“É muito visível uma perseguição ideológica contra o PCO por um problema puramente político”. É assim que Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), iniciou a Análise Política da Semana do último sábado (23).
Durante a transmissão do programa de análise mais tradicional da esquerda brasileira, Pimenta leu uma matéria publicada no sítio do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) que afirma que o órgão instaurou um inquérito para “apurar atuação de partido político [o PCO] na divulgação de conteúdo antissemita”.
“Por intermédio da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos – Inclusão Social, o MPSP instaurou inquérito civil para apurar eventual propagação de discurso de ódio e atos de racismo contra o povo judeu praticada pelo Partido da Causa Operária (PCO)”, diz o artigo lido.
O dirigente trotskista demonstrou que se trata de uma arbitrariedade, mais um ataque da burguesia contra o Partido:
“Segundo eles, a nossa política de oposição ao sionismo e ao Estado de Israel seria racismo. O Estado de Israel bombardeou a Faixa de Gaza, bombardeou civis indefesos, matando mais de 20 mil pessoas e feriu mais de 60 mil pessoas, a maioria dessas pessoas com ferimentos graves, produto de bombardeio indiscriminado em áreas residenciais sobre a população civil. É uma coisa digna da Alemanha nazista […] Nossa oposição a essa entidade política que realiza esses crimes contra a humanidade é classificada como discurso de ódio”, disse Rui.
Ele explicou, então, por que a acusação era infundada. “O que nós falamos? Falamos que ‘todo judeu tem que ser morto’? Não”, disse, afirmando que o que o órgão e, mais especificamente, o juiz, que aceitou a instauração do inquérito, estão fazendo é “uma falsificação da ideia de racismo”.
“A defesa do fim do Estado de Israel, segundo ele, seria racismo. Mas o Estado de Israel não é os judeus, é um Estado, uma organização política. A defesa de qualquer tipo de reorganização política no mundo não pode ser considerada como racismo”, afirmou.
Para mais informações acerca deste caso, confira a manchete publicada na edição de hoje do Diário Causa Operária ou acesse este link.
Há algumas semanas, Pimenta inicia todos os programas de sábado com uma discussão sobre o problema da liberdade de expressão. A denúncia da perseguição que o PCO sofre por parte do MPSP foi feita nesse sentido, finalizando o bloco sobre esse assunto divulgando a campanha que está sendo feita para recuperar o dinheiro que João Dória, ex-governador de São Paulo, arrancou do Partido em um processo claro de censura. Leia mais.
O enfrentamento entre Milei e a esquerda
Em seguida, Rui Costa Pimenta discutiu o problema da Argentina onde, após a vitória de Javier Milei, ocorreram atos contra o novo governo neoliberal. “O tema da semana é Argentina – disse, Rui – Infelizmente, na Argentina, confirmaram-se os nossos prognósticos e a esquerda argentina foi pega de calças curtas”.
Ele relembrou que, durante as eleições, o PCO denunciou que o que Milei estava propondo não era um governo democrático, dentro das quatro linhas da Constituição. Mas sim, o que o próprio presidente do Partido chamou de “golpe de Estado”.
“Ele ia lançar um plano de guerra contra os trabalhadores argentinos. Para que o plano de guerra pudesse funcionar, para que ele pudesse implementar todo seu plano, ele precisaria modificar todo o regime político, modificar as relações das pessoas com o Estado”, afirmou.
Então, o militante trotskista descreveu a destruição que o presidente argentino quer instituir com seus recém-divulgados pacotes econômicos, caracterizando as medidas de Milei como uma “hecatombe econômica contra o povo argentina”. Com isso, ele passou para o ponto central de sua discussão acerca da Argentina:
“Entre as medidas que ele decretou, tem uma medida que permite ao governo governar por decreto. Isso significa que o governo não tem que fazer como Lula está fazendo e está sofrendo aqui […] Na Argentina, ele mandou um projeto que diz que ele pode aprovar leis ou revogar leis existentes por meio de decreto.”
Segundo a percepção de Pimenta, a esquerda argentina ainda não registrou totalmente o que as medidas anunciadas por Milei significam, especialmente esse problema do decreto. Nesse sentido, ele disse que é preciso caracterizar o novo governo de maneira concreta, afirmando que “um governo que governa por decreto é um governo bonapartista”.
“Se a medida for efetivamente consolidada, teremos, na Argentina, um governo bonapartista, ou seja, uma ditadura […] O governo por decreto é uma ditadura, o Milei não se propôs simplesmente a governar por decreto, ele se propõe a reprimir o movimento operário. Ele falou que não vai admitir piquetes, não vai admitir bloqueio de estradas e de ruas, falou que, na manifestação que aconteceu no dia 20, ele vai entrar com um processo para que as organizações que fizeram o protesto paguem 60 milhões de pesos […] Quer dizer, conforme a resistência aumentar, ele vai aumentar a repressão”, afirmou.
O presidente do PCO considera que o que está acontecendo na Argentina é da maior gravidade e que, por conta disso, a esquerda brasileira deve estar atenta e observar com cuidado o que acontecerá lá. Mostrando que, eventualmente, tudo que acontece na Argentina, acontece no Brasil. “É preciso, portanto, além de apoiar os trabalhadores argentinos contra o governo Milei, estudar cuidadosamente o que está acontecendo na Argentina porque é bem provável que aconteça no Brasil”, disse.
A crise gerada pelo Iêmen
Por fim, Rui Pimenta falou brevemente sobre o problema da Palestina que, desde 7 de outubro deste ano, é alvo de bombardeios incessantes por parte do Estado nazista de “Israel”. No programa do último sábado, ele se concentrou em caracterizar a crise que os combatentes do Iêmen estão abrindo não só no Oriente Médio, mas no mundo.
“Na Palestina, a ofensiva israelense não está indo bem, mesmo. Tem um monte de gente falando em negociação, e tudo mais, mas tudo indica que as forças armadas sionistas não vão conseguir dobrar o Hamas. Ao mesmo tempo, temos aí claramente uma tendência para a ampliação da crise que apareceu do lado do Iêmen. Os Hutis fizeram um verdadeiro piquete no mar Vermelho contra a passagem dos navios israelenses a tal ponto que os norte-americanos tiveram que chamar um força-tarefa de 78 navios para proteger a navegação. O que já é complicado porque a navegação lá é muito intensa, proteger tudo aquilo é muito difícil. Os Hutis falaram que não vão para o ataque contra os navios”, afirmou.
Assista à Análise na íntegra: