Análise publicada no News Arab pela repórter Ylenia Gostoli avalia como a tomada da região do Alto Carabaque pelo Azerbaijão em setembro afeta as relações entre os países na região do Cáucaso, que liga a Europa à Ásia. A matéria intitulada “Como a queda do Alto Carabaque mudou o equilíbrio de poder no Cáucaso” foi publicada no último 10 de outubro.
O Alto Carabaque é uma região dentro do território do Azerbaijão, mas que era administrado na prática pela República de Artsaque desde o fim da Guerra do Alto Carabaque em 1994. O governo não reconhecido internacionalmente também controlava o corredor de Lachin, que liga a região de população majoritariamente armênia ao país vizinho, justamente a Armênia. O caminho também liga o Azerbaijão à república autônoma do Naquichevão, que fica separada do restante do país por um pedaço de território armênio.
A ocupação promovida pelo Azerbaijão em setembro provocou um deslocamento de mais de 100 mil pessoas de etnia armênia, que se dirigiram à cidade fronteiriça de Goris, que contava com população de apenas 20 mil pessoas antes dessa migração forçada. A escalada atual, no entanto, começou ainda em 2020, quando os azerbaidjanos recuperaram 80% dos territórios perdidos na guerra no início dos anos 1990, incluindo um terço do Alto Carabaque. No final de 2022, fecharam o corredor de Lachin, provocando uma crise humanitária na região.
O enredo padrão dos embargos, normalmente impostos mundo afora pelo imperialismo: começa a faltar comida, alimentos e tudo mais. A migração para Goris foi acentuada a partir desse bloqueio. A repórter destaca que apesar das declarações oficiais do Azerbaijão falarem em garantia dos direitos dos armênios, estes acusam o governo azerbaidjano de “limpeza étnica”.
Ambos os países faziam parte da União Soviética e, não por acaso, a Guerra do Alto Carabaque explodiu no ocaso da URSS. O episódio da queda do Alto Carabaque contribuiu para afastar ainda mais o governo armênio da Rússia, pois como tradicional aliado russo na região existia uma expectativa de que a Rússia protegesse os armênios.
Porém, Ylenia Gostoli destaca que Nikol Pashinyan, atual primeiro-ministro armênio, já vinha esfriando as relações com a Rússia desde 2018. Sua chegada ao poder foi precedida por liderar um movimento de protesto contra a burguesia nacional, que mantém relações importantes com os russos. Vale lembrar que nem a própria Armênia reconhecia a República de Artsaque no Alto Carabaque. Porém, o episódio está sendo explorado pelo governo para justificar um maior afastamento em relação à Rússia.
Uma das medidas recentes do governo armênio foi a ratificação do Estatuto de Roma, reconhecendo o Tribunal Penal Internacional. Pashinyan chegou a declarar que não se tratava de uma ação contra a Rússia ou a Organização do tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar liderada pela Rússia. No entanto, com a recente condenação do presidente russo no TPI, numa ação de apoio ao governo nazista da Ucrânia, a Armênia seria obrigada a prender Putin caso ele entre em território armênio.
Enquanto flerta com os países imperialistas, o governo armênio avança com cuidado nesse sentido, pois as relações econômicas com a Rússia são vitais para o país. Um exemplo importante é o fato de que 80% do gás importado pela Armênia vem dos russos. A repórter analisa que o governo tenta minimizar suas perdas políticas com as recentes derrotas frente ao Azerbaijão jogando a culpa na Rússia. Uma manobra complicada e que precisa ser acompanhada para que se possa entender seus possíveis desdobramentos.