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Bombardeios no Líbano

Apenas no cerco a Beirute, “Israel” matou cerca de 5 mil

Durante a Guerra Civil Libanesa, Estado sionista promoveu pesados bombardeios visando derrota da resistência palestina, à época lidera pela OLP

Em 1975, teve início a chamada Guerra Civil Libanesa, uma guerra impulsionada por “Israel” e pelo imperialismo para conter as tendências nacionalista no Líbano e, em especial, esmagar a resistência palestina, que, na figura da Organização pela Libertação da Palestina e do Fatá, havia se estabelecido no Líbano. A guerra resultou no assassinato de milhares de palestinos e libaneses pelo sionismo e no “deslocamento forçado” – isto é, na expulsão – de centenas de milhares, o que se deu, em grande parte, através do bombardeio sistemático das cidades e campos de refugiados.

Conforme vem sendo exposto nesse Diário, na série História da Palestina, nos anos de 1947 e 1948, o movimento sionista, com o apoio dos imperialismos britânico e norte-americano, e também do stalinismo, expulsou quase 1 milhão de palestinos de suas terras, apenas com a roupa do corpo, em um episódio que ficou conhecido como Nakba (catástrofe). Uma verdadeira limpeza étnica.

Muitos dos palestinos que foram expulsos migraram para o Líbano, país vizinho. Como a repressão de “Israel” nunca cessou contra os palestinos, muitos deles continuaram sendo expulsos da Palestina nos anos que se seguiram à Nakba, de forma que continuaram a se refugiar no Líbano, construindo vários campos de refugiados, tais como o de Sabra e Chatila, onde ocorreria um massacre anos mais tarde, em 1982, por milícias católicas maronitas, impulsionadas e apoiadas por “Israel”.

Tais milícias eram grupos tipicamente fascistas. Os principais eram o Partido Cataeb, os Guardiões dos Cedros, e as milicias Tigre (braço armado do Partido Nacional Liberal). Em razão das contradições nacionais que existiam no Líbano, e que assumiam a forma de conflitos religiosos, os católicos maronitas serviram para que o imperialismo e o sionismo estimulasse ações fascistas contra os palestinos.

Os palestinos jamais desistiram de lutar pela retomada de suas terras, de forma que os refugiados no Líbano passaram a se organizar, e a oposição a “Israel” no país, a crescer. De forma que, no ano de 1968, houve uma insurgência armada da resistência palestina. A partir do Líbano, a OLP liderava incursões contra “Israel”, de forma que os sionistas acionaram as milícias maronitas para lutar contra os palestinos e a OLP. A insurgência de 1968 foi um dos eventos catalisadores da Guerra Civil Libanesa.

Paralelamente a isto, mas não dissociado, em 1970, a OLP tentou tomar o poder na Jordânia, em razão do caráter capitulador da monarquia perante o sionismo e o imperialismo. Contudo, a tentativa não foi bem sucedida, e a organização foi expulsa do país. Acabou por se realocar no Líbano.

À época, a OLP ainda não havia capitulado perante “Israel”, então, quando no Líbano, seguiu travando a luta pela libertação nacional do povo palestino. De forma que era necessário a Estado sionista agir para conter a organização da resistência palestina. Foi nessa conjuntura política que teve início a guerra, a qual foi facilitada pelas contradições nacionais.

Da mesma forma como “Israel” vem fazendo contra Gaza desde o último 7 de Outubro, já naquela época o sionismo se utilizava de bombardeios sistemáticos para tentar acabar com a resistência palestina. Na realidade, para tentar acabar com os palestinos como um todo.

O que foi feito em inúmeras ocasiões, a exemplo do conflito no sul do Líbano, em 1978. Naquele ano, no dia 14 de março, “Israel” desatou a Operação Litani, com o objetivo de afastar os palestinos, em especial os militantes da OLP, da fronteira e, ao mesmo tempo, fortalecer o Exército do Sul do Líbano, aliado de “Israel”, com o fim de exercer sua ditadura sobre os palestinos por procuração.

Já de início, houve bombardeios pelo ar, mar e artilharias terrestres, para viabilizar uma incursão terrestre das Forças de Defesa de “Israel” na área ao sul do Rio Litani. Cerca de 25 mil soldados israelenses foram mobilizados, invadindo o sul do país e atacando posições da OLP. Ocorre que o número de combatentes palestinos era muito grande para ser contido. Assim, embora não pudessem derrotar imediatamente a ofensiva sionista, a OLP fez um recuo tático para o norte. No bombardeio, inúmeros libaneses e palestinos civis foram mortos, além do enorme dano à infraestrutura urbana do local. Como consequência disto, houve um deslocamento massivo de pessoas, algo semelhante como o que é visto agora em Gaza, mas em menor proporção. Estima-se que foram entre 100 mil e 250 mil.

Quanto aos mortos, Augustus Richard Norton, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston, afirma que os bombardeios da Operação Litani resultaram na morte de cerca de 1.100 pessoas, a maioria das quais libaneses e palestinos. Outras fontes, como Noam Chomsky e Spencer C. Tucker (professor norte-americano aposentado e autor de livros de história militar) estimam o número de mortos em cerca de 2000.

A guerra seguiu, até o ano de 1981, mês de julho, em que uma trégua foi firmada com a mediação do subsecretário de Estado norte-americano, Phillip Habib.

Contudo, essa trégua duraria apenas até junho de 1982. Como de praxe, “Israel” foi quem a violou. A justificativa foi a morte de um soldado israelense, que morreu ao pisar em uma mina do dia 21 de abril, visitando um depósito de armas do Exército Libanês do Sul, na Cidade de Taibe. Naturalmente, “Israel” culpou a resistência palestina. Contudo, segundo o jornalista britânico Robert Fisk (correspondente internacional que cobriu a guerra): “os israelenses não disseram o que o soldado estava fazendo… descobri que ele estava visitando uma das posições de artilharia de Haddad (milícia cristã) e que a mina poderia ter sido colocada já em 1978, talvez até pelos próprios israelenses”.

