Pelo menos 17.700 palestinos, em sua maioria mulheres e crianças, foram mortos em dois meses, e quase 49.000 ficaram feridos, enquanto muitas pessoas ainda estão presas sob os escombros e Israel continua bombardeando Gaza após os Estados Unidos vetarem uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo na sexta-feira (7).
Em uma medida rara, o Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, acionou a votação invocando o Artigo 99 da Carta da ONU, uma medida não utilizada em décadas, dizendo: “O povo de Gaza está olhando para o abismo”.
Somando-se aos bombardeios, os palestinos enfrentam uma crise humanitária sem precedentes, com a intensificação dos ataques israelenses levando a uma situação desesperadora. O alerta vem de inúmeros grupos de ajuda humanitária que relatam o nível da catástrofe em curso na Faixa de Gaza.
O Programa Mundial de Alimentos (WFP) destaca a iminente queda de sua capacidade de fornecer necessidades básicas, com o vice-diretor do WFP, Carl Skau, alertando que “não há comida suficiente” e apelando por um “cessar-fogo humanitário imediato”.
“Temos comida em caminhões, mas precisamos de mais de uma passagem. E, uma vez que os caminhões estão dentro, precisamos de passagem livre e segura para alcançar os palestinos onde quer que estejam. Isso só será possível com um cessar-fogo humanitário, na verdade, precisamos que este conflito termine”, disse ele.
Nestes caminhões pré-carregados, há recursos de comida disponíveis no Egito e na Jordânia para atingir cerca de 1.000.000 de pessoas em um mês. Esses mantimentos estão prontos para chegar até os palestinos, mas até o momento Israel está rejeitando os apelos para abrir Karem Abu Salem, um trajeto importante para o acesso de caminhões que estão carregando alimentos, e estão utilizando outro trajeto de 40 km para chegar ao Sul da Faixa de Gaza, atrasando o acesso do pouco alimento que consegue entrar em Gaza.
Carl Skau completou: “Metade da população está passando fome, nove em cada dez não comem todos os dias.”
A porta-voz da UNRWA, Tamara Alrifai, destacou que a agência “só conseguiu distribuir alimentos em uma parte muito pequena do sul de Gaza”, especificamente em Rafah.
A situação demonstra o tamanho da monstruosidade do Estado de Israel: “Nos últimos dias, vimos uma grande redução no número de caminhões que chegam e no número de litros de combustível que chegam, o que é necessário para os caminhões, para as usinas de dessalinização de água e também para os geradores de eletricidade”.
Ela continuou: “Devido à intensidade dos combates e dos bombardeios desde que a pausa humanitária terminou, só conseguimos distribuir alimentos em uma parte muito pequena do sul de Gaza, em Rafah”.
De acordo com a porta-voz da UNRWA, “há muitas, muitas pessoas que não estão em Rafah e que não conseguimos acessar nos últimos dias, então elas estão sem nada”.
Na sexta-feira, o Comissário-Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, escreveu uma carta ao Presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis, prevendo a eventual perda de vidas entre sua equipe devido à agressão israelense a Gaza, que ele descreveu como a “hora mais sombria na história de 75 anos da agência”.