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Carlos Porfírio

Natural de Trombas, no norte goiano, liderança camponesa sem-terra e militante comunista, homenageando o legado de José Porfírio

Coluna

Em defesa do discurso de ódio – II

Para os nossos pequenos burgueses nós não vivemos no Brasil, nós vivemos no mundo da ilha da fantasia

Estes textos acerca que tem como objetivo geral de fazer a defesa do discurso de ódio, apesar de ter o intuito de contribuir como um instrumento de orientação política para a classe operária saber minimamente se posicionar nos embates relacionados ao tema, não se almeja adotar um tom professoral, essa tônica já tem espaço nas salas de aula. Aqui estamos em um espaço político e que é instrumento do avanço dos trabalhadores nas lutas de classes, portanto se trata de um instrumento forjado para passar por duras circunstâncias políticas e sociais, porque as próprias condições objetivas e subjetivas da realidade que nos permeia nos obriga à tal postura. Como diria Lenin: aos políticos a política, aos pedagogos a pedagogia [1].

Dito isso de forma preliminar já para causar desistência na leitura dos que não estão preparados ou para fazer um alerta antecipado aos histéricos de plantão, vamos ao cerne da questão.

Para os nossos pequenos burgueses nós não vivemos no Brasil, nós vivemos no mundo da ilha da fantasia. Os policiais são dóceis, os juízes são eleitos pela classe operária, os promotores tem amor no coração, os políticos não são eleitos pela compra de votos e pela coação dos patrões contra os trabalhadores, a especulação imobiliária abdica das áreas e imóveis em favor dos sem-teto, o rapa apoia os camelôs e vendedores ambulantes, os latifundiários fazem caricias nos sem-terra, não são os pobres a esmagadora maioria – para não dizer a totalidade – que estão encarcerados nas verdadeiras masmorras que são as prisões brasileiras, a burguesia não detém mais o monopólio da violência. Tudo é perfeito! Não existe espaço para o ódio nessa sociedade maravilhosa, só existe terreno para o amor.

As pessoas não são submetidas a ter de mergulhar nas latas de lixo e de comer de comidas podres para sobreviver; as pessoas não tem de morar quase que dentro do esgoto a céu aberto porque os vazios urbanos servem para enriquecer mais e mais os latifundiários urbanos; as pessoas não tem que aceitar trabalhar 12, 14, 16 horas por dia para receber um salário que mal dá para uma refeição diária; as crianças não são submetidas a ter de ficar nos sinais, nos estacionamentos e na prostituição infantil, para ter como sobreviver. Aqui só existe paz, amor, alegria, felicidade, harmonia, solidariedade, compaixão, coletividade, etc.

Para os nossos pequenos burgueses praticamente vivemos no socialismo. Bastou que Lula entrasse no Palácio do Planalto e num passe de mágicas tudo virou perfeito, inclusive as pessoas que tanto se propagandeou que elas deveriam ser alvo de um processo de formação política, de educação popular e até mesmo da educação formal, que não tinham a consciência necessária para o convívio civilizatório, de uma hora para outra passaram a ter essa consciência e até mesmo devem ser penalizadas com o rigor da lei para não estragar o mundo das polianas da pequena burguesia, em caso de desalinhamento com os critérios de convívio social estabelecidos pelo ordenamento político e jurídico atual. A nova postura é a de que as pessoas já nascem sabendo, logo mais essa pequena burguesia também vai tá nas trincheiras do fim da maioridade penal, porque afinal, qual a necessidade disso tendo em vista que o mundo é perfeito e que as pessoas tem plenas condições de ter consciência do mundo em que vivem?

Se a pequena burguesia confia tanto no processo de educação e de aprendizagem, se acreditam fielmente na justeza das suas orientações políticas e de que estas estão em concordância com as tendências sociais, políticas, históricas, espaciais e psíquicas correntes, porque então adotar uma postura repressiva e de imposição? Porque se existe um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas, naturalmente as próprias relações sociais se alteram, sem que aja a necessidade de adotar posturas arbitrárias e persecutórias.

Os demagogos são os piores inimigos da classe operária! Aqueles que gritavam no ano passado: mais livros e menos armas! Hoje gritam: mais polícia! Rigor da lei contra quem a descumpre! Mais lotação nos presídios!

Plekhanov em seu Ensaio Sobre A Concepção Monista da História [2], nos traz uma importante contribuição afirmativa, mas também histórica e científica, alinhado as premissas teórico-metodológicas estabelecidas por Karl Marx e Friedrich Engels à respeito do socialismo científico, de que as dimensões objetivas e subjetivas da vida são elementos constitutivos – que se interpenetram e que são inseparáveis – do concreto. Essa é a definição da categoria monista, a indivisibilidade da realidade concreta.

Se existe uma indivisibilidade da realidade concreta, se a condição subjetiva não pode ser compreendida sem que se absorva os elementos constitutivos da realidade objetiva, e vice e versa [3], se se considerar que estamos em uma sociedade repleta de desgraça, fome, miséria, repressão, guerra e com o mais alto grau de exploração e exclusão do homem pelo homem, porque diabos a mentalidade coletiva iria produzir em absoluto apenas o amor?

Somente pessoas completamente desconectadas da realidade podem, de maneira arbitrária ou completamente equivocada, querer que as pessoas que vivem na mais completa desgraça e miséria, tenham uma mentalidade do paradisíaco reino de deus que vive a pequena burguesia poliana.

O Brasil é um país de capitalismo atrasado, que não fechou seu ciclo de desenvolvimento da revolução burguesa, tendo como atenuante o fator de ser uma colônia escravagista que torna o desenvolvimento da referida revolução bem mais lento do que foi nos países onde existiu o feudalismo. Isso significa, portanto, que o ciclo de estabelecimento da cidadania e de garantia das liberdades democráticas até os dias atuais não se fechou. Ser favorável a censura e a qualquer supressão das liberdades democráticas, só pode portanto, fortalecer aquilo que há de mais atrasado no país e impedir seu desenvolvimento para a construção de uma verdadeira libertação nacional.

Notas:

[1] Sobre a Confusão Entre Política e Pedagogia – Vladimir Lenin;
[2] Ensaio Sobre a Concepção Monista da História – Gueorgui Plekhanov;
[3] Contribuição à Crítica da Economia Política – Karl Marx.

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