O Santos de Pelé, na década de 1960, era o melhor time do mundo, estando à frente inclusive do Botafogo de Garrincha e dos jogadores da Copa do Mundo, e da Academia do Palmeiras de Ademir da Guia. O Alvinegro Praiano foi bicampeão mundial em 1962 e 1963. Para isso, no entanto, primeiro teria de ganhar a recém-criada Copa Libertadores — então chamada Copa dos Campeões da América.
A competição teve sua primeira edição no ano de 1960. O Brasil foi representado pelo Esporte Clube Bahia, campeão da Taça Brasil (Campeonato Brasileiro) de 1959, e foi vencido pelo uruguaio Peñarol, de Montevidéu. Na segunda edição, no ano seguinte, o clube uruguaio conquistou o bicampeonato e o representante brasileiro foi o Palmeiras.
Em 1962, a situação foi diferente. Pela primeira vez, um clube brasileiro conquistava a competição. Justamente o Santos, de Pelé. Além do Rei do Futebol, o Alvinegro Praiano estava repleto de craques.
No gol, Gilmar. Na defesa, Mauro, Dalmo e Lima. Calvet e Zito no meio-campo. Dorval, Mengálvio, Pelé, Coutinho e Pepe compunham o ataque. O time ainda contava com jogadores do nível de Pagão na reserva. Vários jogadores de Copa do Mundo e da Seleção Brasileira.
Os brasileiros iniciaram a competição no Grupo 1, ao lado de Cerro Porteño, do Paraguai, e Deportivo Municipal, da Bolívia. Na Vila Belmiro, em Santos, o Alvinegro venceu os paraguaios e os bolivianos por 9 a 1 e 6 a 1, respectivamente. Na Bolívia, venceu o Deportivo por 4 a 3. E no Paraguai, empatou com o Cerro Porteño em 1 a 1.
Nas semifinais, o Santos disputou contra o Universidad Católica, do Chile. O primeiro jogo, em Santiago, terminou empatado por 1 a 1. Na volta, em Santos, o time da Vila venceu por 1 a 0, gol de Zito, decretando a vaga na final, disputando contra o Peñarol, que buscava o tricampeonato.
No entanto, o Santos jogaria sem Pelé, que foi lesionado. No primeiro jogo, em Monteviéu, os santistas venceram por 2 a 1, com dois gols de Coutinho. Na volta, na Vila Belmiro, um dos jogos mais emocionantes da história, cheio de reviravoltas. Os uruguaios, além da violência desenfreada necessária para barrar os times brasileiros, também utilizou outros métodos sujos para vencer o Alvinegro Praiano.
O primeiro tempo terminou em 2 a 1 para o Santos, após uma virada do time paulista. No segundo tempo, começou a confusão. O goleiro Gilmar denunciou que, no segundo gol do Peñarol, que empatou, um atacante do time adversário havia lhe atirado terra nos olhos para prejudicar sua visão no lance do gol. No entanto, o árbitro nada marcou, levando a protestos da torcida santista.
Em seguida, o Peñarol fez um terceiro gol, com novo protesto do Santos, que reclamou de falta em Calvet. 3 a 2 para os uruguaios. Houve invasão de campo. Na retomada, Pagão, que substituía Pelé, empatou e o resultado dava o título ao Peixe. Chegou o apito o final e a festa tomou conta da Vila Belmiro.
No entanto, o título não estava ganho. “Ao entregar a súmula do jogo à Conmebol, o árbitro Carlos Robles registrou a garrafada no auxiliar, as brigas, as paralisações e que havia terminado o duelo logo após o terceiro gol do Peñarol. Ele informou que o jogo só durou 51 minutos e manteve o cronômetro rodando apenas por temer uma manifestação mais enervada da torcida local. Com isso, o gol de Pagão não valeu e o jogo terminou com vitória dos uruguaios” (Esquadrão Imortal – Santos 1960-1969, Imortais do Futebol).
Um terceiro jogo teve de ser disputado para definir o campeão. Em campo neutro, o estádio Monumental, em Buenos Aires e com arbitragem europeia de Leo Horn, 28 dias depois do segundo duelo. Agora, com Pelé, que fez dois gols do 3 × 0 da vitória santista, que conquistou a primeira Libertadores para o Brasil.
O mesmo Santos ainda conquistaria o bicampeonato, no ano seguinte, em 1963. No entanto, ficou por isso mesmo. O Santos e outros clubes brasileiros poderiam ter conquistado muito mais títulos da competição. No entanto, os brasileiros desistiram de participar seriamente do torneio diante dos roubos constantes da arbitragem e da violência extremada dos jogadores adversários, que caçavam os craques nacionais em campo. Os brasileiros preferiam realizar torneios amistosos internacionais para arrecadar fundos e divulgar o futebol-arte, que estava em seu auge. Por isso, surgiu uma hegemonia argentina e uruguaia na Libertadores até os brasileiros disputarem a competição a sério, por volta da década de 1980 e 1990.