Segundo o historiador inglês Colin Shindler, professor emérito da Universidade de Londres e professor pesquisador sênior no Instituto Pears para o Estudo de Antissemitismo em estudos israelenses, em sua obra The Land Beyond Promise: Israel, Likud and the Zionist Dream (1995):

“Begin, Sharon e Eitan estavam procurando qualquer desculpa para neutralizar seus oponentes militares através de uma violação do cessar-fogo.”

“[…] aos olhos de Begin, o cessar-fogo não estava limitado geograficamente à fronteira libanesa. Ele argumentava que se o terrorismo palestino atingisse internacionalmente, isso também seria considerado uma violação do cessar-fogo. Begin assim considerava um impasse em uma batalha local como aplicável a toda a guerra em qualquer lugar do Oriente Médio ou a qualquer incidente internacional. Eitan comentou que não havia diferença se um militante lançasse uma granada em Gaza ou disparasse um projétil em um assentamento no Norte – todos esses atos quebravam o cessar-fogo. Da mesma forma, Sharon não desejava fazer distinções entre diferentes facções palestinas, já que toda a culpa tinha que ser atribuída à OLP”.

O governo de “Israel” tinha por objetivo, afinal, acabar com a resistência palestina, que continuava a travar a luta contra a ditadura sionista. Nesse sentido, romper a trégua e retomar a guerra era do interesse dos sionismo, que acreditava que poderia derrotar os palestinos.

Segundo historiadores judeus israelenses, ao principal homem por trás dessa política era o então Ministro da Defesa, Ariel Sharon, que eventualmente viria a ser primeiro-ministro de “Israel”.

De acordo com o cientista político Zeev Maoz, professor na Universidade da California, em sua obra “Defending the Holy Land: A Critical Analysis of Israel’s National Security and Foreign Policy“, os objetivos da guerra, desenvolvidos por Sharon, eram quatro:

  • “Destruir a infraestrutura da OLP no Líbano, incluindo a sede da OLP em Beirute.”
  • “Expulsar as forças sírias do Líbano.”
  • “Instalar um governo dominado pelos cristãos no Líbano, com Bashir Gemayel como Presidente.”
  • “Assinar um tratado de paz com o governo libanês que solidificasse a aliança informal entre Israel e os cristãos e a convertesse em um acordo vinculativo.”

No mesmo sentido, a análise de Avi Shlaim, historiador judeu israelense:

“[…] a verdadeira força motriz por trás da invasão de Israel ao Líbano foi o ministro da Defesa, Ariel Sharon. Um dos seus objetivos era a destruição da infraestrutura militar da OLP no Líbano e minar sua organização política, visando facilitar a absorção da Cisjordânia por Israel. O segundo objetivo era estabelecer o governo maronita no Líbano, liderado por Bashir Gemayel, e assinar um tratado de paz entre os dois países. O terceiro objetivo era expulsar o Exército Sírio do Líbano. Além disso, de acordo com Shlaim, com a conclusão das retiradas israelenses do Sinai em março de 1982, nos termos do Tratado de Paz entre Egito e Israel, o governo liderado pelo Likud em Israel endureceu sua postura em relação ao mundo árabe e tornou-se mais agressivo”.

Com o fim da trégua, as FDI, sob o comando de Sharon desataram a “Operação Paz pela Galileia”, no dia 6 de junho, que contou com forte aparato militar, nomeadamente, helicópteros de combate, artilharia, embarcações equipadas com mísseis, mais de 800 tanques e mobilizou cerca de 60 mil soldados, os quais foram, a todo tempo, apoiados por aeronaves de combate.

A invasão ao sul do Líbano se deu em três flancos, rumando em direção à costa norte de Sidon e, assim como havia sendo feito anteriormente, contou com pesados bombardeios promovidos por artilharia e aeronaves, atacando as posições da OLP. Na ofensiva, o exército sionista chegou a disparar 3.500 projéteis de 76 mm.

O paroxismo dos bombardeios israelenses contra o Líbano e a resistência palestina deu-se com o cerco de Beirute, que teve início no dia 14 de junho e durou até agosto.

Da mesma forma como está sendo feito a Gaza, o cerco foi feito por terra, ar e mar, estabelecendo-se um bloqueio total, que impediu a entrada de comida, água, combustível. Houve também corte de eletricidade. O objetivo era atacar os libaneses, os palestinos e sua principal organização de luta à época, a OLP, jogando um contra o outro, a fim de derrotar a resistência palestina. O mesmo modus operandi que está sendo feito hoje (sem sucesso), por “Israel” contra o Hamas e demais organizações.

O exército sionista bombardeou a cidade indiscriminadamente, pouco se importando se atingiria civis, e se a infraestrutura seria destruída. Estima-se que apenas no final da primeira semana, cerca de 500 prédios já haviam sido destruídos pelos bombardeios.

Ao fim, cerca de 5000 mil civis foram mortos, dentre palestinos e libaneses. No entanto, “Israel” não conquistou o objetivo militar de assassinar o comando da OLP.

A guerra no Líbano duraria mais vários anos, até 1990. Contudo, o sionismo não conseguiu ser bem sucedido em acabar com a resistência palestina. Além disto, da guerra, surgiu o partido xiita Hesbolá, que atualmente trava a luta junto dos palestinos contra o genocídio que “Israel” está perpetrando contra Gaza.

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