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Guerra no Oriente Médio

O que esperar do julgamento de “Israel” em Haia?

África do Sul apresentou acusação contra o Estado de 'Israel' nesta quinta-feira (11)

Nesta quinta-feira (11), teve início o julgamento de “Israel” na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda. A acusação, feita pela África do Sul, recebeu o apoio do governo brasileiro após reunião com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben.

O julgamento teve início com a apresentação dos argumentos da África do Sul, que acusa “Israel” de ter praticado atos condenados pela Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, da Organização das Nações Unidas (ONU). Embora a Corte não tenha competência para executar nenhuma medida penal, caso a acusação da África do Sul seja considerada procedente, o Estado de “Israel” será, portanto, considerado como “genocida” por um organismo da ONU.

Via de regra, as cortes internacionais servem apenas para condenar inimigos políticos do imperialismo – ou, no máximo, ex-aliados do imperialismo que acabaram sendo abandonados após entrarem em alguma contradição. Vale destacar que Vladimir Putin, presidente da Rússia e dirigente máximo de uma das guerras mais incruentas da história, que é a operação militar na Ucrânia, foi condenado, sem provas, pelo Tribunal Penal Internacional, enquanto Vladimir Zelensky, presidente de um regime nazista e que chegou a montar laboratórios biológicos contra os russos, não sofreu qualquer tipo de condenação.

A própria história de “Israel” também é prova da imensa incompetência dos tribunais internacionais. Por várias vezes, os mecanismos diplomáticos já foram acionados contra o governo de Benjamin Netanyahu. Até hoje, “Israel” sequer foi julgado.

É mais fácil arquivar os pedidos de condenação de “Israel” do que efetivamente absolvê-lo de seus crimes. Afinal, uma vez iniciado um julgamento, por mais farsesco que seja, os crimes de “Israel” acabam vindo à tona e se torna muito desmoralizante para a Corte absolver o Estado sionista. O fato atípico de a Corte de Haia ter dado prosseguimento ao julgamento é, portanto, uma mudança na situação política internacional.

Há uma possibilidade real de que “Israel” seja condenado. Não há, afinal, uma campanha agressiva da imprensa imperialista contra as acusações apresentadas pela África do Sul. No Brasil, jornais mais ideologicamente ligados à extrema direita, como o Gazeta do Povo, sequer comentam o assunto. Por fim, merece também destaque a atuação do governo brasileiro. Lula, que, diante das pressões da política interna, vem, cada vez mais, evitando uma posição de confronto com o imperialismo, decidiu apoiar a petição da África do Sul, indicando, portanto, que não há uma pressão dos Estados Unidos contra o julgamento.

Merece ainda destaque o fato de que as acusações estão sendo feitas pela África do Sul, um país que não está diretamente envolvido no apoio à luta palestina. De uma maneira geral, embora integre os BRICS, a África do Sul é um país muito mais “neutro” que, por exemplo, a Rússia e a China, que são os países que costumam liderar a oposição à dominação norte-americana. A liderança da África do Sul é, portanto, um indicativo de um consenso.

Os Estados Unidos não podem aparecer como apoiadores da condenação de “Israel”, uma vez que isso causaria um grande descontentamento com a burguesia judaica norte-americana – o famoso “lobby judeu”. Por isso, ao que tudo indica, o imperialismo, uma vez que não pode apoiar abertamente a condenação, estaria, ao menos, retirando os obstáculos para que ela aconteça.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, se limitou a chamar a acusação de “sem mérito ”. O mesmo disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, para quem a acusação seria “ sem mérito, contraproducente e sem qualquer base de fato”. Ainda que sejam declarações contrárias à condenação, não possuem o teor agressivo que normalmente acompanha os discursos dos representantes dos Estados Unidos quando são contrariados.

Por que, então, os Estados Unidos, o grande financiador de “Israel”, estariam, então, interessados em ver seu grande aliado no Oriente Médio no banco dos réus? Porque o objetivo da condenação em Haia não é o de desmantelar o Estado sionista, mas sim o de fazer uma condenação política à agressividade da guerra. E essa condenação, por sua vez, aumentará a pressão contra o governo de Benjamin Netanyahu.

A cada dia que se passa, vai ficando mais claro que, ao contrário do que diziam os discursos truculentos das autoridades israelenses, a Operação Dilúvio al-Aqsa e seus desdobramentos consistiram em uma verdadeira armadilha contra “Israel” e seus aliados. Apesar dos bombardeios genocidas, que já vitimaram dezenas de milhares de palestinos, o Estado sionista está colecionando derrotas militares. Por terra, se mostraram incapazes de derrotar as brigadas do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), forçando uma reorganização das tropas. Na fronteira com o Líbano, “Israel” também está sofrendo importantes baixas, provocadas pelo Partido de Deus (Hesbolá).

Não bastasse tudo isso, há ainda a ação das milícias xiitas e iraquianas, impulsionadas pelo Irã, que estão combatendo também as tropas sionistas. E, por fim, os Ansar Alá, grupo que hoje governa o Iêmen e declarou guerra a qualquer navio que trafegue pelo Mar Vermelho para fornecer apoio a “Israel”. Em nenhuma das frentes de batalha, “Israel” está vencendo. Some-se a isso ainda a mudança radical na opinião pública mundial, que passou a condenar veementemente os crimes de “Israel”, afetando, assim, o próprio governo de Joe Biden, nos Estados Unidos.

O problema interno norte-americano é, no final das contas, o problema central para entender a possível condenação de “Israel” em Haia. As sucessivas derrotas do Estado sionista, bem como a condenação geral por parte da opinião pública, está fazendo com que o governo de Joe Biden, que já é um governo fragilizado, entrar em uma crise muito profunda. Biden, que já se tornou presidente após uma complexa operação, tamanha a sua falta de lastro social, foi derrotado no Afeganistão pelo Talibã em seu primeiro ano de mandato, está prestes a sofrer uma derrota na Ucrânia e está perdendo a guerra no Oriente Médio. É um fracasso total.

O prolongamento da guerra seria, portanto, desastroso para o Partido Democrata. Diante da fraqueza de “Israel”, prolongar a guerra seria apelar para métodos ainda mais desesperados e, portanto, mais chocantes. Seria o mesmo que praticamente liquidar a possibilidade de reeleição de Joe Biden. Por isso, há uma preocupação crescente com o regime israelense.

Não há como “convencer” Netanyahu de levar adiante uma política menos agressiva. Ele é o chefe de uma coalizão de extrema direita, que defende abertamente a limpeza étnica da Palestina. Uma coalizão que, inclusive, é consciente da fraqueza do imperialismo e tem se aproveitado disso no último período para levar adiante a sua própria política.

Neste sentido, o que está verdadeiramente em jogo no julgamento de Haia é mais um capítulo da tentativa do imperialismo de derrubar Netanyahu. Dizer que é uma tentativa do imperialismo de pôr abaixo o atual governo israelense, por sua vez, não é deixar de reconhecer o mérito da luta dos palestinos e do povo árabe. É a sua tenacidade e a sua bravura que provocaram a crise no próprio regime norte-americano, que está sendo obrigado a levar adiante uma manobra arriscada para evitar uma explosão ainda maior.

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