponte Chixoy. A mobilização se estendeu a outros 30 locais em todo o território guatemalteco, com a população protestando contra a alegada interferência nas instituições eleitorais.

Em resposta às manifestações, Arévalo expressou apoio aos protestos e encorajou a população a continuar rejeitando o que considera um golpe. Entretanto, a Suprema Corte de Justiça da Guatemala rejeitou um recurso na época apresentado pelo presidente eleito contra a decisão de autoridades judiciais que ordenaram a busca em um centro eleitoral e a abertura de urnas com votos.

Já nesse ano, após assumir, Bernardo Arévalo apresentou um gabinete paritário composto por sete homens e sete mulheres, destacando seu compromisso com a luta contra a corrupção. Contudo, a escolha de dois membros vinculados a empresários e políticos tradicionais gerou críticas. Jazmín de la Vega, ligada à poderosa cúpula empresarial, foi nomeada ministra das Comunicações, Infraestrutura e Habitação, enquanto Francisco Jiménez, ex-ministro de Governo durante a gestão de Álvaro Colom, foi indicado para a Casa Civil, apesar de acusações de corrupção contra o ex-presidente. O presidente eleito também anunciou a criação de uma Comissão Nacional contra a Corrupção. Enquanto enfrenta ofensivas legais do Ministério Público por supostas irregularidades eleitorais, Arévalo reafirmou sua posse e destacou a inexistência de impedimentos legais para assumir a presidência. 

A política de Arévalo se assemelha com a política de Gabriel Boric, que reprimiu indígenas e governou para o imperialismo. Identitários como Gabriel Boric, ao adotarem uma abordagem demagógica ao formar um gabinete com predominância de mulheres e proferir discursos na língua dos Mapuche, mostram uma crescente presença na política. Contudo, o apoio explícito de Boric aos interesses imperialistas na Celac-UE de 2023 nos faz pensar qual a verdadeira política de Boric.

A permanência de Arévalo no segundo turno das eleições guatemaltecas foi assegurada pela reação da comunidade internacional, contando com a condenação do secretário de estado dos EUA e de Luis Almagro, líder da OEA, contra qualquer interferência das oligarquias locais nos resultados eleitorais. Esse respaldo evidencia o interesse do imperialismo norte-americano na eleição de Arévalo, um fervoroso defensor dos interesses imperialistas. A orientação neoliberal do presidente eleito é evidenciada por suas posturas direitistas, como condenar os regimes soberanos da Nicarágua e Venezuela, rotulando-os como “ditaduras”, apoiar sanções econômicas à Rússia e exigir o cancelamento do contrato para importar a vacina Sputnik V. 

Sua aproximação com o Governo Boric na “agenda verde”, sua ligação com o partido democrata e Joe Biden, e seu apoio ao governo de extrema direita de El Salvador, liderado por Nayib Bukele, destacam uma trajetória em sintonia com políticas pró-EUA. O governo de Arévalo é previsto como mais do mesmo, seguindo uma abordagem neoliberal que pode atacar os direitos da população guatemalteca, ecoando as práticas de Boric no Chile, representando, assim, um golpe significativo contra o movimento dos trabalhadores guatemaltecos.

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