O passado sombrio retorna com uma nova roupagem, e a comparação entre o gueto judeu sob o nazismo e o gueto de Gaza sob a atual autoridade fascista de “Israel”, longe de ser sacrílega, exige reflexão. As comparações não buscam estabelecer identidades exatas, mas sim destacar características críticas compartilhadas, que não podem ser consideradas acessórias.
A palavra “gueto” teve sua origem na designação italiana para o bairro judaico de Veneza, estabelecido em 1516 pelas autoridades locais para confinar os judeus da cidade.
Os nazistas viam a criação dos guetos como uma medida temporária para controlar e segregar a população judaica, enquanto a liderança nazista em Berlim debatia maneiras de efetuar a remoção definitiva desse grupo. Em muitos lugares, o isolamento nos guetos teve uma duração relativamente curta, variando desde alguns dias até alguns meses ou anos.
Com a implementação da “Solução Final” a partir do final de 1941, que consistia no plano de exterminar todos os judeus na Europa, os guetos foram sistematicamente destruídos pelos nazistas: em casos eles fuzilavam os judeus nas proximidades dos guetos, despejando seus corpos, então, em grandes valas; em outros casos, os deportavam, frequentemente em trens, para campos de extermínio onde seriam assassinados.
Uma minoria de judeus dos guetos foi deportada pelas SS e pelas autoridades da polícia alemã para campos de trabalho forçado ou campos de concentração.
Embora comparar o gueto judeu ao nazismo com o gueto de Gaza possa causar desconforto na pequena-burguesia, desviar o olhar dessa semelhança seria ignorar o horror que se desenrola atualmente. O massacre em Gaza é descrito por comentaristas especializados como sem precedentes na história moderna, marcado pela magnitude e rapidez com que ocorre. Além das mortes causadas por ataques aéreos incessantes, há a privação deliberada de necessidades básicas e atos premeditados de genocídio, reminiscentes do nazismo.
A comparação entre os dois guetos pode gerar debates sobre agendas genocidas distintas, mas isto se desvia do ponto central. O que une os dois casos é a motivação dos capitalistas e do imperialismo por trás disto.
Há valor político em reforçar essa comparação perturbadora. Justamente por ser uma forma de questionamento, tirando o público de sua complacência, negação e desespero. A comparação pode galvanizar ações, discursos políticos e protestos eficazes, destacando a urgência da crise atual.
Além do valor político, a comparação desconcertante é crucial para desmascarar mitos de longa data sobre a singularidade da vitimização judaica. “Israel”, ao se envolver no excepcionalismo, desrespeita repetidamente o direito internacional, cultivando uma arrogância que transcende as linhas vermelhas estabelecidas por convenções de Genebra e resoluções da ONU, instituições legais das quais não vê problema em se valer quando na posição de beneficiário.
Enfatizar essa comparação desafia a ideia de que a vitimização judaica é incomparável e elevada. Os judeus progressistas têm o dever de ajudar a desmantelar o controle sionista sobre essa vitimização singular, que serviu de fachada ideológica para o sionismo avançar contra os mais básicos princípios humanos em um genocídio que só encontra precedentes naquilo que foi considerado o algoz dos judeus: o nazismo.