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Palestina

Dois meses de luta: resistência mantém terreno apesar do massacre

“Os habitantes de Gaza vivem amontoados em abrigos insalubres ou nas ruas, estão doentes e não têm comida suficiente; enquanto isto, o inverno se aproxima”.

Desde o fim da trégua temporária, no dia 1º de dezembro, “Israel” retomou seus bombardeios incessantes sobre Gaza, desta vez sobre cidades do Sul do enclave, forçando os palestinos, que já haviam emigrado do Norte, a se deslocarem ainda mais ao sul, para a cidade de Rafá, fronteira com o Egito.

Conforme reconhecido pelas autoridades egípcias, trata-se de uma tentativa do Estado sionista de expulsar os palestinos de Gaza, para dentro do Egito. Assim declarou recentemente Diaa Rashwan, chefe do Serviço Estatal de Informação Egípcio, que acusou “Israel” de planejar a migração forçada dos palestinos para a península do Sinai, caracterizando a tática como uma “linha vermelha que o Egito não permitirá que seja cruzada”.

É a continuidade da limpeza étnica que “Israel” deu início na década de 1940, com a Nakba. Em razão disto, centenas de milhares de palestinos já se concentram na cidade de Rafá (centro urbano menor que um bairro de São Paulo), número que poderá a chegar a um milhão caso os ataques sionistas não cessem, segundo informações da ONU.

A calamidade da situação é tamanha que, no sábado, Carl Skau, vice-diretor do Programa Alimentar Mundial (WFP, em sua sigla em inglês), agência que faz parte Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, informou que “não há comida suficiente.” “As pessoas estão morrendo de fome”, acrescentou.

Ao fornecer maiores detalhes sobre essa declaração, Skau disse que “não podemos fazer o nosso trabalho”, pois apenas parte dos alimentos destinados à ajuda humanitária está chegando à Faixa de Gaza, em razão tanto dos bombardeios incessantes quanto do bloqueio imposto por “Israel”. Ademais, a falta de combustível impede que a comida chegue aos palestinos que foram forçadamente deslocados pelo Estado artificial sionista:

Temos comida nos caminhões, mas precisamos de mais de uma travessia. E assim que os caminhões estiverem lá dentro, necessitaremos de passagem livre e segura para chegar aos palestinos onde quer que estejam. Isto só será possível com um cessar-fogo humanitário e, em última análise, precisamos que este conflito acabe”.

Ainda sobre a situação, Skau declarou apontou para as condições insalubres em que o povo de Gaza está vivendo, alertando que tudo pode piorar em razão do inverno que se aproxima:

Os habitantes de Gaza vivem amontoados em abrigos insalubres ou nas ruas, estão doentes e não têm comida suficiente; enquanto isto, o inverno se aproxima”.

Dando concretude ao martírio que vivem os palestinos, acrescentou seu informe dizendo que “metade da população passa fome, nove em cada dez não comem todos os dias. Obviamente, as necessidades são enormes.” Suas declarações foram dadas em seu X (antigo Twitter) após uma visita a Rafá.

Declarações como estas também foram dadas por outros representantes de organizações humanitárias financiadas pelo imperialismo, mostrando que nem mesmo agências e ONGs do imperialismo conseguem esconder o genocídio que “Israel” está cometendo contra o povo palestino em Gaza, a fim de expulsá-los de uma vez por todas da região, nem que para isto sejam assassinados milhares de civis, mulheres e crianças inclusos.

“As pessoas estão desesperadas para conseguir um saco de farinha… a fome e as doenças perseguem a todos”, disse Thomas White, diretor da UNRWA em Gaza, principal agência de ajuda humanitária da ONU no enclave.

A ONG imperialista Médico sem Fronteiras também se pronunciou, através de um de seus representantes, Léo Cans, chamando a atenção para as epidemias que começam a aparecer, em razão a situação precária de higiene que prevalece em Gaza:

Aí falta água de qualidade e a água que tem disponível é ruim. Como as pessoas estão conservando a água que possuem, elas estão lavando menos. É uma receita perfeita para doenças transmissíveis. E os cuidados de saúde disponíveis têm sido mais focados em cuidados que salvam vidas nos hospitais”.

