O major-general iraniano, Yahya Rahim Safavi, declarou na última quarta-feira (29) a derrota do imperialismo norte-americano na sua região, relembrando em seu discurso a expulsão vergonhosa sofrida no Afeganistão. Sob alegação de combate a terroristas, a “ameaça do ISIS” e a manutenção da ordem (imperialista) na região, os EUA, mantêm, desde fevereiro de 2021, ao menos 900 soldados na Síria e outros 2.500 no Iraque.
Nas palavras do major-general iraniano Safavi: “A resistência do povo e dos governos do Iraque e da Síria causou a derrota do Daesh [Estado Islâmico do Iraque e do Levante]. Estes mercenários americanos e sionistas, [e] a resistência do povo afegão causou a derrota dos EUA no Afeganistão e a sua fuga humilhante. Causou o fracasso dos EUA nos planos para derrubar o governo sírio.” Declaração similar foi proferida pelo major-general Hossein Salami, comandante do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica, prometendo “uma resposta esmagadora aos inimigos” que atacam os povos do Oriente Médio.
A ocupação direta dos EUA no Afeganistão durou mais de 20 anos. Duas décadas onde a maior potência militar e econômica do mundo, saqueou, ocupou e oprimiu a população de um dos menores países do mundo.
Uma população de maioria agraria, viu suas cidades serem destruídas, seus membros torturados e assassinados. Essa população, no entanto, não apenas resistiu como derrotou o seu agressor, reestabelecendo sua autoridade sob seu próprio território.
Dilúvio
Nos dias 3, 5 e 6 de outubro, durante o feriado judeu (Sukkot), a Mesquita Al-Aqsa foi atacada por milhares de colonos sionistas, uma força paramilitar apoiada pelo Estado israelense. Este momento contou agressões e assassinatos a homens, mulheres e crianças palestinas. Nas palavras de um membro da Embaixada Brasileira na Palestina, era um momento de “apreensão em torno da escalada de violência”.
Em respostas, os grupos combatentes palestinos, liderados pelo partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas), realizaram a operação Dilúvio Al-Aqsa. Com ataques aéreos com mísseis e invasão terrestre, os militantes árabes conseguiram romper o Domo de Ferro e os bloqueio terrestres, ocupando postos militares israelenses e rendendo militares. A reação dos combatentes palestinos desmoralizou a campanha sionista de inteligência e exército infalíveis, impondo desde o dia 7 de outubro uma vitória política do povo palestino sobre Israel e o imperialismo.
Segundo Safavi: “O evento histórico da Dilúvio de Al-Aqsa é contra o regime sionista, mas visa a desamericanização. Este incidente literalmente conseguiu perturbar a mesa das políticas americanas na região, e se Deus quiser, se este Dilúvio continuar, destruirá toda a mesa.”
Diferente de outras ocupações no passado onde a comunicação tinha um controle mais rígido, a situação atual acarreta um dano político sem igual ao imperialismo. Quando o EUA derrubaram o então presidente iraquiano Saddam Hussein, em 2003, a imprensa imperialista era praticamente hegemônica. Hoje, o imperialismo e seus lacaios necessitam de muita censura para mitigar os danos.
“As ações bárbaras e cruéis que o regime sionista cometeu nos seus crimes contra o povo de Gaza, não só destruíram a reputação do regime, mas também a dos Estados Unidos. Tirou a reputação de vários países europeus de renome e também arruinou a reputação da cultura e da civilização ocidentais”, afirmou Safavi.
Os agentes do imperialismo norte-americano concordam com a análise realizada por Safavi. Ciente do risco que paira sobre sua dominação na região, tentar de todas as formas diminuir as tensões e manter a autoridade militar.
A maioria do Likud e da extrema-direita sionista deseja recrudescer a opressão do povo árabe, entretanto, sua posição é frágil. Sem o apoio de Washington, o enclave imperialista de Israel não se mantém.
Em razão disto, o imperialismo segura Netanyahu no poder e atualmente, pressiona para uma negociação na Faixa de Gaza. O imperialismo, concorda com a política sionista, apenas não vê viabilidade de sustentá-la no momento, por considerar uma intervenção mais intensa arriscada.
Prenúncio de nova Primavera Árabe
No Mundo Árabe houve diversas reações da população, nos mais diversos países. A reação do povo palestino à tentativa de “limpeza étnica” realizada por Israel na Faixa de Gaza estimula revoltas contra o imperialismo no Levante e a derrota política de Israel ao Hamas, somada a resistência dos combatentes às investidas militares sionistas, desencadeia uma onda de esperança na população árabe e demais povos oprimidos.
Há menos de uma década, mobilizações massivas no Iêmen e em outros países árabes, colocam em risco os governos desses países. Ali foi aberta a possibilidade concreta de uma insurreição revolucionária similar à Primavera Árabe.
Agora, verifica-se uma evolução similar do movimento árabe, mas em um momento diferente, com o imperialismo mais fraco e uma população mais estimulada pelas derrotas acumuladas como no Afeganistão, na Ucrânia, na África e a crise geral imperialista.