O xeque Ahmed Ismail Hassan Yassin é uma figura central da história do Movimento Resistência Islâmica (HAMAS, na sigla em árabe). O imã, quadriplégico desde o 12 anos, quando sofreu um acidente, foi o principal líder espiritual da organização política islâmica que atualmente lidera a resistência palestina contra o Estado de Israel.
Nasceu em al-Jura, um pequeno povoado perto da cidade de Ashkelon, durante o Mandato Britânico na Palestina, então dominada pelo imperialismo inglês. O ano de seu nascimento é contestado; seu passaporte palestino indicava 1º de janeiro de 1929, enquanto ele alegava ter nascido no verão de 1936, quando explodiu a Revolta Árabe (1936-1939) no país contra o domínio britânico e a expansão do sionismo.
Durante a Naqba, em 1948, sua família foi forçada a se refugiar na Faixa de Gaza, se estabelecendo no acampamento al-Shati. A Naqba (a “catástrofe”, em árabe) é como os palestinos chamam a expulsão forçada dos árabes pelas forças sionistas, iniciada após a Organização das Nações Unidas (ONU) definir, vergonhosamente, a partição da palestina em dois Estados, oficializando o Estado Judeu prometido anos antes pelo imperialismo britânico.
Após a resolução da ONU, milícias sionistas e as recém formadas Forças de Defesa de Israel iniciaram um processo de limpeza étnica na Palestina, tomando à força os territórios definidos pela entidade e expandindo seus domínios ainda mais, após se saírem vitoriosos da Primeira Guerra Árabe-Israelense. Os palestinos foram obrigados a fugir e se refugiar na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Assim, a família Yassin foi uma das inúmeras que tiveram de se estabelecer na Faixa de Gaza. Mais velho, Ahmed Yassin estudou na Universidade Al-Azhar, em Cairo (Egito), mas não conseguiu concluir os estudos por causa de sua saúde deteriorada, tendo que ser educado em casa, onde se dedicou à filosofia, religião, política, sociologia e economia.
Com alto nível cultural, se tornou um dos melhores oradores da Faixa de Gaza, e começou a proferir sermões semanais após as orações de sexta-feira, atraindo multidões. Trabalhou como professor de língua árabe numa escola elementar em Rimal, estimulando seus alunos a se dedicaram aos islamismo.
Na década de 1970, atuou ativamente na Irmandade Muçulmana, uma das maiores organizações islâmicas do mundo, fundada no Egito em 1928. Ahmed Yassin atuou ativamente para montar a filial palestina da entidade. Em 1973, o Mujama al-Islamiya (Centro Islâmico) foi estabelecido em Gaza pelo xeque. Essa organização é a base fundamental do Hamas, que até a Primeira Intifada (em 1987), não atuava como organização política, mas apenas como entidade religiosa e de caridade.
Mujama al-Islamiya foi reconhecido pelo Estado de Israel em 1979. Inicialmente, a organização, que já era grande, foi estimulada pelos sionistas e pelo imperialismo para se contrapor a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que liderava a resistência palestina contra Israel.
Em 1987, quando explodem as manifestações populares que ficaram conhecidas como Primeira Intifada, o grupo islâmico decide montar uma organização política, o Movimento Resistência Islâmica (HAMAS), após reuniões dos principais dirigentes na casa de Ahmed Yassin. O Hamas, conforme destacou Yassin, seria a “ala paramilitar” da Irmandade Muçulmana Palestina, o imã seria o principal líder espiritual da organização.
Em 1989, ainda durante a Intifada, Yassin foi preso pelo Estado sionista e sentenciado a prisão perpétua por supostamente ordenar a morte de “colaboradores” (como chamam aqueles palestinos que colaboram com Israel).
Na década de 1990, o Hamas forma sua organização armada, as Brigadas Izzedine al-Qassam – em homenagem ao imã homônimo. Com o fim da Primeira Intifada, em 1993, nos Acordos de Oslo, o Hamas rompe definitivamente com a OLP, que aceita a resolução de dois Estados, com a promessa de formação de um Estado palestino através da Autoridade Palestina – o que, naturalmente, até hoje, ainda não ocorreu. O Hamas, por outro lado, não aceitou o acordo, decidindo lutar contra o Estado sionista, em defesa de um Estado palestino único.
Em 1997, em condições de saúde extremamente deterioradas, Yassin foi libertado das prisões israelenses em troca de dois agentes do Mossad (a CIA de Israel), capturados pela Jordânia após uma tentativa fracassada de assassinar o líder do Hamas, Khaled Mashal. O acordo também destacava que o Hamas parasse seus atentados com homens-bomba em Israel – o que não ocorreu.
Apesar de apelar por uma conciliação do Hamas com a Autoridade Palestina, buscando unificar a resistência contra o sionismo, a entidade que governava os guetos árabes já estava profundamente corrompida pelo imperialismo, atuando em conciliação com o Estado de Israel na opressão ao país. Ele, no entanto, foi colocado inúmeras vezes sob prisão domiciliar pela AP, sendo solto todas as vezes após manifestações massivas de seus apoiadores.
Em setembro de 2003, as Forças Aéreas de Israel dispararam mísseis contra um prédio em Gaza, buscando matar Ahmed Yassin. No entanto, ele conseguiu sobreviver, sendo tratado no Hospital Shifa. À imprensa, ele respondeu que “os dias provarão que a política de assassinatos não acabará com o Hamas. Os líderes do Hamas desejam ser mártires e não têm medo da morte. A jihad [guerra santa] continuará e a resistência persistirá até alcançarmos a vitória, ou até que sejamos mártires.”
Após o atentado suicida de Reem Riyashi, que matou quatro israelenses na passagem de Erez em 14 de janeiro de 2004, Ahmed Yassin foi “marcado para a morte”. Ele foi assassinado em 22 de março de 2004, quando estava sendo levado para fora de uma sessão de oração matinal em Gaza. Um helicóptero de combate israelense disparou mísseis contra Yassin e seus dois guarda-costas. Todas as manhãs, ele usava o mesmo caminho para ir até a mesma mesquita no distrito de Sabra, que ficava a 100 metros de sua casa.
Com a morte de Yassin, Abdel Aziz al-Rantissi tornou-se lider do Hamas, sendo assassinado um mês depois, em 17 de abril de 2004.
O assassinato obrigou a Autoridade Palestina a declarar três dias de luto e fechou escolas palestinas. O Hamas prometeu vingança contra Israel, e cerca de 200.000 pessoas participaram do funeral de Yassin na Faixa de Gaza. Muitos líderes árabes condenaram o ato, enquanto o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, defendeu o ataque israelense.