Na tarde da última quarta-feira (27), o youtuber e influenciador digital Paulo Cezar Goulart Siqueira, o PC Siqueira, cometeu suicídio. O fato repercutiu muito nas redes, na própria imprensa burguesa e também na progressista em geral. Noticiando a morte como uma tragédia, o que levou a isso é omitido em toda parte. O caso, ao invés disso, está sendo utilizado para impulsionar a campanha persecutória do PL das Fake News, mas vejamos um panorama da situação antes de chegar a isso.
O youtuber, talvez da primeira geração do tipo no Brasil, foi alvo de um cancelamento pelo apresentado no X (antigo Twitter) como um vazamento de conversas privadas suas, em formato de capturas de tela. PC Siqueira definiu como uma farsa para persegui-lo por suas posições políticas. Posteriormente, ocorreu um vazamento de áudios, com frases sem contexto para acusá-lo de pedofilia.
O cancelamento foi amplamente repercutido, numa verdadeira perseguição e impulsionada por calúnias, sem qualquer prova encontrada em momento algum para as alegações. A situação escalou para um julgamento público, pelas mãos da imprensa, no estilo da Lava Jato.
Cancelamento, uma política fascista
Ainda em junho 2020, quando essa etapa da campanha persecutória veio à tona, o portal de notícias G1 publicou artigo intitulado “PC Siqueira é investigado após vazamento de mensagens e acusações de pedofilia; youtuber diz ser ‘mentira'”. O tom condenatório perpassa todo o texto.
Sem qualquer condenação, vejamos uma declaração de Siqueira que exemplifica a repercussão imediata do cancelamento: “Recebi uma série de mensagens, acusações, xingamentos, minha família foi atingida, meu psicológico enormemente abalado.“
O cancelamento levou, de imediato, ao fim do projeto organizado junto a outros dois youtubers, Cauê Moura e Rafinha Bastos, o Ilha de Barbados, voltado a polêmicas e ao universo masculino. A justificativa para o mesmo foi típica da campanha do cancelamento:
“O objetivo da ação é preservar os profissionais envolvidos com o canal e que em nada tem a ver com as acusações sobre PC Siqueira. Uma frase descontextualizada das milhares de horas de conteúdo pode tranquilamente virar uma arma na mão de pessoas mal-intencionadas. Essa manobra é muito comum no ambiente virtual e nenhum de nós merece ter o nome ligado ao que está acontecendo.”
Em outras palavras, a campanha persegue um indivíduo sob acusações sem base e se volta também contra qualquer outro a quem ele seja associado ou que se disponha a defendê-lo, um método típico das mais cruentas ditaduras. A perseguição, então, não objetiva uma condenação jurídica meramente, mas o fim e a impossibilidade de o acusado manter um emprego e até mesmo relações pessoais. Neste contexto, o que se busca é claramente uma espécie de morte civil, castigo muito comum na Idade Média onde o infeliz condenado sofria uma espécie de morte social em vida.
A declaração pública de Cauê Moura sobre Paulo Cezar reflete o clima da política do cancelamento: “Mantive o silêncio até agora, mas o benefício da dúvida se esgotou. Que todos os envolvidos sejam submetidos à lei. Que essa criança seja salva com urgência.“
Segundo artigo no portal Metrópoles já em fevereiro de 2022, PC Siqueira é descrito como “um dos precursores da rede [Youtube] no Brasil, esteve envolvido em uma acusação de pedofilia e já fez post com estátua de Stalin“. Uma clara tentativa de colar uma acusação sem qualquer fundamento a Paulo Cezar, afinal, acusações podem ser feitas a qualquer pessoa, porém, o importante são as provas, não a acusação que, por si, não significa absolutamente nada. Isso ocorreu dois anos depois do caso, evidenciando como o cancelamento é permanente.
Antes da campanha, PC Siqueira chegou a apresentar programas na MTV entre 2011 e 2013, estrelar em filmes de comédia em 2017, e participar do reality “O Aprendiz”, na rede Bandeirantes, em 2019. Seu canal no Youtube, quando do fechamento desta edição, após toda a campanha, contava com 2,09 milhões de seguidores.
Aumento da campanha persecutória
Após nos situarmos do caso, pode parecer uma aberração que uma ampla frente se levante a favor do PL das Fake News. Da direita a progressistas e a esquerdistas. Os deputados federais André Janones (Avante-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) vieram a público chamar à aprovação da lei da censura nas redes.
De maneira ultra oportunista, levando à frente a campanha persecutória que vitimou Siqueira, Jandira afirmou “as fake news matam” e “o que as big techs farão a respeito? Nada! Porque lucram com as mentiras e o ódio disseminados em rede”. Ou seja, o problema não é a perseguição, as acusações, a condenação sem provas por órgãos venais da imprensa. O problema, para Jandira, é a falta de censura.
Uma farsa. Os deputados em momento algum saíram em defesa do direito de defesa, jamais denunciaram a perseguição e o cancelamento. Pelo contrário, buscam ampliar essa política, e cinicamente se dizem solidários àqueles próximos do youtuber. Apesar de não defenderem o fim de tais perseguições, acham apropriado fazer política sobre o cadáver dos vitimados por aquilo que defendem.
Uma série de veículos colocam agora o problema dos “tribunais das redes sociais”, mas isso nada mais é que desviar do principal. A campanha do cancelamento foi impulsionada pela imprensa burguesa, por esses mesmos veículos que hoje chamam a um aumento da censura nas redes.
A campanha que hoje vemos pelo aumento da censura nas redes é realizada por aqueles que impulsionam o que levou à morte de PC Siqueira. É uma campanha de abutres, levada adiante pelo imperialismo. Exemplo evidente da situação é o caso recente com o apresentador Bruno Aiub, o Monark.