No começo de novembro, São Paulo sofreu um apagão que deixou cerca de 2,1 milhões de pessoas sem energia elétrica por dias. A responsável pelo desastre foi a Enel, multinacional italiana que está destruindo a rede de fornecimento de energia do estado, resultado da privatização do serviço.
Desde então, clientes continuam relatando que as quedas e oscilações de eletricidade não pararam após o fim do apagão generalizado. O Procon divulgou, inclusive, que cerca de 3,1 mil consumidores reclamaram contra a concessionária desde o dia 3 de novembro, um aumento de cerca de 100% comparado aos meses anteriores.
A Enel, todavia, se recusa a assumir a culpa pelo ocorrido. Em seus pronunciamentos oficias, a empresa se limita a dizer que as eventuais interrupções de energia – que ocorrem depois do apagão – podem ter origem em diversos fatores, principalmente os climáticos. Mais absurdo que isso: a multinacional afirmou, questionando o Procon, que houve uma queda nos índices de reclamação, ignorando uma série de queixas que foram prestadas contra a companhia.
Ao longo de novembro, a Enel reconheceu 81% das reclamações registradas no Procon. As queixas estão divididas em quatro grupos: descontinuidade do serviço essencial, problemas com serviço de atendimento ao cliente, perda de alimentos e comprometimento da saúde de consumidores. Um artigo do Estadão relata vários casos que foram ignorados pela empresa.
Fernanda Dennis, empresária de 44 anos, por exemplo, afirma ter ficado sem energia entre os dias 28 e 29 de novembro. A Enel, porém, afirma não ter registros de suas reclamações. Já a fotógrafa Rosanne Brancatelli, de 61 anos, disse que ficou sem luz entre 12h do dia 24 até 16h do dia seguinte. Apesar de ter ligado seis vezes para a empresa, esta diz que também não há registros de suas reclamações.
“Os transformadores não têm proteção. O menor galho que cai causa explosão dos equipamentos e enormes estragos. As árvores são vítimas da falta de planejamento”, diz Rosanne, que mora em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, há 10 anos.
Ao mesmo tempo em que ignora as reclamações novas dos clientes, a Enel está negando indenização por conta de aparelhos eletrodomésticos danificados pela falta de energia elétrica. A empresa afirma ter recebido 8.478 solicitações de ressarcimento. Destas, 964 foram negadas e 440 foram pagas. A companhia está segurando a esmagadora maioria (7074) em análise.