Nas últimas semanas, muito tem se discutido o novo documento de identidade, apresentado pelo governo Lula. Enquanto a imprensa capitalista tem dado bastante destaque aos chiliques da esquerda pequeno-burguesa, para quem o novo RG seria “transfóbico”, pois exibiria o “sexo”, e não o “gênero” do portador do documento, pouco tem se comentado sobre um problema de extrema gravidade: o uso da língua inglesa no Registro Geral.
Conforme pode ser visto na imagem que ilustra este artigo, os títulos “Nome”, “Nome social”, “Registro geral”, “Sexo”, “Data de nascimento”, “Nacionalidade”, “Naturalidade” e “Data de validade” aparecem ao lado de suas respectivas traduções para a língua inglesa.
O novo RG é um insulto – e, inclusive, ilegal. É previsto pela Lei brasileira que todos os seus documentos devem ser redigidos em língua portuguesa. Nada diferente poderia ser esperado. Por acaso o documento de identidade dos norte-americanos e dos britânicos são redigidos também em português?
Recentemente, o governo nacionalista do Mali, que vem tendo enfrentamentos cada vez mais radicais com a França, determinou a proibição do idioma francês nas escolas. A medida foi vista como parte do esforço do país africano de se tornar enfim independente do imperialismo europeu.
Acontece que, por mais justificável que seja o caso do Mali, o francês é a língua oficial do país há muito tempo. Ainda que haja uma relação muito hostil hoje entre a população do Mali e o governo francês, seria compreensível, até mesmo por questões práticas, manter a língua francesa nos estabelecimentos africanos. No entanto, esse sequer é o caso do Brasil: nosso País nunca foi colônia dos Estados Unidos, nem da Grã-Bretanha.
Ao permitir que tal documento fosse emitido, o governo Lula está, portanto, permitindo uma agressão contra o País. Uma agressão, inclusive, que não é um raio em céu azul, mas parte de uma série de iniciativas dos Estados Unidos de assumir um controle ainda maior sobre o País. Obrigar os brasileiros a usar documentos com a língua inglesa é uma iniciativa semelhante, por exemplo, à atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs) que estão ensinando a língua inglesa para os índios e desestimulando que estes usem o português. Ao mesmo tempo em que as ONGs fazem isso, o exército norte-americano vai se infiltrando com suas tropas na Amazônia. Por este exemplo, fica óbvio que o problema do uso da língua inglesa pelo Estado brasileiro não está somente na própria língua inglesa, mas sim no fato de que isso abre o caminho para uma verdadeira intervenção estrangeira no País.
Outro caso muito importante que mostra como o uso da língua inglesa vai muito além de um problema puramente “cultural” é o Projeto de Lei 2630, conhecido como “PL das Fake News“, que está, neste momento, sob sério risco de ser aprovado na Câmara dos Deputados.
Por anos, o termo “fake news” foi utilizado amplamente pela imprensa capitalista. Depois, foi incorporado em projetos de lei e em decisões judiciais. No final das contas, um tipo penal que não existe no País, nem nunca foi objeto de uma discussão séria das instituições nacionais, está prestes a ser integrado à Lei brasileira por uma imposição do imperialismo norte-americano.
O governo Lula pode ao menos alegar, em sua defesa, que não é autor da inovação, mas que estaria apenas executando um projeto do governo anterior. E é fato: o “novo RG” foi criado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, isso apenas comprova o quanto a iniciativa é reacionária, uma vez que foi produto de um presidente que, literalmente, bateu continência para o presidente dos Estados Unidos. Mostra, também, que o governo Lula está sendo muito pressionado pela burguesia, fazendo com que ele aceite esse tipo de coisa.