O Hamas (acrônimo parcial do “Movimento de Resistência Islâmica”), organização que lidera o levante palestino contra o Estado fascista de Israel, não adota o programa e a ideologia do Partido da Causa Operária (PCO). As diferenças, a bem da verdade, são consideravelmente grandes.
O PCO é um partido operário revolucionário. Seu programa é o programa do comunismo. Sua base ideológica é o marxismo, cujos fundamentos filosóficos se apoiam no materialismo, o qual implica, entre outras coisas, o ateísmo.
Em vários aspectos, o programa e a ideologia do Hamas se encontram no pólo oposto aos posicionamentos programáticos do PCO. O Hamas é um braço da Irmandade Muçulmana. Ideologicamente, filia-se ao movimento religioso islâmico. Enquanto o PCO defende, como norte estratégico, a ditadura do proletariado, o Hamas defende a constituição de um Estado islâmico palestino. Outras diferenças fundamentais poderiam ser elencadas.
E por que, apesar dessas grandes diferenças, o PCO fala que está “1.000% com o Hamas”? Porque é o Hamas, e não outra organização, que dirige a luta contra o enclave imperialista da região (o Estado de Israel), e o imperialismo, para o PCO, é o inimigo principal a ser derrotado.
O Estado de Israel foi criado artificialmente pelo imperialismo mundial em 1948. Nasceu promovendo massacres, perseguições, assassinatos e o desalojamento de milhões de palestinos. Sua política não poderia ter outra natureza ― é uma política genocida, de extermínio de toda uma população. Nada muito diferente do que Hitler e Mussolini fizeram na Abissinia, na então Tchecoslováquia, na Polônia, etc.
A ação do Estado de Israel nunca se baseou simplesmente no ataque a alvos militares. Muito pelo contrário. Os bombardeios se endereçam a regiões densamente povoadas, à população civil. Bombardeiam escolas, hospitais, bairros inteiros, usinas de energia. Procuram destruir as condições mesmas de vida da população palestina. Isso desde a sua fundação. Essa política bárbara continua agora em escala ampliada.
Não é possível enfrentar a política genocida dos sionistas, de características verdadeiramente fascistas, pregando a paz e a conciliação. Os palestinos precisam lutar, em primeiro lugar, pelo direito de existir; em segundo, pelo direito de resistir à opressão; em terceiro, pelo direito de resistir com armas na mão. É impossível conduzir essa luta sem alguma direção política. E quem exerce tal direção no momento é o Hamas. É por meio da ação do Hamas que toda a luta dos palestinos se expressa politicamente no momento.
É por isso que todo o apoio à luta palestina que não se referencie, ou mesmo se oponha, à luta travada pelo Hamas é uma falsidade, um engodo. É um apoio inócuo, um arremedo de apoio, um apoio que não significa absolutamente nada. Em última instância, consiste mesmo num apoio tácito à política fascista do Estado israelense. A maioria das organizações de esquerda, inclusive as que se dizem “revolucionárias” e “marxistas”, adota essa posição farsesca.
O PCO, desde o início da operação militar desencadeada pelo Hamas, fez questão de não deixar margem a dúvida nessa questão política fundamental. Se o PCO está “1.000% com o Hamas”, isso significa que seu apoio à luta conduzida pelo Hamas é incondicional. Não se opõe condições ao Hamas para apoiá-lo. O PCO não exige que o Hamas se converta ao marxismo para apoiá-lo. O PCO não exige que o Hamas abandone sua ideologia religiosa retrógrada para apoiá-lo. O PCO não exige que o Hamas adote outros métodos de luta, diferentes dos que têm utilizado nos combates em curso, para apoiá-lo. Opor condições ao apoio à organização que trava concretamente uma luta de vida ou morte contra o Estado fascista de Israel, uma ferramenta do imperialismo na região, é o mesmo que não apoiar a luta dos palestinos.
Qualquer um que esteja lutando de armas nas mãos contra o imperialismo tem de ser apoiado. E deve ser apoiado incondicionalmente. Essa é a posição democrática e revolucionária que condiz a um partido operário marxista.