Nesta terça-feira, dia 28 de novembro, o portal Brasil 247 publicou uma matéria assinada pelo jornalista Alex Solnik, intitulada Esperando Gonet. O olho da publicação aponta sua política: “Conservador ele é, não há dúvida a respeito, mas nem todo conservador é inimigo de Lula”.
A matéria inicia apontando a preocupação de setores da esquerda com a nomeação, por Lula, de Paulo Gonet para a Procuradoria Geral da República (PGR).
“Há, no ar, muito palpável, como se fosse de concreto, o temor de algumas alas da esquerda brasileira acerca de Paulo Gonet, o novo PGR. Escapam, aqui ou acolá, preocupações com o futuro do governo.”
Na sequência, Solnik formula a questão de forma mais direta: “Sendo mais claro: essas pessoas temem que Gonet, por ser conservador, vai trabalhar para derrubar Lula.”
Seria Gonet apenas um conservador?
Ocorre que Gonet não é apenas um “tio” conservador. Ele faz parte há mais de 36 anos da máquina estatal, não como mero servidor, mas como agente do poder Judiciário.
Longe de ser apenas um conservador, Gonet é um homem que agiu em prol do golpe de Estado no País. Sua relação próxima do ministro Gilmar Mendes e atuação no STF e PGR durante o golpe também são indícios do seu papel político.
Durante o mandato de Bolsonaro, Gonet chegou a ser cotado pelo mesmo como possível Procurador-Geral da PGR. Sendo aclamado pelo então presidente como “conservador raiz” e “cristão”.
Entretanto, Augusto Aras acabou sendo nomeado para o cargo, por uma questão simples. Aras tinha um compromisso político com Bolsonaro, tanto que engavetou todos os processos de interesse do mesmo. Já Gonet, tinha compromisso com seu grupo de longa data.
Essa incompatibilidade de interesses políticos foi expressa nas palavras de Gonet da seguinte forma: “Nenhum candidato pode prometer que jamais haverá uma ação que incomode, mas garantiu que jamais usaria do cargo para atrapalhar o governo”.
Poderia a PGR trabalhar para o golpe?
Solnik, em certa altura do texto, aborda o poder da PGR na possível execução de um golpe de Estado: “Além disso, a história mostra que é mais fácil um PGR engavetar processos contra o presidente da República do que abrir. Augusto Aras e Geraldo Brindeiro que o digam.”
O mesmo continua: “O único PGR que abriu uma ação contra um presidente da República, desde a redemocratização, foi Rodrigo Janot.” Solnik ainda tenta dar uma justificativa técnica para a questão política: “E só abriu porque as provas eram abundantes. A gravação de uma conversa clandestina entre Temer e o dono da JBS, Joesley Batista, e o vídeo do deputado Rocha Loures correndo na rua com R$500 mil na mala. Não tinha como não abrir processo.” Ou seja, a tese de que procuradores-gerais só engavetam processos é furada e o próprio autor reconhece, evidenciando um certo grau de esquizofrenia em sua argumentação.
Seria PGR limitada?
Adiante, Solnik afirma a limitação do poder da PGR, lembrando da conivência de outros órgãos com possíveis conspirações: “Ainda assim, nem Janot nem PGR algum podem mandar investigar o presidente sozinhos. Devem obter autorização de 2/3 da Câmara – o que Janot não conseguiu. Se fosse aprovada pelos deputados, a ação seguiria para o STF, que tem a prerrogativa de permitir a abertura das investigações.”
Conclui Solnik que: “O poder do PGR, portanto, é limitado. Não tem como ele iniciar um processo contra o presidente sem provas robustas. Seria a sua desmoralização. E o caminho até atingir o presidente da República é longo e complicado. Passa pela Câmara e pelo STF.”
A famosa frase de Romero Jucá, “com supremos, com tudo”, continua viva na memória da maioria dos brasileiros. Tornou-se um meme triste da nossa história, demonstrando o quanto o caminho indicado por Solnik é curto.
No texto, o autor termina por concluir sobre Gonet que: “Pode-se esperar tudo de Gonet, como de qualquer pessoa que ganha poder.” Dessa afirmação, qualquer pessoa normal concluiria que Gonet e as pessoas referenciadas pelo autor, que ganharam poder, não estão aptos a qualquer cargo público.
A frase que encerra o texto é a seguinte: “Mas é certeza que ele não vai ter tempo para se ocupar em derrubar, nos dois próximos anos, aquele que acabou de indicá-lo.” Aqui, para nós, duas sensações: o autor realmente acredita na demasiada carga horária do Procurador-Geral da República.
Esse trecho anterior contribui com essa fábula: “Em segundo, Gonet deverá passar boa parte ou quase a totalidade de seu mandato de dois anos debruçado sobre os processos que envolvem Bolsonaro e seu entorno de 60 pessoas denunciados pela CPMI do 8/1.”
A segunda noção, passada no fim do texto, é que para alguém que não luta pela sobrevivência, realmente há escassez de tempo e não prioridade. E para Gonet, tenhamos certeza, a prioridade do seu tempo é ditada pelo mesmo setor da burguesia.
Apesar da confusão do autor, não é possível ignorar que Rodrigo Janot havia sido indicado por Dilma Rousseff para o mesmo cargo de Gonet em 2013 e reconduzido à PGR em 2015, um ano antes do golpe. A torcida de Solnik para que o novo procurador-geral evite o que “seria a sua desmoralização” não é nada além disso. Uma torcida.
O desejo de um diletante que vendo o perigo se aproximar, escolhe orar ao invés de agir. Uma política insana que, levada a sério, derrubará o governo do PT.