No mesmo sentido aponta Margaret Harris, da Organização Mundial da Saúde, que disse à NPR (National Public Radio, rede de rádio pública dos EUA) na semana passada: “Já estamos vendo surtos muito, muito preocupantes, como surtos de icterícia, que presumimos ser hepatite A porque as condições para hepatite A estão por toda parte”.

Corroborando o que foi dito pelos representantes oficiais dessas organizações, há inúmeros depoimentos de palestinos situados em Rafá, que foram expulsos de suas casas no Norte, pelos bombardeios e a invasão militar de “Israel”.

Segundo Mahmud Abu Rayan, palestino deslocado da cidade de Beit Lahia, norte de Gaza, há o temor de que a chegada do inverno no hemisfério norte castigue os habitantes do enclave: “Está tão frio e a barraca é tão pequena. Tudo o que tenho são as roupas que visto, ainda não sei qual será o próximo passo”, disse.

Soad Qarmoot, uma paciente com câncer que também teve de fugir de Beit Lahia, também vê com temor o inverno se aproximar: “Não vimos nada de bom aqui. Estamos vivendo aqui em um frio intenso. Não há banheiros. Estamos dormindo na areia […] Está congelando”.

Outra situação de extrema gravidade é a escassez de antibióticos, a qual está gerando morte por infecções, especialmente em palestinos feridos que foram operados.

É o caso da mãe de Ramzy, de 54 anos, que foi evacuado do norte de Gaza: “Minha mãe morreu na semana passada. Ela tinha pressão alta e diabetes. Vivemos em más condições num abrigo da UNRWA em Rafah. Estamos em tendas, sem as coisas mais básicas que precisamos e tudo é difícil de conseguir.”

Ramzy denunciou que a situação humanitária é extremamente difícil para as pessoas mais velhas, que “conseguem tolerar estas condições”, principalmente em razão da superlotação dos hospitais, que a todo momento precisam tratar os feridos em decorrência dos bombardeios israelenses:

“Os hospitais não conseguem atender o que chamamos de doenças normais, ficam lotados com centenas de feridos e ainda recebem diariamente. Até mesmo os feridos estão nos pátios dos hospitais, pois todos os leitos estão ocupados. Nunca esperávamos enterrar nossos parentes fora de nossa região ou cidade”.

Om Ahmed, cidadã palestina que também foi expulsa de sua casa no Norte diz que “todas as crianças e idosos estão doentes. Todos têm tosse, doenças de pele e problemas estomacais. A higiene pessoal é impossível”.

A situação é tão insuportável que milhares de pessoas já começaram a entrar no Egito. Um total de 16 mil, sendo 12.858 cidadãos estrangeiros e pessoas com dupla cidadania, 715 pacientes e 558 acompanhantes, mais de 1.800 egípcios retornando para seu país de origem.

Um conjunto de acontecimentos que mostra claramente que o objetivo de “Israel” ao retomar os bombardeios contra Gaza, é expulsá-los definitivamente de suas terras e concluir a limpeza étnica da Palestina. A ordem de evacuação para o sul, próximo à fronteira com o Egito, é um claro sinal deste objetivo.

Há pouco mais de dois meses do início do genocídio, no momento do fechamento desta edição, já foram mais de 17.997 palestinos assassinados em Gaza, inclusos um mínimo de 7.729 crianças e 5.153 mulheres. Fatos que servem para demonstrar que o sionismo é pior que o nazismo, e que o Estado de “Israel” é pior do que a Alemanha Nazista.

O que coloca em questão a necessidade dos palestinos lutarem de armas na mão para se salvarem do extermínio, o que torna as organizações armadas palestinas, como o Hamas, a Jiade Islâmica e outras, legítimas organizações de resistência do povo árabe. E são ela que estão impedindo de fato que “Israel” expulse os palestinos de suas terras e concretize a limpeza étnica da Palestina.

