Suspeito que o futebol no Brasil esteja se tornando um claro reflexo da senescência capitalista, como já havia previsto Marx. Primeiro deixou de ser associativo e passou a ser financiado pelas empresas e corporações industriais, através da publicidade nas camisetas e em todas as ações do clube. O sócio e suas mensalidades já não são suficientes para arcar com as despesas do clube, magnificadas dentro de uma bolha nutrida pela relação apaixonada que temos com as agremiações. Depois disso, com o crescimento exponencial dos custos com seus astros e suas arenas modernas, tornou-se dependente de bilionários e investidores, que usam o futebol como trampolim para seus lucros. Muitos destes mecenas futebolísticos são conhecidos por seus negócios escusos em várias áreas, repetindo o que acontecia com o “jogo do bicho” e seus investimentos no Carnaval.
Grandes e tradicionais clubes europeus já são controlados por príncipes Árabes ou novos ricos do leste europeu, cujo dinheiro surgiu do desmantelamento da Europa socialista. No Brasil clubes centenários como Botafogo, Vasco, Coritiba e Bahia já estão sob o controle de magnatas que usam o futebol como negócio; outros, como o Atlético Mineiro e o Santos estão em vias de se tornar. Hoje em dia se discute quem conseguiria escapar da sanha privatista do futebol. As SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol) estão se tornando a única saída viável para um esporte que se torna cada vez mais hipertrofiado.
Agora o próprio futebol, em nível internacional, migra para os países da península arábica, criando um polo de futebol midiático, lotado de jogadores ricos, príncipes excêntricos e petrodólares, onde o futebol se torna uma mera renda extra para as atividades de publicidade dos artistas da bola. Hoje os clubes brasileiros estão atolados em dívidas, algumas delas na casa do bilhão de reais, enquanto jogadores medianos tem salários de até 2 milhões mensais, mas ao mesmo tempo em que esse espetáculo de luxo acontece pela TV a classe operária é alijada do show, expulsa dos estádios luxuosos, impossibilitada de torcer pelos seus times dentro do estádio. A gentrificação e a gourmetização tiraram a alma dos clubes, tornando-os um produto de luxo. O esporte mais popular do mundo, está perdendo sua raiz social ao impedir o povo de frequentar os lugares onde o ludopédio é praticado. Os torcedores das classes populares foram expulsos dos estádios, tornados shopping centers para as classes média e alta.
O futebol moderno talvez seja uma das primeiras bolhas a explodir. A conexão do povo com o esporte aos poucos se enfraquece, e a paixão – que se nutre dessa conexão – vai lentamente fenecendo.