Há 36 anos, no dia 8 de dezembro de 1987, seria iniciado um processo que teria grandes consequências para os dias de hoje na Palestina. A Primeira Intifada, nome que simboliza o levante popular árabe contra a ocupação nazista israelense na Palestina, também conhecida como Guerra das Pedras, foi uma verdadeira rebelião do povo palestino que explodiu inicialmente no extremo-norte da Faixa de Gaza. Essa insurreição, que terminaria somente com assinatura dos Acordos de Oslo em 1993, constitui um marco na medida que promoveu mudanças importantes para os rumos da luta do povo palestino.
Por um lado, terminaria com a degeneração total e completa da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) expressa pelo reconhecimento do Estado de Israel e abandono da luta por uma Palestina livre do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. Por outro lado, impulsiona o surgimento do Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas (sigla em árabe), que atualmente lidera a coalizão armada do povo palestino e que, primeira na história, promoveu incursões inéditas lançando milhares de foguetes que furaram a defesa aérea sionista e atingiram alvos militares e estratégicos principalmente na costa do Mediterrâneo no último dia 7 de outubro.
Em 1987, a maior parte do território palestino já estava sob o controle das forças sionistas em decorrência da Guerra dos Seis Dias, também conhecida como Terceira Guerra Árabe-Israelense, que havia ocorrido cerca de vinte anos antes. A violência e humilhação imposta pelo regime sionista era absurda naquele momento e, após um caminhão militar israelense provocar uma colisão proposital contra um veículo resultando na morte de quatro palestinos, um gigantesco levante se iniciou no campo de refugiados de Jabalia. Dois dias após irromper a fúria que levaria toda população palestina às ruas para enfrentar os tanques sionistas como paus e pedras, o xeique Ahmed Yassin fundaria o Hamas e seria condenado a prisão perpétua pelo regime sionista.
O primeiro levante do povo palestino marcaria o surgimento do partido que viria a se tornar o principal inimigo do imperialismo atualmente, mas essa luta também marcaria o início de uma crise irreversível para o Movimento de Libertação Nacional da Palestino, o Fatá (sigla em árabe). Aquele que era o principal partido da OLP, uma frente formada por uma dezena de outras organizações em 1964, sofreria uma deterioração tão grande e trairia a luta pelo fim do regime sionista na Palestina. A proposta elaborada no ano de 1947 e imposta pelo imperialismo, através da Organização das Nações Unidas (ONU), para criação de um estado judeu na Palestina parecia estar finalmente concluída.
Durante esse período, o regime sionista realizaria uma série de provocações e assassinatos contra palestinos. No ano de 1990, diante do anúncio israelense de construir edificações da religião judia no território sagrado conhecido como Monte do Templo, onde estão situados o Domo da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa, os palestinos se mobilizaram para protestar e a polícia sionista executou sumariamente dezessete manifestantes. Essa situação levou o Hamas a dar uma reposta para o regime sionista, uma guerra de vingança (jihad) foi declarada contra todos os soldados sionistas.
Diante das chacinas promovidas pelas forças sionistas, o Hamas cria seu braço militar, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, em 1991. Este nome dado às brigadas foi uma homenagem ao xeique nacionalista que fundou a Mão Negra, uma organização que lutava contra a ocupação colonial do imperialismo britânico na Palestina, sua morte pela polícia inglesa no ano de 1935 implicaria na Grande Revolta Árabe de 1936-1939. Assim, o Hamas promoveria inúmeros ataques contra alvos israelenses usando explosivos em larga escala e também organizaria operações de guerrilha, o objetivo era encorajar a continuidade da intifada para impedir que a OLP fizesse um acordo com o regime sionista.
Outras organizações minoritárias da OLP também se posicionaram intransigentemente pela luta armada contra a legitimação de um estado sionista no território palestino. Assim se daria uma cisão no movimento da resistência armada palestina, mas a ação do Hamas não foi suficiente para evitar que acordos entre o general Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina e do Fatá, fossem firmados na capital da Noruega, Oslo, no dia 13 de setembro de 1993. A “mediação” foi realizada pelo presidente dos Estados Unidos, que na época era Bill Clinton.
O saldo após seis anos de confrontos diários e de grande repressão pelas forças sionistas foram 1550 palestinos assassinados e mais de 70 mil feridos. As prisões que incluem crianças foram da ordem de 100 a 200 mil pessoas, mais de 18 mil palestinos foram mantidos como prisioneiros do regime sionista sem qualquer julgamento.
O fim da Primeira Intifada foi marcado por essa traição que teria um custo muito alto para o líder do Fatá, a dita “Autoridade Palestina” se converteria num posto a ser ocupado desde então por um lacaio do regime sionista e evidentemente do imperialismo também. A OLP assumia o compromisso de garantidora da pacificação, ou seja, policiaria a resistência armada palestina para evitar ataques contra as forças de ocupação sionista.
O Fatá entregou o controle de todo o territória para, em contrapartida, ter o status de Autoridade Palestina, um título que não garantia nenhuma soberania ao povo palestino. A deposição das armas da OLP com vistas a uma política de negociação e de legitimação do Estado de Israel não tinha garantia alguma, nem de um território e muito menos de exército próprio, menos ainda Jerusalém como sua capital. A Autoridade Palestina não teria controle sobre o comércio exterior, impostos, redes de distribuição de energia ou abastecimento de água.
Diante da capitulação do Fatá, o caminho para o Hamas conquistar a preferência de setores mais radicalizados ficaria aberto principalmente entre os envolvidos na intifada. Na Faixa de Gaza, estava presente a Irmandade Muçulmana, que deu origem ao Hamas, uma organização dedicada à caridade que foi responsável por financiar a construção de escolas, hospitais, cultura e assistencialismo.
No ano 2000, as brigadas armadas do Hamas já dirigiriam a Segunda Intifada e utilizariam foguetes, mostrando a influência do grupo xiita Hesbolá, que havia vencido as forças sionistas no sul do Líbano, esta revolta se estenderia até o ano 2005.
A próxima ação das forças armadas palestinas contra a ocupação sionista viria acontecer quase 18 anos mais tarte, de maneira muito mais organizada e vencedora até o momento, a qual se iniciou no último dia 7 de outubro de 2023.