No último sábado, dia 4 de novembro e dia internacional de mobilização em solidariedade ao povo palestino, a Revista Oeste publicou artigo atacando a manifestação ocorrida naquele dia em São Paulo, capital: “Militantes de esquerda celebram o terrorismo na Avenida Paulista”. A revista denuncia suposto antissemitismo no protesto, e aponta palavras de ordem como base para suas acusações:
“Liderados pelo Partido da Causa Operária (PCO), manifestantes cantaram uma música para demonstrar apoio à ditadura teocrática do Irã e aos grupos terroristas Hezbollah, do Líbano; Talibã, do Afeganistão; e Hamas, da Palestina.
“O partido convocou seu grupo de bateria, chamado Zumbi dos Palmares, para entoar os gritos antissemitas.”
Bom, a justificativa para a acusação não é desenvolvida, não há argumento apresentado em momento algum. Mais que isso, nenhuma das três organizações consta como terrorista na lista do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ou seja, afirmações vazias. Por que então haveria algum problema em exaltar tais entidades, qual o contexto para isso?
“Os versos enaltecem a revolução islâmica no Irã, em 1979; a expulsão das tropas israelenses do Líbano, em 2000; a tomada de poder do Afeganistão, pelo Talibã, em 2021; e os recentes ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro.”
A posição do veículo, portanto, é de atacar a libertação dos povos do mundo da dominação do imperialismo, como ocorrido nas referidas datas, e classificar tais feitos como “terrorismo”, tática usual do imperialismo. A Revista Oeste demonstra seu alinhamento. A acusação contra o Hamas, no entanto, aqui é especificada. Seria terrorista a operação militar do Hamas no 7 de outubro? Ora, naturalmente que não. O ataque se dirigiu às bases militares e aos territórios colonizados — e os colonos israelenses são muito bem armados, diga-se de passagem. Se trata de uma farsa do imperialismo na guerra de propaganda.
“[…] os apologistas do terrorismo queimaram a bandeira de Israel e a exibiram” — outro ponto da Oeste. Qual seria o problema nisso? Em uma manifestação contrária ao nazismo cometido pelo Estado de “Israel”, queimar a sua bandeira? Não seria normal, esperado, fazê-lo? Nada de terrorismo, apologia ou o que seja decorre de nenhum dos fatos apresentados. É interessante e ilustrativo ressaltar um trecho do artigo:
“‘Queima!’, gritavam os manifestantes, enquanto um militante segurava a bandeira israelenese. ‘A bandeira porca de Israel! A bandeira maléfica de Israel. A bandeira genocida de Israel. Vamos queimar o símbolo do apartheid.’
“O grupo queimou a bandeira até desintegrá-la. Depois a pisoteou. No fim, um militante a exibiu para o público.
[…]
O jornalista […] Breno Altman [que é judeu] esteve na manifestação e criticou o ‘colonialismo’ israelense.”
Ora, o artigo em momento algum refuta as acusações de apartheid e colonialismo direcionadas a “Israel”. E a Oeste ainda segue reforçando a posição dos manifestantes: “Gritaram pelo fim do Estado de Israel e o chamaram de nazista.”
A direita se denuncia. É apoiadora do nazismo, do colonialismo, da supremacia racial, do regime de apartheid instituído pelo imperialismo no Oriente Médio, na figura da base militar de nome Israel. O Hamas, mais frontalmente denunciado, é justamente a principal organização de luta contra o regime nazista israelense, e por isso é atacado.
Ao não aceitar viver em condições de absoluta miséria e dominação, os palestinos se revoltam e, por se revoltarem, são taxados como terroristas. Terrorista é aquele que se revolta contra o estado de vida em que 97% da água encanada é poluída? Ou o terrorista é quem mantém tal situação absurda?
Atirar em protestos pacíficos, sequestrar pessoas em suas casas, manter centros de tortura, inclusive de crianças, aprisionar pessoas aleatoriamente para torturá-las posteriormente, utilizar munição específica para mutilar as pernas do povo palestino, seriam tais ações consideradas como terrorismo pela Revista Oeste? O que faz o Hamas é o que qualquer ser humano faria nessa situação: tomar armas e organizar um levante contra a ocupação.O muro que cerca Gaza foi rompido, o muro do apartheid hoje está esburacado pelos explosivos do Hamas. E tais explosões foram e irão muito além, até o fim da ocupação sionista, que chama os nativos de terroristas enquanto os joga no mais profundo estado de miséria.