Neste dia, 12 de dezembro, há 74 anos, Davi Ben Gurion, o fundador de “Israel”, declarava Jerusalém a capital do Estado sionista.
Apesar da declaração, e do fato de os sionistas terem conseguido (com o apoio do imperialismo e do stalinismo) expulsar quase 1 milhão de palestinos de suas terras para fundar “Israel”, Jerusalém nunca chegou a ser de fato capital do Estado judeu.
Contudo, a declaração de Ben Gurion é mais um dos incontáveis episódios da história do sionismo e de “Israel” que demonstram como eles não tinham o mínimo respeito com as outras nacionalidades e culturas, em especial as outras religiões presentes no Oriente Médio, seja o islamismo, seja o cristianismo. Os sionistas, utilizando-se da demagogia religiosa para viabilizar seu projeto colonial sobre a Palestina, sempre exigiram respeito ao judaísmo, condenando o antissemitismo. O fazem até os dias atuais. Contudo, não demonstram o mínimo de respeito aos muçulmanos e cristãos e aos seus locais de cultos.
Embora Davi Ben Gurion seja apresentado pela máquina propaganda do sionismo e do imperialismo como uma figura democrática, libertadora, toda sua história depõe contra essa propaganda. Esse episódio de 12 de dezembro de 1949 é apenas um deles. Afinal, deve-se ter em mente que Jerusalém é uma cidade considerada sagrada pelas três principais religiões do mundo, pela ordem de adeptos: o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo.
Para os Cristãos, a importância de Jerusalém se deve por sua significância na vida de Jesus Cristo. “De acordo com o Novo Testamento, Jesus foi levado para Jerusalém logo após seu nascimento e depois em sua vida quando limpou o Segundo Templo” (Wikipédia, 12/12/2023). Ademais disto, “o local da última ceia de Jesus é localizado no Monte Sião no mesmo prédio que sedia o Túmulo de David. Outro lugar proeminente cristão em Jerusalém é o Gólgota, o local da crucificação […] A terra correntemente ocupada pelo Santo Sepulcro é considerado um dos principais candidatos para o Gólgota e ainda tem sido um local de peregrinação de cristãos pelos últimos dois mil anos” (idem).
Para os muçulmanos, segundo a Wikipédia, “Jerusalém é considerada a terceira cidade sagrada do Islamismo. Aproximadamente um ano antes de ser permanentemente trocada por Caaba em Meca, a quibla (direção da oração) para os muçulmanos era Jerusalém. A permanência da cidade no Islão, entretanto, é primariamente de acordo com a Noite de Ascensão de Maomé (c. 620 d.C.). Os muçulmanos acreditam que Maomé foi miraculosamente transportado em uma noite de Meca para o Monte do Templo em Jerusalém, aonde ele ascendeu ao Paraíso para encontrar os profetas anteriores do Islamismo. O primeiro verso no Al-Isra do Alcorão notifica o destino da jornada de Maomé como a mesquita de al-Aqsa (a mais distante), em referência à sua localização em Jerusalém. Hoje, o Monte do Templo é coberto por dois marcos islâmicos para comemorar o evento — A Mesquita de Al-Aqsa, derivada do nome mencionado no Alcorão, e a Cúpula da Rocha, que fica em cima da Pedra Fundamental, na qual os muçulmanos acreditam que Maomé ascendeu ao céu”.
Já para os judeus, ainda segundo a página da Wikipédia que versa sobre Jerusalém, a cidade é sagrada para eles “desde que o Rei Davi a proclamou como sua capital no século X a.C. Jerusalém foi o local do Templo de Salomão e do Segundo Templo. […] Hoje, o Muro das Lamentações, um remanescente do muro que contornava o Segundo Templo, é o segundo local sagrado para os judeus perdendo apenas para o Santo dos santos no próprio Monte do Templo. Sinagogas ao redor do mundo são tradicionalmente construídas com o seu arco sagrado voltado para Jerusalém, e arcos dentro de Jerusalém voltado para o Santo dos santos. Como prescrito no Mixná e codificado no Shulkhan Arukh, orações diárias são recitadas em direção a Jerusalém e ao Monte do Templo. Muitos judeus têm placas de ‘Mizrach’ (oriente) penduradas em uma parede de suas casas para indicar a direção da oração”.
Ocorre que, dentre as três religiões, o judaísmo é a que possui menos adeptas em todo o mundo. Ademais, os judeus, que eram uma população minoritária em relação aos árabes palestinos quando do Mandato Britânico da Palestina, só conseguiram fundar “Israel” através da expulsão violenta dos palestinos de suas terras, da limpeza étnica, a qual só foi possível com o apoio do imperialismo (britânico e norte-americano) e do stalinismo. Assim, que direito então estaria reservado a Ben Gurion e a “Israel”, um Estado supremacista Judeu, exercer um controle total sobre Jerusalém?
