A Nakba – palavra árabe normalmente traduzida como “catástrofe” – é um termo que costuma ser empregado para designar a sequência de horrores sofridos pelo povo palestino nos anos de 1947 e 1948, quando foi fundado, formalmente, o Estado de Israel.
O dado que é comumente mais destacado deste período é o número de exilados: entre 700 e 800 mil árabes se tornaram refugiados apenas neste período (Entenda o que foi a Nakba, a catástrofe do povo palestino. Agência Brasil). No entanto, ele é insuficiente para expressar a barbaridade que foi a fundação do Estado de Israel, um dos processos mais violentos da história da humanidade, marcado por assassinatos, estupros, torturas, muita corrupção e até mesmo episódios de crime comum.
Os acontecimentos que levaram à catástrofe remetem ao final do século XIX, quando foi fundada a Organização Sionista Mundial, entidade esta que, já naquele momento, defendia o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina. Quando o Estado de Israel é enfim fundado, em 1948, um longo processo de ocupação do território árabe pelos judeus já havia sido cumprido.
As iniciativas para ocupar o território palestino foram variadas. As primeiras e mais pacíficas, naturalmente, foram a tentativa dos sionistas de comprarem as terras dos judeus. Esse método rapidamente falharia, uma vez que o projeto sionista não interessava à nobreza árabe, que acabaria perdendo o controle da região, nem ao campesinato, que não iriam competir com as técnicas de agricultura mais avançadas dos judeus ricos.
Diante do impasse, a expulsão violenta se tornou cada vez a única saída para que o projeto sionista fosse implementado. Segundo conta o historiador Ilan Pappé, em seu livro A Limpeza Étnica da Palestina, até 1918, quando prevalecia a compra de terra como método do movimento sionista, os judeus “não mais do que cinco por cento do total do país
população naquela época. Vivendo em colônias, não afetaram, nem foram particularmente notados pela população local”. No entanto, na mesma obra, Pappé alega que “a tomada do país pelos judeus e a expulsão dos palestinos, que os historiadores reconheceram tão claramente em retrospectiva nos escritos dos pais fundadores do sionismo, tornou-se evidente para algumas lideranças palestinas antes mesmo da Primeira Guerra Mundial [1914-1918]”.
Nos anos que se seguiram, os palestinos se viram confrontados com uma série de propostas do Império Britânico, que agora eram seus colonizadores, para que dividissem formalmente não apenas o território, mas a sua estrutura política com os sionistas. Na medida em que crescia a insistência do imperialismo britânico, que procurava estabelecer uma repartição mais ou menos igualitária entre judeus e palestinos, sendo que estes eram quase dez vezes mais numerosos que aqueles, o destino do sionismo ia se tornando mais claro: o Estado judeu não seria obra de um exercício diplomático honesto, mas sim de uma imposição. A desconfiança dos palestinos com o que estaria por vir era tanta que, em 1936, quando explode a revolta árabe, havia mais tropas militares britânicas na Palestina que na Índia (A Limpeza Étnica da Palestina, Ilan Pappé).
A revolta seria duramente reprimida pelo Império Britânico. A liderança palestina foi exilada e as unidades paramilitares que sustentaram a revolta foram dissolvidas em 1939. Durante este processo, muitos palestinos foram feridos, presos ou mortos. Segundo Ilan Pappé, a repressão britânica teria “preparado o terreno” para a ação dos sionistas (Idem).
É nessa época também que iria se desenvolver o Haganá – “a defesa”, em hebraico -, a principal armada sionista até a fundação de Israel. Durante a repressão à revolta árabe, as tropas do Haganá se uniram às tropas britânicas, participando ativamente das prisões e ataques aos aldeões árabes. Assim, aquilo que teria sido organizado, a princípio, para fazer a seguranças das comunidades sionistas (kibutz), se tornou uma verdadeira milícia para intimidar os povos locais.
Com a derrota da revolta árabe e com a formação de milícias cada vez mais bem preparadas para a repressão dos palestinos, os sionistas, por meio de seu principal líder à época, David Ben-Gurion (1986-1973), passaram a pressionar a Grã Bretanha, inclusive com ataques terroristas, para que adotasse não a solução de um Estado partilhado entre judeus e árabes, mas sim para que os sionistas tomassem conta de todo o território palestino.
Após terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a mediação entre o cada vez mais sedento movimento sionista e o povo palestino nativo passou do Império Britânico para as Nações Unidas. Segundo Ilan Pappé, entre os motivos para isso, estava a preocupação da Grã Bretanha em ter de reprimir os sionistas, que eram o fator de aumento da polarização, em um momento em que o mundo todo estava escandalizado com o holocausto judeu.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU implementou o Plano de Partilha da Palestina, medida essa que contou com o apoio entusiasmado da União Soviética, ainda sob o governo de Josef Stálin. O plano criminoso da ONU acabou sendo apoiado pela maioria dos governos de seus países-membros, em uma das maiores operações de coação do imperialismo norte-americano da história. Com o apoio desses governos corrompidos pelos norte-americanos, a ONU aprovou o plano à revelia dos árabes, que protestaram veementemente contra a medida.
O Plano de Partilha consistia em um imenso presente da ONU para os sionistas: um território superior ao palestino para um povo estrangeiro – algo que, com razão, os árabes entenderam como um roubo e, por isso, não aceitaram. No entanto, o “presente” era apenas um tratado formal: para que ele fosse efetivado, seria necessária uma operação de “limpeza” daquele território para que os sionistas conseguissem, assim, se estabelecer e inibir a reação árabe.