O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na última semana realizou uma viagem por todo o Oriente Médio. Ele começou com uma passada na Grécia, indo para a Turquia, o Catar, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, o Barém, a Jordânia, “Israel”, a Palestina ocupada e terminando com a ida ao Egito. A derrota do Estado de “Israel” ante a resistência Palestina, apoiada por todo o Eixo da Resistência, exigem uma intervenção do imperialismo para reorganizar a região e, analisando a viagem de Blinken, parece que a intervenção dos EUA será comprando os governos reacionários da região.
A Turquia foi a primeira visita. Ela se diferencia dos demais por não ser um país árabe, além disso, é um membro da OTAN e, de certa forma, é o país que está em maior contradição com o imperialismo. A Turquia tem dois aspectos importantes que afetam o domínio imperialista na região. A primeira é sua relação estreita com o Hamas, o governo Erdoğan faz parte da mesma organização internacional que o partido palestino, a Irmandade Muçulmana. Em segundo lugar é que há um acordo da Turquia com os EUA sobre a ocupação da Síria. Os turcos ocupam regiões ao norte do país. Conforme a crise aumenta, a Síria tende a se chocar militarmente com o imperialismo, a posição da Turquia é da maior relevância.
Outra questão, que envolve a Turquia sem envolver a guerra na Palestina, é a sua participação na OTAN. Os EUA estão atrasando a venda de 40 jatos militares F-16s. Eles faziam parte do acordo de aceitação na Suécia na OTAN. Esse, por sua vez, tem relação direta com a guerra na Ucrânia. A Suécia seria uma forma de encurralar os russos. As tensões em relação à OTAN são importantes, pois afastam a Turquia da esfera de domínio do imperialismo. É importante também salientar que os turcos possuem um exército ligado a OTAN no oeste do país e um exército independente no leste, onde está atuando na Síria contra os curdos aliados dos EUA.
As principais visitas de Blinken foram às monarquias produtores de petróleo do golfo pérsico; Emirados Árabes, Arábia Saudita, Catar e Barém. Essas são as nações mais reacionárias da região, sendo o Catar um pouco mais neutro, mas que estão muito pressionadas com a questão da Palestina, que tem apoio total da população árabe. O caso da Arábia Saudita é o mais emblemático. Imediatamente após a visita de Blinken, os representantes do governo saudita começaram a falar em normalizar relações com Estado de “Israel”.
Uma das grandes vitórias da operação Dilúvio de Al-Aqsa, lançada pela resistência Palestina no dia 7 de outubro, é que “Israel” se isolou novamente no Oriente Médio. O imperialismo estava comprando o governo saudita, o mais importante país da península arábica, para normalizar relações com os sionistas. Em 2020, o imperialismo conseguiu aprovar os Acordos Abraão em que normalizou relações entre Barém, Emirados Árabes e “Israel”. Foi um primeiro passo, os sauditas nesse sentido seria uma grande vitória do imperialismo, principalmente agora que a Arábia Saudita tende ao bloco dos BRICS, inclusive aderindo formalmente ao bloco.
O fato dos sauditas começar a falar em normalização após a visita de Blinken só pode ter um significado: os EUA fizeram uma proposta generosa para que os sauditas não isolem “Israel” após o fim da guerra. Mesmo assim a conjuntura é difícil. O embaixador saudita na Inglaterra, que deu a notícia, afirmou que isso só será possível com a criação de um Estado da Palestina, mostrando que ainda é muito impopular tomar essa medida. Os sauditas também tem medo das ações do Iêmen, que estão em guerra com “Israel” e tem um acordo de cessar-fogo com a Arábia Saudita. Eles querem evitar a qualquer custo o fim desse cessar-fogo.
O caso do Barém é mais simples, a pequena ilha da península arábica é uma base naval norte-americana. Ele foi o único país que aderiu à operação militar contra o Iêmen lançada em dezembro de 2023. A situação era tão segura que Blinken nem visitaria a ilha, a visita, no entanto, foi marcada de forma surpresa após os iemenitas atacarem navio norte-americanos com drones. O ataque foi uma retaliação ao assassinado de marinheiros iemenitas pelos norte-americanos. A visita teve seu motivo comprovado poucos dias depois, quando os EUA e a Inglaterra começaram a bombardear o Iêmen. O Barém no momento é a principal base militar árabe dos EUA.
Por fim, há o caso do Egito. A ditadura do presidente Sisi foi imposta pelo imperialismo no golpe de 2013. Mas o governo está em crise, chegou até a aderir aos BRICS. Sua população apoia totalmente a Palestina e o Egito sempre foi o país que mais pode apoiar a causa Palestina, são 100 milhões de pessoas, em um país que faz fronteira com a Faixa de Gaza. O Egito inclusive é parte ativa do bloqueio de Gaza, o que é um eterno fator de crise. Nesse sentido, a visita de Blinken foi semelhante a da Arábia Saudita, os EUA anunciaram um acordo de envio de 330 milhões de dólares em armas.
Ao se analisar a visita de Blinken fica claro o porquê de “Israel” ter a capacidade de realizar um genocídio na Faixa de Gaza. Apesar de ser o mais reacionário regime da região, na prática, um enclave do imperialismo, o Oriente Médio consiste em sua maioria de nações que são submissas ao imperialismo. São sete monarquias e uma ditadura militar pró-imperialista (Egito), dois governos parlamentares destruídos pelas guerras imperialistas (Líbano e Iraque) e um governo ainda lutando para libertar o seu país (Síria). Apenas o Irã e o Iêmen atuam de forma independente e luta contra o imperialismo, são também os países que mais defendem a Palestina.