Muitos canais nas redes sociais vêm sendo, paulatinamente, financiados ou comprados pelo imperialismo. Isso não é novidade, pois vemos o mesmo nas agências de notícias, como a Associated Press (EUA), France Press (França), Reuters (Londres), a ANSA (Itália) e outras.
Muitas redes de televisão e os principais jornais da maioria dos países compram notícias prontas dessas agências e simplesmente as traduzem. O trabalho de manter jornalistas e repórteres em diversas partes do mundo faz com que seja mais fácil e mais barato comprar notícias prontas. Ocorre, então, uma uniformização da notícia.
A globalização e a modernização dos meios de comunicação fizeram com que novas opiniões surgissem no mundo por meio da criação de agências independentes, como a rede Al-Jazeera e a RT (Russian Today). Vimos então um verdadeiro cerco ser formado contra essas agências. Durante a segunda guerra do Golfo, vimos o cerco à Al-Jazeera. Hoje, com a guerra na Ucrânia, há uma verdadeira censura às agências noticiosas russas.
Mas esse cerca não se forma apenas em torno da imprensa escrita ou televisiva. Com mais dificuldade, o imperialismo procura assediar a internet e as redes sociais. Os métodos são diversos e vão desde a proliferação de canais atrelados ao imperialismo até ao bloqueio de canais.
Há um canal de geopolítica no YouTube chamado “Professor HOC”, que deve ter por volta de 4 anos e já conta com mais de um milhão de seguidores. Uma busca pelo currículo do Professor mostra que se formou nos EUA, trabalhou na ONU, é professor da ESPM e deputado pelo Partido Novo. Ou seja, liberal. Percebemos que as posições desse Professor é sempre pró-EUA; faz análises econômicas do ponto de vista liberal e acredita que a China não tem condições de superar a hegemonia dos Estados Unidos.
Sobre a questão israelo-palestina, mostra-se defensor intransigente de Israel. No dia 12 de outubro, ontem, publicou um vídeo denominado “5 mitos sobre o conflito Israel x Hamas”. É sobre esses “mitos” que vamos falar hoje.
O primeiro mito, segundo ele, é o de que Gaza seja a maior prisão em céu aberto do mundo. De acordo com ele, isso é um mito, pois, acreditem, existem duas maneiras de sair de Gaza.
Ele está certo, existem duas formas para se sair de Gaza. O que ele ocultou é que existem apenas duas formas de se sair de Gaza. Uma delas é pela passagem de Rafá, ao Sul, e outra pela de Beit Hannon, ao Norte. São pontos de fronteira com um fortíssimo sistema de segurança, os quais exigem permissão especial das autoridades israelenses. Os palestinos que vivem na Faixa de Gaza não podem deixar o local por mar, ainda que seja banhado por um; não podem deixar o país por ar, pois o único aeroporto do local foi destruído por Israel. Ademais, tudo o que entra ou sai do país tem de ser averiguado pela segurança israelense. E o fornecimento de água e luz elétrica é feito por Israel. Ou seja, toda a vida dentro da Faixa de Gaza é controlada por israel. Se isso não é uma prisão, o termo precisa ser redefinido.
O segundo mito, segundo o mesmo Professor, é o seguinte: “O terrorismo do Hamas é um produto da violência de Israel”. Logo de cara, percebemos o proselitismo desse Professor. Em primeiro lugar, temos de definir os termos. Terrorismo é o nome dado à prática, quase sempre defensiva, de um grupo contra forças opressoras. Quando as forças opressoras agem da mesma forma que os “terroristas”, o nome disso passa a ser aplicação do estado de direito. Nós definimos esse grupo não como um grupo terrorista, mas como um grupo guerrilheiro. Por outro lado, não há justificativa alguma para se duvidar de que a ação do Hamas não seja uma resposta à violência de Israel. Basta lembrar que o primeiro grupo terrorista que surgiu em Israel foi criado por um general polonês chamado Menachem Begin, sionista, que atuava em Israel contra os árabes. O Hamas age com violência por ser um produto da violência.
Em meio ao exercício que o professor faz para manipular a realidade em favor de suas ideias, aparece o raciocínio, muito repetido pela imprensa, de que a ação recente do Hamas tem relação com as negociações que vinham sendo travadas entre Arábia Saudita e Israel. A ação do Hamas teve como único objetivo tumultuar essas negociações. Assim, o Hamas seria um grupo carniceiro que agiu na esperança de que Israel promovesse um banho de sangue em Gaza para colocar os árabes contra Israel. Um fato bem preciso desmente essa suspeita (que o Professor toma como fato): o Hamas vem se armando há algum tempo e aproveitou-se do desvio de armamento ocidental feito pelo governo corrupto da Ucrânia para aumentar seu estoque de munições. O ataque do Hamas a Israel estava planejado muito antes das negociações com a Arábia terem vindo à luz.
O terceiro “mito” diz respeito à identidade do Hamas com a Palestina. A ideia é demonstrar que o Hamas não se importa com o destino do povo palestino. Besteira. Não convence ninguém. E vem o mesmo argumento utilizado pela direita para desacreditar as greves, ou seja, o de que o Hamas venceu as eleições em Gaza de maneira apertada. Não. O Hamas venceu as eleições em Gaza porque o povo de lá estava farto das ações centristas do Fatá.
O quarto mito é este: “Israel é o único obstáculo para a criação do Estado palestino”. Aqui, temos os argumentos mais falaciosos e, creio eu, utilizado à exaustão por aqueles que defendem Israel. O Professor menciona os acordos de Camp David, de Oslo e outros dizendo que, em todos eles, Israel aceitou as propostas colocadas na mesa de negociação e que foram os palestinos que não aceitaram. De fato. Quem tiver a curiosidade de ler esses acordos verá que não poderiam ser aceitos mesmo. Para não nos alongarmos nessa discussão, basta dizer que mais de 750 mil palestinos perderam suas casas e foram obrigados a se mudar. O que ocorre no território da Palestina é uma obliteração. Israel não descansará enquanto não tiver o domínio total daquilo que acredita ser seu território histórico.
Mas, de fato, Israel não é o único obstáculo. O obstáculo maior são os Estados Unidos e o imperialismo de maneira geral.
O quinto mito: “Israel não quer a paz”. A discussão aqui deveria ser outra e não aquela feita pelo professor, que procura demonstrar que são os palestinos e os “grupos terroristas” que não querem. A extrema-direita de Israel é quem não quer a paz. Governos mais moderados procuraram firmar acordos, ainda que desvantajosos, com os palestinos. Mas nunca abriram mão da violência, do controle de fronteiras, do controle indireto dos territórios palestinos. Quem pode aceitar uma paz forçada nesses termos. Mesmo que os palestinos aceitassem esses termos, a vida que levariam dali em diante faria com que cedo se revoltassem.
O verdadeiro caminho para a paz é a revolta do povo palestino. Os palestinos têm apenas duas escolhas pela frente: a revolta ou o martírio.