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Alternativas para a Alemanha

Surge na Alemanha um adversário à altura da AfD?

Imigração, sanções contra Rússia, apoio à ofensiva ucraniana e alinhamento com imperialismo norte-americano são principais pontos de divergência

Na última segunda-feira (23), um racha há muito antecipado finalmente concretizou-se. A popular parlamentar alemã Sahra Wagenknecht anunciou que abandonaria seu partido, o Die Linke (literalmente “A Esquerda”, em português), do qual faz parte desde 2007 e pelo qual é parlamentar eleita ao Bundestag (Congresso alemão) desde 2009. Seu novo novo partido chama-se Bündnis Sahra Wagenknecht (BSW, Aliança Sahra Wagenknecht em português), por enquanto apenas anunciado. A organização deve formalmente entrar em operações no início do 2024, já para as eleições para o Parlamento Europeu.

Wagenknecht não apenas trouxe consigo 9 dos 38 deputados do Die Linke no Bundestag, como também milhões de eleitores. A primeira pesquisa de opinião realizada pelo instituto INSA para o jornal Bild, no dia após o anunciou de sua criação, cravou o BSW na quarta posição, com 12% das intenções de votos, num empate técnico com o Partido Verde com 12,5% e atrás do Partido Social Democrata (SPD), com 15,5%, do Alternativa para a Alemanha (AfD), com 18%, e da União Democrata-Cristã (UDC) com 26,5% (Erste Umfrage mit Sahra-Wagenknecht-Partei, Junge Welt, 23/10/2023). Menos de uma semana depois, o apoio ao BSW flutuou para 14% e, simulando cenários com e sem o partido nas eleições, a pesquisa detectou que o partido que mais perdia votos com a entrada da organização de Wagenknecht era o AfD (Wagenknecht-Bündnis käme auf 14 Prozent, Welt, 28/10/2023).

O anúncio da criação do novo partido de esquerda veio na sequência de expressivo crescimento do AfD, partido de ideologia de extrema-direita, nas eleições regionais dos estados da Bavaria e de Hesse. Ambas as regiões são muito importantes economicamente para a Alemanha e mostram que o AfD não tem penetração apenas nos estados do Leste Europeu.

Em Hesse, estado onde a social-democrata é historicamente forte, o partido do primeiro-ministro Olaf Scholz conquistou apenas 15,1% dos votos. Já na Bavaria, pífios 8,4%. Os outros partidos que integram a atual coalizão que governa a federação alemã, o Partido Verde e o Partido Liberal Democrata, também perderam terreno nos estados nos quais a AfD conquistou, respectivamente, 18,4% e 14,67% dos votos. A situação local expressa fenômeno nacional no qual a extrema-direita cresce, rumo a se tornar a segunda maior força política do país atrás da UCD que recuperou parte de seu apoio após um tempo fora do governo (o partido governo com a chanceler Angela Merkel de 2005 a 2021). Segundo pesquisa de opinião recente, 79% da população alemã está insatisfeita com o atual governo federal (Far-right AfD makes unprecedented election gains in west Germany, worrying national government, The Conversation, 18/10/2023).

As próximas eleições estaduais, a serem realizadas em 2024 em Bradenburgo, Saxônia e Turíngia, mostram em suas pesquisas de opinião um crescimento espantoso da extrema-direita. O AfD só não lidera as intenções de voto na Saxônia, mas sua tendência de crescimento indica que até o dia da votação deverá superar o UCD.

Nesse cenário eleitoral catastrófico, no qual o Die Linke, agora ex-partido de Wagenknecht, também derrete nas pesquisas de opinião de voto, o surgimento do BSW introduz uma alternativa à esquerda ao povo alemão para a política predominantemente dominada pela burguesia imperialista mundial. Ainda que setores do Die Linke coloquem-se contra a guerra da Ucrânia, de forma moderada, Wagenknecht e seu grupo político denunciam a explosão dos gasodutos Nord Stream, artérias da dinâmica economia industrial alemã, como uma operação realizada pelo imperialismo norte-americano. E vão além, ao colocar abertamente que as sanções econômicas contra a Rússia, na realidade são sanções econômicas contra a Alemanha e a economia europeia (Sinnloser Wirtschaftskrieg, Junge Welt, 26/08/2023). As sanções fizeram com que a Alemanha sofresse contração econômica nos últimos três trimestres, colocando o motor da União Europeia no caminho da oficina mecânica, numa efetiva recessão.

Justamente por isso o BSW tira votos acima de tudo da AfD. O partido de Wagenknecht tira das mãos da extrema-direita o que de fato era um monopólio da crítica ao apoio à Ucrânia na guerra da OTAN contra a Rússia, algo cada vez menos popular na Alemanha. Não à toa jornais nacionais e internacionais, como o The New York Times, foram rápidos em rotular o BSW com o adjetivo populista, dado também ao AfD e a qualquer organização que venha a reproduzir algum interesse popular (Leftist Upstart Threatens to Shake Up German Politics, The New York Times, 23/10/2023).

Os posicionamentos de Wagenknecht e seu partido são um refresco não apenas na Alemanha como em toda a Europa, onde partidos de extrema-direita crescem cada vez mais ao ponto de se tornarem maioria em certos parlamentos, como o belga, e de tornarem-se tão fortes ao ponto de participarem da coalizão governista, como na Finlândia e na Suécia. Ainda que a política de Wagenknecht seja limitada e recaia em termos como “mundo multipolar”, vocabulário da burguesia nacionalista de países atrasados que tem a ilusão de que negociará com o imperialismo de igual para igual, sua iniciativa em organizar um novo partido, relativamente independente, rompe a barragem imposta pela burguesia europeia à esquerda local, que viu suas principais organizações e partidos tornarem-se cada vez mais subservientes à política imperialista.

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