Como visto nos últimos acontecimentos na Argentina, foi confirmado o que este Diário já vinha prognosticando, pegando a esquerda argentina, conforme o ditado popular, de “calças curtas”.
Diversas matérias produzidas alegavam o caráter ditatorial que Milei já estava propondo, durante o próprio processo eleitoral, que não era simplesmente um governo democrático, baseado no estado de direito, mas um golpe de Estado.
O presidente argentino deixou claro que iria lançar um plano de guerra contra os trabalhadores argentinos, sendo que para tal plano de guerra funcionar , para que pudesse implementar todo o seu plano, seria necessário modificar o regime político, modificando também as relações entre as pessoas e o Estado. Para confirmar esse prognóstico, no dia 20 de dezembro, Milei lançou um pacote imenso de 300 medidas, onde ele reduz a pó uma série de serviços sociais: acaba com a saúde pública e a aposentadoria, um plano que é uma hecatombe econômica contra o povo argentino.
Entre as medidas que ele decretou, há uma em especial que permite ao governo governar por decreto, ou seja, significa que o governo não tem que enviar um projeto para o Congresso Nacional e, daí, o Congresso aprova ou desaprova. Na Argentina, Milei encaminhou um decreto, dentre as 300 medidas, que ele pode aprovar leis ou revogar leis existentes por meio de próprios decretos. Em suma, um governo que governa por decreto é um governo bonapartista.
Um exemplo clássico de governo que governou por decreto foi o último governo da Alemanha, antes da ascensão de Hitler. O grande revolucionário Leon Trótski definiu que os governos bonapartistas são a antessala do fascismo, ou seja, pré-fascistas. Essa definição cabe muito bem ao governo Milei porque, se a medida dele for efetivamente consolidada, nós teremos na Argentina uma ditadura de fato. Milei não propõe simplesmente governar por decreto, mas reprimir o movimento operário, não admitindo piquetes e bloqueios de estradas ou ruas, além de processar as organizações que fizerem atos de rua. A medida em que a resistência aumentar, aumentará a repressão.
O que está acontecendo na Argentina nesse momento é da maior gravidade e as organizações políticas brasileiras de esquerda ou que defendam a democracia deveriam estar todas em prontidão. É preciso ter bem claro que é uma experiência, um plano piloto que em algum momento vai ser aplicado no Brasil. Nesse sentido, é preciso ficar em guarda contra a possibilidade de que isso vá acontecer no Brasil, apoiando os trabalhadores argentinos contra o governo Milei e mobilizando a classe operária no Brasil, no intuito de impedir avanços ditatoriais da extrema direita.