Em decorrência da reação árabe, inclusive, “Israel” está sofrendo pesadas derrotas. A ação do dia 7, em si, já foi uma derrota para sionismo, pois expos sua debilidade para todo o mundo.

A segunda derrota do Estado de “Israel” veio no dia 26, com a trégua temporária. Os sionistas foram obrigados entregarem prisioneiros palestinos que estavam há anos trancafiados nas masmorras israelenses. Isto se deu dessa maneira porque apesar de todo o genocídio, “Israel” não conseguiu conquistar nenhum objetivo militar contra o Hamas e a resistência. Pelo contrário, seu exército sofreu pesadas baixas, inclusive deserções, conforme relatado por este Diário.

Agora, após o fim da trégua, que foi violada por “Israel”, a crise do Estado sionista segue agravando.

Recentemente, o jornal israelense Yedioth Ahronoth noticiou que as baixas nas Forças de Defesa de “Israel” (FDI) eram mais de 5 mil. Em seguida a essa publicação, o governo soltou declaração oficial de que já foram mortos 425 soldados desde o dia 7 de outubro, tendo sido feridos 1.593, o que ainda assim seria uma situação bastante grave. Deve-se ter em mente que o governo israelense falsifica rotineiramente tais informações, de forma que o número oficial de baixas está, provavelmente, subestimado.

Nesse sentido, algumas das conquistas mais recentes das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, braço armado do Hamas:

  • Seus combatentes atacaram forças especiais sionistas com cargas antipessoal, matando um e ferindo outro.
  • Mataram 4 soldados israelenses à queima-roupa na área de Al-Zanna, a leste da cidade de Khan Yunis.
  • Destruíram total ou parcialmente mais de 180 veículos militares israelenses durante os últimos dez dias.

Enquanto isto, na Cisjordânia, o povo palestino realiza uma greve geral contra a ocupação sionista, a ação de seus lacaios da Autoridade Palestina que já prenderam arbitrariamente mais de 3 mil palestinos desde o dia 7 e a crescente violência das milícias fascistas do sionismo (os chamados “colonos”), os quais quase 300, expropriando e destruindo centenas de propriedades no processo.

Todos os setores sociais foram paralisados, em todas as províncias, desde transportes, passando por bancos, escolas, ministérios e prédios governamentais em geral, comércios, bolsas de valores locais. Todos os serviços foram suspensos

Zein Basravi, correspondente da rede de televisão catariana Al Jazeera em Ramalá esteve cobrindo a greve, e relatou apoio popular ao Hamas e rejeição à Autoridade Palestina:

“Um cântico que ouvimos dizer era ‘Morreremos para que a Palestina possa viver’. Houve alguns cânticos pró-Hamas. Houve gritos contra o presidente [da Autoridade Palestina], Mahmoud Abbas, pedindo-lhe que fizesse mais”.

O que mostra que a crise de “Israel” se aprofunda. Embora ainda não se possa falar em um ponto de inflexão no enfrentamento militar entre a resistência palestina e “Israel”, deve-se assinalar questões importantes. A greve geral, por si, significa uma desagregação da política repressiva do sionismo, política esta também levada a cabo pela Autoridade Palestina (ANP). O que significa, também, um aprofundamento da crise da OLP, organização do comando da ANP.

A greve geral é uma resposta que pode levar a situação na Cisjordânia a uma etapa pré-revolucionária

Caso essa situação progrida, e a OLP caia na Cisjordânia, haverá uma situação revolucionária na Palestina, o que comprometerá profundamente a situação de “Israel”, pois haverá uma nova Intifada.

De forma que se resistência se mantiver firme, a derrota de “Israel” é “líquida e certa”, conforme disse Rui Costa Pimenta, em sua tradicional Análise Internacional, que foi ao ar nessa segunda (11), no canal do Diário Causa Operária, no Youtube.

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