O caráter fascista de Israel está registrado desde sua fundação: durante a expulsão dos palestinos, na “Nakba” (cátastrofe, em árabe), a primeira guerra árabe-israelense, um dos massacres mais famosos ocorreu na aldeia de Deir Yassin, em 1948. Desde o início Israel utilizou métodos nazistas para fundar o seu Estado, um enclave do imperialismo no Oriente Médio, que se coloca para eliminar progressivamente os países islâmicos, ou subsumi-los à condição de colônias.
Illan Pappé, um historiador da Palestina, retrata todo o processo da Nakba no livro “A limpeza étnica na Palestina”, retratando diversos aspectos e episódios de profunda brutalidade e fascismo do regime sionista, entre eles, o Massacre de Deir Yassin, 9 de abril de 1948. De acordo com ele, logo em janeiro de 1949, forças voluntárias em defesa da Palestina, denominadas como “Primeiro Exército Voluntário Árabe” se organizaram para enfrentar os invasores israelitas, porém sem sucesso. Foi uma força para tentar coibir a onda de agressões, assassinatos e estupros que iniciaram com a implantação de Israel.
Com o apoio das grandes potências, essa força não foi páreo para as milícias israelenses, fortemente armadas pela União Soviética, que avançaram a onda de humilhação e brutalidade, dominando facilmente o povo palestino indefeso e desarmado, em geral, pobres camponeses que viviam em aldeias pouco desenvolvidas, uma população rural cujos representantes políticos já haviam sido exilados e as organizações de luta reprimidas pelo imperialismo britânico durante o Madato (1922-1948). Deste modo, segundo Pappé, essa situação de relativa facilidade, conduziu as forças isralenses à uma mudança de tática, operando no sentido da limpeza étnica, sem qualquer mediação, por assassinatos à sangue frio.
Massacre de Deir Yassin
Ainda de acordo com o historiador, “quase duzentos e cinquenta mil palestinos foram deslocados nesta fase – início da Nakba, que foi acompanhada por vários massacres, o mais notável ocorrido em Deir Yassin.” Milícias sionistas, de extrema direita, formadas por dois grupos extremistas – o Irgun (Organização Militar Nacional) e o Lehi (Lutadores pela Liberdade de Israel, também conhecido como Stern Gang), atacaram a aldeia. De forma proterva, chegaram atirando a esmo, arremessando granadas e coquetéis Molotov em residências, matando pobres camponeses desarmados, de forma covarde, a sangue frio. Depois disso saquearam os poucos pertences com algum valor, deixando os poucos sobreviventes praticamente com a roupa do corpo.
O resultado da ação de puro terror foi a morte de 200 pessoas, metade da população da aldeia, incluindo homens, mulheres, crianças e idosos; além de mutilações – inclusive de membros sexuais masculinos-, estupros em série – com vários soldados violando uma única mulher, que logo depois eram assassinadas, jogadas em valas e urinadas em cima. Crianças e adolescentes também foram estuprados. 25 homens da aldeia foram levados a desfilar por Jerusalém em caminhões antes da execução a sangue frio, onde arrancavam suas tripas numa pedreira, apenas pelo motivo de serem palestinos.
Jacques de Reynier, chefe do comitê internacional da delegação da Cruz Vermelha, em suas memórias pessoais, publicadas em 1950, narrou ter visto corpos de mais de 200 homens, mulheres e crianças mortos: “uma mulher que devia estar grávida de oito meses, foi atingida no estômago, com queimaduras, o vestido indicando que ela levou um tiro à queima-roupa…” (Jacques de Reynier. 1948, à Jerusalém; Instituto de Cultura Árabe – https://www.icarabe.org.br/node/3805).
Um relatório da ONU, de 1948, feito pelos britânicos descreveu que houve “o assassinato de cerca de 250 árabes, homens, mulheres e crianças, ocorreu em circunstâncias de grande selvajaria. […] Mulheres e crianças foram despidas, alinhadas, fotografadas, e depois abatidas por disparos de armas automáticas e os sobreviventes narraram bestialidades ainda mais incríveis”, informou. “Aqueles que foram feitos prisioneiros foram tratados com uma brutalidade degradante”. (ONU. Question of Palestine: legal aspects (Document 2). A compilation of papers presented at the United Nations seminars on the question of Palestine in 1980-1986. United Nations. New York, 1992).
Palestinos e comunidades judaicas vizinhas sempre tiveram boa convivência: judeus, cristãos ortodoxos e muçulmanos. Mas o sionismo defendia o genocídio do povo palestino para expulsá-los da “terra prometida”. Por isso, os assassinatos, os estupros e vilipêndios. Pappé descreve com muitos detalhes a quebra dessa harmonia. O autor descreve que durante a invasão à aldeia, soldados sionistas “pulverizaram as casas com tiros de metralhadora, matando muitos dos aldeões”. Segue dizendo que “aldeões foram presos e assassinados a sangue frio, os cadáveres foram maltratados e várias mulheres foram violadas antes de serem assassinadas”.
De acordo com um morador, Fahim Zaydan, que tinha doze anos na época, lembra-se de ter visto sua família assassinada diante de seus olhos: “Eles nos levaram um após o outro; eles atiraram em um velho e quando uma de suas filhas gritou, atiraram nela também. Então chamaram meu irmão Muhammad e atiraram nele na nossa frente, e quando minha mãe, que carregava minha irmã Hudra nos braços.” Os soldados também se deliciaram com o enfileiramento em paredões, pulverizando crianças e mulheres com saraivada de balas, “apenas por diversão”, antes de sair. Após todas as atrocidades e brutalidade, as milícias sionistas explodiram as casas. Existia uma unidade de sapadores encarregada de explodir as casas após o furto dos bens. Os camponeses foram forçados a fugir sem nada e os seus bens acabaram como lembranças da guerra nos salões e quintas, tanto dos soldados como dos oficiais.
O massacre destaca o caráter fascista do Estado de Israel, fundado com base no roubo dos palestinos (de seus bens e suas terras), no assassinato, nos massacres, nos estupros e outros horrores. Um dos maiores crimes da história, com apoio do imperialismo mundial e do stalinismo.