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Argentina

Milei promete política “de choque” contra a classe operária

Novo presidente prometeu "impacto negativo no nível de atividade, de emprego, nos salários reais, no número de pobres e indigentes"

Tomou posse no último dia 9, em Buenos Aires, o novo presidente da Argentina, Javier Milei, eleito com forte apoio da direita do país e do imperialismo. No discurso proferido durante a cerimônia de posse, Milei destacou os problemas enfrentados pela economia argentina, afirmando que “o kirchnerismo, que no começo se gabava dos seus métodos, se gabava do superavit interno e externo, hoje nos deixa com grandes déficits de 17% do PIB. Ao mesmo tempo, desses 17 pontos do PIB, 15 deles correspondem a um déficit consolidado entre o Tesouro e o Banco Central.” Milei, então, conclui que “não há alternativa ao ajuste. Não há alternativa ao choque. Naturalmente, haverá um impacto negativo no nível de atividade, de emprego, nos salários reais, no número de pobres e indigentes. Haverá inflação, é verdade”.

Atualmente, a Argentina enfrenta uma inflação de 142%, com projeções indicando que este indicador pode ultrapassar a barreira dos 160% ao final do ano. Mais de 40% dos trabalhadores do país encontram-se abaixo da linha da pobreza (vivem com menos de US$1,90 por dia, segundo o critério da ONU), e quase 10% sofrem com o flagelo da fome.

A moeda do país perdeu consideravelmente seu valor, chegando a se pulverizar em diversos tipos de câmbio, sendo o chamado “dólar Blue” – o mais utilizado – cotado em quase 1.000 pesos para cada 1 dólar. O dólar oficial era cotado segundo uma tabela elaborada pelo Banco de la Nación Argentina (BNA), tendo, desde o dia de 7 de novembro, valor de 382,50 pesos para compra e 400,50 para venda. Estima-se que as reservas de dólares do Banco Central estejam negativas em mais de US$ 12 bilhões. Além disso, existe uma dívida bilionária com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Esta é a bomba em termos de dívida [que recebemos] de cerca de US$ 100 bilhões, e que devemos somar aos US$ 420 bilhões que o país já tinha”, disse Milei, em referência aos US$25 bilhões de dívidas do BC e da estatal do petróleo (YPF). A lista inclui, também, dívidas do Tesouro Nacional, US$35 bilhões, US$ 30 bilhões para pagamentos a importações e US$10 bilhões contraídas com empresas estrangeiras. Para o presidente, a solução é cortar inacreditáveis US$100 bilhões do orçamento argentino (“Milei anuncia el rodrigazo y se codea con la internacional fascista”, Politica Obrera, Jorge Altamira, 10/12/2023), um corte de gastos sem paralelos e com forte tendência a jogar o país em uma crise social inédita.

A premissa básica dos economistas do imperialismo é que, se os preços estão descontrolados, torna-se necessário reprimir a demanda para trazê-los a um patamar que não desorganize o sistema econômico. Esta política deriva de uma das leis básicas da Economia, que estabelece o preço como uma função de oferta e demanda, segundo a qual alta demanda atendida por baixa oferta levam ao aumento dos preços, ao passo que a oferta superior à demanda provoca deflação, isto é, a queda nos preços.

No mundo das ideias, seria relativamente lógico reprimir a demanda para equilibrar os preços. Na conjuntura descrita acima, com mais de 40% dos trabalhadores vivendo abaixo da linha da pobreza e 10% destes passando fome, cortar gastos para restringir a circulação de dinheiro e, assim, forçar a inflação para baixo, inevitavelmente produzirá consequências duríssimas contra a população pobre e trabalhadora.

Uma política realmente consequente para lidar com o problema da inflação passaria por atacar o déficit onde ele é socialmente irrelevante, porém financeiramente mais pesado: na rolagem da dívida externa do país, medida US$276,7 bilhões em 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estadística y Censos de Argentina (INDEC), órgão governamental dedicado às estatísticas oficiais. Em outra ponta, uma política voltada aos trabalhadores para solucionar o problema da inflação seria atualizar os salários, para acompanharem a elevação dos preços, e implementar um programa de desenvolvimento industrial que ampliasse a oferta de bens, atendendo a demanda e, assim, solucionando a equação dos preços de modo a equilibrá-los sem jogar o peso da crise nas costas da população. Ocorre que Milei não está na Casa Rosada (sede oficial do governo argentino) para resolver os problemas da economia do país, mas para manter a pirataria criminosa de recursos que produziram tal situação.

“Sabemos que será difícil. Por isso, eu gostaria de trazer uma frase muito importante e notável de um dos melhores presidentes da Argentina, que foi Julio Argentino Roca. ‘Nada de grande, nada de estável e duradouro é alcançado no mundo quando se trata da liberdade dos homens e da gratidão das pessoas, se não for à custa de esforços supremos e sacrifícios dolorosos’”, disse também Milei, reforçando que seu governo será, de fato, um governo de crise, acrescentando saber “que no curto prazo a situação irá piorar”. Ante a complexa conjuntura mundial e os interesses que levaram Milei à Casa Rosada, “a situação irá piorar” muito na Argentina.

As “soluções” apontadas por Milei, longe de resolverem qualquer desequilíbrio econômico, irão acentuá-lo. A política do peronismo, como se viu, piorou a crise social do país, ocasionando o alastramento da miséria e uma epidemia de fome. Também isso, inevitavelmente, piorará, sendo a grande questão a magnitude com que Milei conseguirá arrasar a economia argentina antes de provocar uma crise.

“Deus abençoe os argentinos e que as forças do céu nos acompanhem”, concluiu o presidente em seu discurso. Sim, porque a depender do atual governo e do imperialismo, nada de bom recairá sobre as empobrecidas massas argentinas.

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