Ben Gurion estava, ao final, dando continuidade à limpeza étnica que havia iniciado nos anos anteriores. Seu plano sempre foi a Palestina para os judeus e para o sionismo, sem espaço para os palestinos. Apesar de toda a máquina de propaganda sionista tentar esconder essa realidade, suas próprias declarações esclarecem quem ele de fato era. Em várias delas, negou que os palestinos fossem detentores de quaisquer direitos:
“Não há conflito entre o nacionalismo judeu e o árabe porque a nação judaica não está na Palestina e os palestinos não são uma nação.” (Expulsão dos palestinos, p. 19)
“Se quisermos 100% de resgate hebraico, então devemos ter um assentamento 100% hebraico, uma fazenda 100% hebraica e um porto 100% hebraico.” (Expulsão dos palestinos, p. 24)
Mesmo em ocasiões em que Ben Gurion defendeu uma paz com os palestinos, foi apenas no sentido de isso ser uma etapa para poder avançar em direção à completa expulsão deles da Palestina, conforme explicou em 1937:
“Não procuramos um acordo com os árabes [palestinos] para garantir a paz. É claro que consideramos a paz uma coisa essencial. É impossível construir o país num estado de guerra permanente. Mas a paz para nós é um meio, e não um fim. O fim é a realização do sionismo no seu alcance máximo. Só por esta razão precisamos de paz e precisamos de um acordo.” (Sabtai Teveth,p. 168).
Nesse sentido, foi um ferrenho defensor da transferência compulsória dos palestinos. Ou seja, da limpeza étnica, conforme escreveu em seu diário, no ano de 1937, comentando sobre a proposta da Comissão Peel britânica:
“A transferência compulsória dos árabes [palestinos] dos vales do proposto Estado judeu poderia nos dar algo que nunca tivemos, mesmo quando estávamos sozinhos durante os dias do primeiro e do segundo Templos… oportunidade que nunca ousamos sonhar em nossa imaginação mais louca. Isto é MAIS do que um Estado, governo e soberania —- isto é a consolidação nacional em uma pátria livre.” (Vítimas Justas, p. 142).
Além disto, embora tenha aceito a divisão da Palestina em dois Estados, através do Plano de Partilha da ONU, o fez tão somente como uma plataforma para ações futuras, como um meio para eventualmente conquistar todo o território para “Israel”:
“A ÚNICA razão pela qual concordamos em discutir o plano de partição [proposto pela comissão Peel]”, escreveu Ben-Gurion a Moshe Sharett, “é a imigração em massa. Não no futuro, e não de acordo com uma fórmula abstrata, mas uma grande imigração agora.” (Sabtai Teveth, p. 184)
De forma que, em outubro de 1938, escreveu aos filhos:
“Não considero um Estado em parte da Palestina como o objetivo final do sionismo, mas como um meio para atingir esse objetivo.” (Sabtai Teveth, p. 188)
Em suma, havia uma razão de ser por trás da declaração de Ben Gurion, de que Jerusalém era a capital de “Israel”. Tratava-se de mais um de suas aproximações sucessivas para terminar o que começara, a limpeza étnica da Palestina, expulsando absolutamente todos os árabes, deixando a região exclusivamente destinada a um Estado supremacista Judeu.
Contudo, os palestinos nunca permitiram que Jerusalém se tornasse a capital do Estado sionista, de forma que Telavive é sua capital de fato.
Desde então, nas últimas sete décadas, o sionismo tentou novamente tomar Jerusalém, mas a resistência palestina sempre impediu. No processo, locais sagrados, tanto do cristianismo, mas principalmente os muçulmanos foram desrespeitados pelos judeus.
Exemplo notório é o caso da mesquita de al-Aqsa, local a partir de onde, segundo a religião muçulmana, Maomé teria subido aos céus.
As provocações de “Israel” contra a mesquita constituíram, mais de uma vez, no estopim de grandes revoltas do povo palestino. Sendo sucinto, pode-se considerar um dos pontos de início da Segunda Intifada (também conhecida como Intifada al-Aqsa), a visita do criminoso de Guerra Ariel Sharon à mesquita, vista que se deu com o parlamentar do Likud protegido por um forte aparato de segurança. Uma afronta aos palestinos, que responderam à altura e foram reprimidos violentamente por tropas sionistas, repressão esta que iria desencadear uma mobilização de massas, a Segunda Intifada.
Segundo o comandante das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, Mohammed Deif, o ataque de 7 de Outubro a”Israel”, também conhecido como Operação Dilúvio al-Aqsa, teria sido em resposta à “profanação da Mesquita de Al-Aqsa”.
Assim, quase três quartos de século se passaram desde que o fascista Ben Gurion declarou Jerusalém como sendo capital de “Israel”. Contudo, até hoje os sionistas não conseguiram consumar essa declaração, o que mostra a resistência do povo palestino, e a justeza de sua luta armada contra o sionismo.