O Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, foi criado durante o grande levante palestino de 1987, conhecido com Intifada. Eles são taxados de terroristas, assim como muitos outros, porque aderem à luta armada. Mas em uma guerra, não há outra luta senão a armada. O movimento é, na realidade, um partido político que chegou a concorrer às eleições e vencer no ano de 2006. Depois disso, as eleições foram proibidas na Palestina pela ditadura de Israel. O Hamas é popular justamente porque trava uma luta pela libertação nacional da Palestina. Por eles serem o setor mais ativo dessa luta, ganharam amplo apoio do povo palestino.
A questão da religião é de segunda importância. O fator crucial é justamente não aceitarem a dominação israelense. Outro grupo que é semelhante ao Hamas – e que também é muito atacado – é o Hesbolá, o Partido de Deus. Ele é como o Hamas, um partido político que também tem uma força armada. Quando Israel invadiu o Líbano e ocupou o país por 22 anos, foi o Hesbolá que expulsou o exército invasor. Assim, eles ganharam uma enorme popularidade em seu país. O Hamas segue os passos do Hesbolá, contudo, com muito mais dificuldade, pois a Palestina não é, na prática, um país, mas um território ocupado militarmente.
Hamas: “Decidimos dizer basta!”
O Hamas, portanto, depois de 30 anos lutando pela libertação da Palestina, conseguiu fortalecer muito o seu braço armado, as Brigadas de Al-Qassam. Por meio delas, pela primeira vez na história, eles conseguiram invadir território controlado por Israel e, assim, derrotar militarmente os israelenses em uma batalha. A derrota, no entanto, foi muito mais política do que militar, ela mostrou para todo o mundo que Israel está fraco, e os árabes, que sofrem há 75 anos, não estão dispostos a aturar por muito mais tempo a existência desse Estado.
A crise foi tão grande que os EUA mandaram dois porta-aviões para o mar de Israel, mandaram o ministro das relações exteriores, o ministro da guerra e o próprio presidente Joe Biden. Este anunciou um pacote de armas bilionário e apoio total aos israelenses. Essa reação gigantesca dos EUA mostra que a própria existência de Israel está em crise. Ao lado dos palestinos que lutam, há também os libaneses, os sírios e principalmente os iranianos, a maior potência militar regional que se opõe aos EUA.
A reação de Israel à operação do Hamas foi brutal. No começo, ao invés de tentar lançar uma operação por terra, que é a única forma de atacar as bases do Hamas, Israel começou a bombardear incessantemente a Faixa de Gaza. Foram jogadas mais bombas em uma semana do que anos inteiros da guerra do Afeganistão. Hospitais, igrejas, mesquitas, escolas e prédios residências foram destruídos. A maior parte das vítimas são mulheres e crianças. O caso mais grave foi o bombardeio do hospital al-Ahli, que levou à morte 500 palestinos de uma só vez, um dos maiores massacres da história.
O Ministério da Saúde da Palestina fez um balanço de 20 dias de bombardeios: Cerca de 45% das unidades habitacionais foram completamente ou parcialmente destruídas; Aproximadamente 219 instalações educacionais foram atingidas, incluindo pelo menos 29 escolas da ONU; Estima-se que 1,4 milhão de pessoas em Gaza estão deslocadas internamente; Um total de 101 profissionais de saúde foram mortos em ataques israelenses, e mais de 100 foram feridos. Cinquenta ambulâncias foram atacadas e metade delas está fora de serviço. Vinte e quatro hospitais receberam pedidos de evacuação no norte de Gaza (para serem bombardeados); Os hospitais estão operando com mais de 150 por cento de sua capacidade; Pelo menos 130 recém-nascidos dependentes de incubadoras estão agora em risco de morte devido à falta de eletricidade; Aproximadamente 166 nascimentos de alto risco estão ocorrendo diariamente em Gaza.
Ao fechamento desse panfleto, a guerra ainda não tinha escalado, mas, como podemos ver, a atual situação é um barril de pólvora: a qualquer momento pode começar uma guerra de diversos países contra Israel.
A luta dos palestinos, portanto, é a luta de todos os países do Oriente Médio para se livrarem da opressão do imperialismo. Ao mesmo tempo, o povo de toda a região e de todo o mundo é solidário aos palestinos. Se o povo brasileiro já sofre diante da opressão do imperialismo, é difícil até descrever o sofrimento dos palestinos. A Faixa de Gaza é, na prática, um campo de concentração com 2,3 milhões de pessoas. Não há nenhuma perspectiva, e justamente por isso que é lá onde a luta dos palestinos é a mais radical.