De uns anos para cá, a teoria “decolonial” se instalou como moda nas universidades. Qualquer coisa que aconteça no mundo pode ser explicado pelo “colonialismo”. Um colonialismo abstrato, como tudo o que é produzido na academia.
Essa teoria, que aparece como progressista e preocupada com os povos colonizados, é usada normalmente para encobrir políticas muito reacionárias do imperialismo – o colonialismo da atualidade. Os jornais burgueses estão inundados com representantes dessa teoria, governos super reacionários, como o dos Estados Unidos, promovem debates “decoloniais”. É uma febre que está nitidamente sendo impulsionada pelo imperialismo.
A prova de que tudo isso não passa de propaganda imperialista é o completo silêncio dos “decoloniais” – ou pelo menos de boa parte deles – sobre o que está acontecendo em Gaza.
O extermínio de um povo pobre, oprimido e indefeso por uma potência militar apoiada por outras potências militares parece não constar nos manuais acadêmicos dos grandes teóricos “decoloniais”.
Um artigo chamado “Decolonizing Palestine in the time of academic metaphors” (algo como “Descolonizando a Palestina na época das metáforas acadêmicas” num tradução livre em português) publicado no sítio Mondoweiss, no dia 30 de outubro, explica muito bem o problema dos “decoloniais”.
Segundo o autor, Izzeddin Araj, muitos dos acadêmicos que se dedicam aos estudos coloniais, até alguns que concordam que Israel é um Estado de tipo colonial, não estão denunciando os crimes de Israel.
“Estamos numa era de metáforas acadêmicas onde o reconhecimento crítico está divorciado da realidade reconhecida. Muitos acadêmicos escrevem sobre a descolonização, mas dificilmente se envolvem com formas reais de desfazer a injustiça.”
A colocação do autor do texto é bem precisa nesse ponto. Há uma completa desconexão com a realidade. A suposta luta contra o colonialismo é apenas uma ideia abstrata, algo que remotamente aconteceu décadas, de preferência séculos, atrás.
Isso acontece não simplesmente porque a academia é naturalmente um local da não ação política. No caso específico, a cumplicidade dos teóricos “decoloniais” está relacionado diretamente aos interesses dos grandes monopólios imperialistas que os impulsionam.
O imperialismo pode abrir uma concessão e permitir que um intelectual de gabinete escreve bobagens sobre a história da colonização, inclusive em grandes jornais da burguesia, como vemos no Brasil. Mas o imperialismo não pode permitir que se denuncie um colonialismo que está acontecendo agora, que se defenda um povo está sendo massacrado agora.
O “decolonialismo” é o cúmulo da demagogia imperialista.
O autor explica que em conversas com outros acadêmicos, “muitos deles, que há anos trabalham com colonialismo e descolonização, acreditam que Israel tem o direito de se defender. Alguns aderiram rapidamente a uma campanha nos meios de comunicação ocidentais para descontextualizar os acontecimentos de 7 de Outubro e até rejeitaram qualquer contextualização como relativismo. Outros, na melhor das hipóteses, falaram em condenar os dois lados e recusaram qualquer associação de violência com descolonização. Quando escrevi a um grupo de amigos e colegas investigadores que a descolonização não é uma metáfora, um colega respondeu: ‘Talvez seja?'”
A palavra metáfora explica bem o que é o colonialismo para os identitários “decoloniais”. Não é uma realidade. E se não é uma realidade, menos ainda a reação do oprimido, dos colonizados, será uma luta legítima.