Matéria publicada no sítio Esquerda Diário, do grupo MRT, revela uma confusão profunda sobre o caráter da luta que ocorre nesse momento na Palestina. Intitulado “Apoiar a resistência palestina não significa apoiar a estratégia e os métodos do Hamas”, o texto do MRT acaba se perdendo em dogmatismos que escondem uma capitulação diante das pressões do imperialismo.
Primeiro, o texto faz um malabarismo para caracterizar o Hamas:
“consideramos que, no contexto da guerra permanente na Palestina, o Hamas deve ser considerado como uma organização beligerante e não como uma ‘organização terrorista’ (…) Recusar a qualificação de ‘terrorismo’ não significa, portanto, relativizar e muito menos justificar os crimes do Hamas contra civis palestinos e israelenses, mas evitar que a leitura da situação na Palestina seja tendenciosa”
De fato, a denominação de “terrorismo” é pura propaganda canalha do imperialismo para justificar o genocídio israelense. Mas isso não é fundamental. De fato, o Hamas é uma força de combate não regular que representa os palestinos contra uma das mais poderosas forças armadas do mundo, do Estado de Israel.
No entanto, mesmo se o Hamas tivesse método considerado “terroristas”, a caracterização sobre o grupo não mudaria. É preciso apoiar incondicionalmente a ação dos grupos palestinos. Eles devem usar qualquer método que têm disponíveis para enfrentar um inimigo poderoso que está masscrando o povo.
Para o MRT, no entanto, não é assim. Mesmo concordando que o Hamas não é terrorista o texto condena o grupo: não se deve “relativizar e muito menos justificar os crimes do Hamas contra civis palestinos e israelenses”. Aqui, a posição do MRT é uma versão esquerdista cor de rosa do que fala até mesmo setores da direita que não são tão raivosos defensores de Israel.
O MRT nem se pergunta de onde tiraram o informação de que o Hamas atacou “civis israelenses e palestinos”. Quem está difundindo isso é justamente Israel e o imperialismo. O MRT repete, escandalizado, como se fosse uma senhora conservadora que assiste à televisão e acredita em tudo o que ouve.
Mas o impressionante não é a crença do MRT na propaganda imperialista. O impressionante é o direitismo de sua colocação política. Condenar o Hamas por supostamente ter cometido crimes é uma coisa hiper reacionária.
Ao lermos colocações como essa temos a impressão que a esquerda abandonou completamente os princípios básicos do marxismo. O MRT se diz trotskista e revolucionário, mas sua política é quase uma repetição com viés pseudo-esquerdista do que fala o presidente da ONU.
Um revolucionário de verdade apoia incondicionalmente ações revolucionárias como a do Hamas. Um revolucionário de verdade não impõe condições ao grupo que está lutando de armas na mão contra um opressor tão poderoso. Se o Hamas fez ou deixou de fazer “maldades contra civis” isso não pode estar na balança simplesmente porque isso não é um apoio real à luta que está sendo travada concretamente pelo povo. Sem contar as mentiras.
Convencido dessas mentiras contadas pelo imperialismo, o texto do Esquerda Diário continua:
“Esse método de atingir a população civil israelense é totalmente reacionário e prejudicial para a causa palestina: disparar sobre civis numa festa não é apenas um crime que denunciamos, como não contribui em nada para impedir a opressão israelense.”
O MRT reproduz a propaganda mentirosa de que o Hamas é um verdadeiro mostro. Eles “atiraram em pobres pessoas numa festa”. Até hoje isso não foi esclarecido, mas tudo indica ser mais uma mentira.
Mas o que impressiona é a capacidade do MRT de procurar motivos para não apoiar a luta palestina. O Hamas é a expressão dessa luta, mas o MRT arranja senões porque de fato não apoia incondicionalmente a luta dos palestinos.
Além disso, caracterizar o método “terrorista” como reacionário é, isso sim, uma política reacionária. Como tudo em política, a caracterização deve se dar com base nos interesses das classes em luta. O MRT acha que qualquer “método terrorista” é reacionário. Isso é totalmente anti-marxista e contrarrevolucionário. Na história, os marxistas apoiaram o dito “terrorismo” sempre que representava a luta real do oprimido.
O MRT está encontrando pretextos para não ter que defender o Hamas porque o imperialismo falou que está proibido defender o Hamas. Esse é o único problema. O resto é lero-lero.