Durante sua participação na posse do novo procurador-geral da República, Paulo Gonet, o presidente Lula voltou a criticar os métodos da Operação Lava Jato. O petista afirmou que “muitas vezes se destrói uma pessoa antes de dar a ela a chance de se defender” e pediu a Gonet que “só tenha uma preocupação: fazer com que a verdade, e somente a verdade, prevaleça acima de quaisquer outros interesses”. Trata-se, evidentemente, de referências à perseguição que o próprio Lula sofreu durante a preparação e as tentativas de consolidação do golpe de 2016.
Duas horas depois do discurso, contudo, Gonet anunciou sua nova equipe. E, assim como recentemente fez o ministro da Defesa, José Múcio, que se posicionou de maneira independente do governo na disputa da Venezuela pela região de Essequibo, Paulo Gonet decidiu fazer exatamente o contrário do que recomendou o presidente, humilhando o governo perante todos.
Gonet afirmou ainda, em seu discurso, que o momento é de “reviver na instituição os altos valores constitucionais”, um recado ambíguo, que tanto pode significar uma retomada dos métodos da Lava Jato, quanto uma superação deles. As suas nomeações, no entanto, deixaram claro o que significava a frase: um retorno à Lava Jato. O novo procurador-geral da República escolheu, para atuar em seu gabinete, nomes do Ministério Público Federal que atuaram em operações políticas flagrantemente ilegais e antipetistas, como os casos do mensalão e da própria força tarefa outrora protagonizada por Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
A postura de Gonet em seu primeiro dia como procurador-geral confirma aquilo que já era óbvio: sua indicação não foi o resultado de uma escolha espontânea do presidente Lula, nem foi mesmo, como muitos alegaram, uma “moeda de troca” para que o mandatário petista conseguisse indicar Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal. A indicação de Gonet, assim como a de Dino, foi uma imposição de inimigos do governo, cujo objetivo não era o de apenas fazer com que uma máfia de direitistas ocupassem cargos públicos, mas sim para que um novo golpe de Estado fosse organizado.
Os indícios de que há um golpe de Estado sendo arquitetado contra o governo Lula são inúmeros. Há motivação? Sim, bastante: o apoio do imperialismo a Javier Milei, na Argentina, mostra que o governo Lula não é, nem de longe, o que os capitalistas querem para o Brasil. Ainda mais quando levado em consideração a postura do governo na política externa, dada a importância do Brasil na política mundial. Há condições? Essa é a única dúvida. Mas o que pode ser dito com toda certeza é que a direita está buscando criar essas condições. A sabotagem contra o governo, em que se inclui tanto iniciativas como a invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro, como as extorsões do Congresso Nacional e a política monetária do Banco Central; são prova de que os capitalistas estão tentando minar o apoio popular que o governo tem.
O que também comprova que um golpe contra o governo Lula se torna uma alternativa cada vez mais viável para o imperialismo é o fato de que os cargos mais decisivos para um golpe de Estado começam a ser ocupados por figuras de confiança do imperialismo. No STF, assumiu a presidência Luís Roberto Barroso, considerado o “melhor” ministro para Deltan Dallagnol. Foi indicado, agora, um ministro com aparência esquerdista, mas com profundas relações com o imperialismo, que é Flávio Dino. Figuras assim, como foi Joaquim Barbosa, são fundamentais para dar uma cobertura “esquerdista” ao golpe de Estado. E, por fim, chegamos a Paulo Gonet, que, já em seu primeiro dia, dispôs seu gabinete a figuras profissionais em golpes de Estado.