Safsaf era um vilarejo palestino árabe localizado na região da Galiléia, mais um dos mais de 400 que foram alvos das atrocidades perpetradas pelos judeus sionistas durante a Nakba, ou seja, a sistemática expulsão e assassinato dos palestinos no final da década de 40. O ataque à aldeia foi parte da Operação Hiram, a qual, liderada por Moshe Carmel, general das Forças de Defesa de Israel, tinha por objetivo a destruição do “inimigo” na parte central da Galiléia para garantir o controle de sua fronteira norte e, consequentemente, de toda a região. Região que, inclusive, mesmo segundo o criminoso Plano de Partição da Palestina (Resolução 181 da ONU), deveria pertencer aos palestinos.
O massacre se deu no dia 29 de outubro de 1948, seguindo o mesmo modus operandi do qual as tropas sionistas se utilizaram nos massacres precedentes. Conforme depoimento de um dos sobreviventes e principal testemunha do ocorrido, Muhammad Abdullah Edghaim, um batalhão misto de soldados judeus e drusos invadiram o povoado naquele dia após um pesado bombardeio que havia atingido o oeste de Safsaf.
Conforme exposto pelo historiador judeu israelense Ilan Pappe em seu livro A Limpeza Étnica da Palestina, todas as tropas que defendiam o vilarejo, nelas inclusos voluntários do ALA (Exército de Libertação Árabe), estavam esperando que as tropas sionistas atacassem vindas do leste. Contudo, foram pegas desprevenidas com os judeus e drusos vindo do oeste, sendo rapidamente derrotadas.
Da mesma forma como vinha ocorrendo com as atrocidades anteriores cometidas pelos sionistas, grande parte desse novo massacre também ocorreu após a rendição da aldeia. Na manhã seguinte, conforme descreve Pappe, “o povo recebeu ordem de se reunir na praça da aldeia”, quando se realizou o já rotineiro procedimento de identificar “suspeitos”, ou seja, pessoas que pudessem oferecer algum tipo de resistência ao terror sionista.
Cerca de 70 palestinos foram escolhidos arbitrariamente pelos sionistas e drusos, “vendados e depois transferidos para um local remoto e então sumariamente fuzilados”, fato inclusive confirmado por arquivos militares do Estado de “Israel”.
Assim como ocorre com toda a história da Nakba, os documentos oficiais não são suficientes para retratar a extrema violência engendrada pelo sionismo para viabilizar a limpeza étnica da Palestina. Assim, os testemunhos dos palestinos que vivenciaram na pele o fascismo sionista são essenciais, pois eles relatam as atrocidades sionistas em toda sua extensão. Sobre isto, diz Pappe:
“Há muito pouca razão para duvidar dessas testemunhas oculares relatos, já que muitos deles foram corroborados por outras fontes para outros casos”.
No que diz respeito ao massacre de Safsaf, o historiador judeu dá os seguintes detalhes aterradores, dentre os quais mulheres e mesmo uma garota sendo estuprada, além de uma mulher grávida ter seu ventre perfurado com uma baioneta:
“Os sobreviventes recordam como quatro mulheres e uma menina foram estupradas na frente de outros moradores e como uma mulher grávida foi golpeada com baionetas”.
Um nível de crueldade digno de nazistas.
Até mesmo sionistas chegaram a confirmar o ocorrido, como foi o caso de Moshe Erem, sionista “de esquerda”, outrora membro do Knesset (parlamento israelense), ao relatar sobre o massacre em uma reunião do comitê político do Mapam (partido sionista “de esquerda”, dissolvido em 1997):
“[Em] Safsaf, 52 homens [foram] amarrados com uma corda. Empurrados para baixo de um poço e baleados. 10 mortos. Mulheres imploraram por misericórdia. Três casos de estupro… Uma menina de 14 anos estuprada. Outros quatro mortos.”
Como se não bastasse apenas o assassinato, o sadismo dos sionistas também era evidenciado por um costume que frequentemente se repetia nesses massacres: obrigavam sobreviventes que não conseguiam escapar a enterrarem os mortos:
“Algumas pessoas foram deixadas para trás, como em Tantura, para recolher e enterrar os mortos – vários homens idosos e cinco meninos”.
É necessário frisar que Illan Pappe não é o único historiador judeu que resgatou informações sobre mais este massacre perpetrado pelo sionismo contra os palestinos. Há inúmeros outros, dentre eles Benny Morris, que o relatou em sua obra O nascimento do problema dos refugiados palestinos. Nela, os seguintes trechos expõem a natureza fascista do sionismo:
“Em Safsaf, as tropas dispararam e depois despejaram num poço entre 50 e 70 aldeões e prisioneiros de guerra .
[…]
Depoimento oral árabe do início da década de 1970, registrado por Nazzal (Êxodo, 93–95), mais ou menos corrobora a documentação judaica contemporânea. Segundo Nazzal, os soldados estupraram quatro mulheres, vendaram e executaram ‘cerca de 70’ homens. ‘Os soldados então pegaram os corpos e os jogaram sobre o revestimento de cimento da nascente da aldeia’.”
Ao fim, o massacre de Safsaf resultou no assassinato de mais de 70 palestinos, expulsando milhares de suas casas.